segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Projetos agroextrativistas na linha de frente da agricultura familiar, por Mayron Régis

artigo 

Projetos agroextrativistas na linha de frente da agricultura familiar – Baixo Parnaiba maranhense – Urbano Santos, Santa Quiteria, Buriti, São Bernardo e Barreirinhas.
[Territórios Livres do Baixo Parnaíba] O Cerrado e as comunidades agroextrativistas desfazem, de pouquinho em pouquinho, a pretensão de que basta desenhar uma figura geométrica sobre um papel e tem-se uma propriedade na Chapada.
Antes que as monoculturas se achegassem ao Cerrado, as comunidades intuíam os seus limites a partir da utilização dos recursos naturais na Chapada e nos Baixões. Com a chegada das monoculturas da soja e do eucalipto, esses anos, em que as comunidades fruíam dos recursos naturais, viraram um mero assovio. A pessoa assovia para se apegar a ou para se desapegar de algo? O assovio se desapega das intenções. O canto difere do assovio porque requer uma elabora ção consistente e porque é eivado de intenções conscientes e inconscientes.
A Francisca, presidente da associação do povoado São Raimundo, município de Urbano Santos, desceu cedo para Anajás do Garces, município de Barreirinhas, naquela manhã de junho de 2010. Ela atendia um pedido do Fórum Carajás. Algumas comunidades do interior de Barreirinhas, situadas ao longo da bacia do rio Jacu, fizeram as empresas terceirizadas da Margusa recuarem em seus propósitos de desmatarem parte da Chapada localizada no município de Barreirinhas. Os moradores do Café sem Troco, município de Urbano Santos, aceitaram os desmatamentos e os plantios de eucalipto que beiram suas casas. As intenções das empresas de reflorestamento se delineavam a cada compra de terra e a cada desmatamento da Chapada.
As empresas se sentiam como a linha de frente que desobstruiria todo e qualquer obstáculo aos seus projetos de comportarem milhares de hectares dentro de si. Em muitos casos, as co munidades do Baixo Parnaiba maranhense sempre deram exemplos de insubordinação a esse tipo de projetos e o caso das comunidades do rio Jacu reiterou essa impressão de desobediência ambiental. O Edvan Garcês, morador do Anajás, convocou um grande seminário que se realizaria em frente a sua casa. Assim como a Francisca de São Raimundo, lideranças de comunidades, de várias partes de Barreirinhas, precipitaram-se para Anajás. Elas evocaram suas lutas contra a grilagem de terras. Diferente dos demais, a Francisca cantou duas músicas sobre meio ambiente.
Como não se maravilhar com aquele canto? A linha de frente mudara de lado ao sabor da voz de Francisca do povoado São Raimundo.
* Mayron Régis, Colaborador do EcoDebate, é Jornalista e Assessor do Fórum Carajás e atua no Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Fórum Carajás, SMDH, CCN e FDBPM).
** Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado no blogue Territórios Livres do Baixo Parnaíba.
EcoDebate, 07/01/2013

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