quinta-feira, 17 de maio de 2012

Resíduos de podas e limpeza urbana, artigo de Roberto Naime


[EcoDebate] Todos os administradores municipais e pessoal que trabalha em gestão ambiental incluindo a gestão de resíduos vegetais, conhecida como resíduos de podas conhece bem o desafio de harmonizar as redes elétricas suspensas com a arborização e vegetação que conferem características urbanas e antrópicas aos espaços físicos.
Os resíduos provenientes de podas preventivas ou corretivas atingem grandes volumes em todas as áreas urbanas e são constituídos de biomassa extremamente rica em carbono e nitrogênio, dentre outros elementos e não pode ser desperdiçada com o envio para onerosos aterros sanitários. São classificados na classe IIA da NBR 10.004/2004.
A lei 12.305 da política nacional de resíduos sólidos estabelece a diretriz de que num horizonte mediano de tempo, todos os resíduos devem ser valorados e utilizados de acordo com as suas características, finalizando com a concepção que todo o resíduo que não possa ser utilizado tenha um último tratamento para recuperação energética. Pelo que se depreende, este diploma legal em sua exgese aponta para a direção de não mais criar passivos ambientais intangíveis através de aterramento sanitário.
A compostagem é a solução mais indicada e mais adequada para este tipo de resíduo urbano devido a sua composição. Este processo é ainda mais valorizado na medida em que se possa consorciar a utilização do lodo proveniente das estações de tratamento de água (ETAs) e da série de estações de tratamento de esgotos (ETEs) que se encontram em implantação para solucionar o grave problema do saneamento básico.
Compostagem em pilhas revolvidas e estáticas ou através de qualquer outro método de aeração no tratamento das podas de árvores, com o acompanhamento da maturação do composto, através do monitoramento físico (temperatura, cor e odor), químico (pH, C/N, metais pesados e elementos nutrientes) e biológico (germinação de sementes e presença de patôgenos), ainda consorciada com lodos enriquecidos em carbono são procedimentos muito adequados.
Estes procedimentos são passíveis da elaboração de projetos de mecanismos de desenvolvimento limpo e certificados de redução de emissões de carbono. Existem atualmente 62 projetos deste tipo do mundo (CORTEZ et al, 2008), e outros 8 já aceitos, sendo destes 5 na Malásia, 1 na Colômbia, 1 na China e 1 em Bangladesh.
Dados de Cortez et al (2008) indicam que a maioria dos municípios ainda descarta este resíduo nobre pela sua composição, em aterros sanitários. Demore o quanto for, não é possível planejar um sistema integrado de gestão de resíduos sólidos, que preveja o envio deste tipo de resíduo para aterro sanitário. Primeiro porque até é contra a legislação vigente, segundo por que se trata de uma estupidez descomunal. E ainda poderíamos citar que o desperdício aumenta na medida em que não é considerado o consorciamento com o lodo, que acelera e enriquece muito o processo.
E a quantidade de lodos de ETAs e ETEs é muito grande para que não se planeje soluções sistêmicas e se continue apostando em soluções casuísticas ou espontaneístas para a enorme quantidade de lodo.
Quando dispostos em aterros, os resíduos de poda, pela sua composição, produzem grande quantidade de metano e gás carbônico que sendo lançado na atmosfera constitui grande quantidade de gases de efeito estufa (GEE). O metano particularmente tem potencial de aquecimento muito mais elevado que o gás carbônico para a atmosfera. Nos aterros também ocorre a contaminação da água por chorume de decomposição da matéria orgânica.
A disposição direta dos resíduos de poda como fertilizante no campo não causa impactos ambientais negativos, mas é muito pouco realizada pois demanda custos, infra-estrutura e planejamento. Ocorre a formação de serrapilheiras que é a principal fonte de nutrientes destes ambientes.
A queima descontrolada destes materiais provenientes de poda, gera impactos negativos sobre a atmosfera, podendo liberar gases tóxicos e carcinogênicos (DIAS, 1999).
A técnica de compostagem é a que causa menores impactos ambientais e contribui significativamente para a redução do volume inicial dos resíduos produzidos. Comumente é usada para se obter rapidamente em condições adequadas a estabilização da matéria orgânica. A palavra composto, derivada do vocábulo inglês “compost” é usada para designar fertilizantes de origem orgânica.
É um processo utilizados desde a antiguidade a adição de matéria orgânica na agricultura. Este processo é verificado constantemente num ambiente natural, os resíduos são gerados pela queda espontânea das folhagens e são incorporados ao solo através da decomposição natural e retornam aos vegetais sob forma de nutrientes.
Para que se estabeleça um processo de compensação eficiente, a taxa ótima inicial de carbono e nitrogênio C/N no material a ser compostado está ao redor de 25/30, a taxa C/N no composto final obtido é de 10/20.
A compostagem realizada em pequena e grande escala é especialmente indicada para resíduos sólidos compostos de celulose e lignina, tais como resíduos de jardinagem e poda, e a digestão aeróbica é particularmente o processo mais apropriado. Particularmente consorciado aos lodos de ETAs e ETEs que favorecem o aumento da relação C/N é muito apropriada.
As prefeituras e comunidades podem se beneficiar deste composto não mais precisando adquirir adubos petroquímicos ou de outras naturezas para manutenção de suas áreas verdes (praças e jardins).
CORTEZ, C. L.; COELHO, S. T.; GRISOLI, R. e GAVIOLI, F. Compostagem de resíduos de poda urbana. Centro Nacional de Referência em Biomassa (CENBIO). Instituto de Eletrotécnica e Energia. Universidade de São Paulo, Nota Técnica IX, 17p, 2008
DIAS, M. C. O. et ali. Manual de Impactos Ambientais: orientações básicas sobre atividades produtivas. Fortaleza. Banco do Nordeste, 158p. 1999
KIEHL, E. J. Manual de compostagem. Maturação e qualidade do composto. Piracicaba., p 40-41. 1998
Dr. Roberto Naime, Colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 17/05/2012

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