sexta-feira, 19 de abril de 2013

Especialistas apontam vantagens do uso de energia eólica

eólica

O Brasil ainda precisa superar uma “visão turva” sobre a energia eólica, que coloca em desconfiança a geração que provém dos ventos, sob o argumento de que esse recurso seria “sazonal e intermitente”. A crítica foi feita pela presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeólica), Élbia Melo, em audiência realizada pela Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI), nesta quarta-feira (17).
Como observou a expositora, toda fonte que vem da natureza é, por definição, sazonal e intermitente. Observou que o mesmo fator está presente na produção de energia hidráulica, especialmente as usinas construídas a “fio d’água”, sem reservatórios. No caso da energia eólica, explicou ainda que é perfeitamente possível conter riscos por meio do aumento da quantidade de geradores montados.
- Temos que acabar com esse mito da confiabilidade, algo que ainda não está claro inclusive para os nossos técnicos e para os formuladores de políticas públicas – afirmou.
Participou ainda do debate, que foi dirigido pelo presidente da CI, senador Fernando Collor (PTB-AL), o engenheiro Adão Linhares Muniz, diretor da RM Soluções em Infraestrutura. Assim como Élbia Melo, ele defendeu a diversificação da matriz energética do país, destacando que o importante é harmonizar as diversas fontes disponíveis, para garantir ao país um sistema forte e coordenado.
Para os expositores, existe ampla complementaridade entre a geração hidráulica e eólica, inclusive por conta de aspectos climáticos. Explicaram que a ocorrência de ventos sempre é mais intensa nos períodos de estiagem, exatamente quando a escassez de água pode afetar a produção hidroelétrica.
Entre outros benefícios da energia eólica, eles destacaram ainda os ganhos de renda nas localidades onde são implantados os parques. De acordo com Élbia Melo, para cada megawatt instalado são gerados 15 empregos. Ela informou que os 12 mil postos de trabalho atuais, em todo o país, podem subir para 280 mil até 2020. Do ponto de vista ambiental, lembrou também que a energia eólica não é emissora de gases de efeito estufa.
Capacidade instalada
No momento, a capacidade instalada em energia eólica é de apenas 2,69 mil megawatts, o equivalente a 2% da matriz energética. A projeção é de que, até 2017, serão 8,8 mil megawatts, chegando a 5% da matriz. Os convidados disseram que esse rápido crescimento deve-se a projetos de novos parques eólicos iniciados em 2009, quando se comprovou a produtividade dessa modalidade de energia e o governo federal realizou leilão para contratar oferta.
Para Adão Muniz, a trajetória de crescimento do setor pode ser ainda mais forte, mas ainda há contenção por parte do governo. Ele enxerga uma preocupação, a ser ver como uma espécie de “freio”, em relação aos limites de contratação de garantia de compra. Disse que há uma visão diferente em outros países, como na Espanha e na Dinamarca, onde a geração de energia eólica está sendo preponderante.
- Não pode ter freio. Ao contrário, tem que ter um motor empurrando, pois se trata de energia com enorme potencial – cobrou.
Élbia Melo concordou que o momento é de avançar para a consolidação do setor no país. Além de investimentos na expansão de novos parques produtivos, ele considera indispensável desenvolver toda a cadeia produtiva, com pesquisa e desenvolvimento de equipamentos nacionais adequados às características dos ventos do país. Outra questão é a resolver diz respeito à capacitação de mão de obra, de técnicos a engenheiros.
Paradoxo ambiental
Adão Muniz apontou ainda a necessidade de solução para a questão dos licenciamentos ambientais. Disse ser “paradoxal” haver dificuldades de licenciamento para a produção de energia limpa. Também cobrou “sincronia” entre a implantação dos parques e das linhas de transmissão, problema que no momento impede o aproveitamento da energia produzida em parque situado na Bahia. Ao senador Sérgio Souza (PMDB-PR), ele disse discordar da solução estudada pelo governo para que os parques fiquem restritos a regiões onde já existam linhas.
- A localização deve estar onde tenha vento, de preferência o melhor vento. Nós é que temos de buscar a energia onde esteja a fonte, assim como fazemos com a energia elétrica – opinou.
O senador Lobão Filho (PMDB-MA) elogiou a “coragem” do Ministério das Minas e Energia em promover o leilão de 2009 para contratar energia eólica, quando os preços ainda estavam elevados, acima de R$ 250 por megawatt. Disse que a iniciativa favoreceu investimentos e ganhos de produtividade. Agora, em seu estado, já seria possível contratar energia eólica por R$ 90 por megawatts. Depois, cobrou a mesma atitude em relação à contratação de garantia para oferta de energia solar.
- Há certa resistência à energia solar, que continua caríssima, mas no meu entendimento iria haver o mesmo sucesso – destacou.
O senador Walter Pinheiro (PT-BA) mostrou satisfação com a evolução do setor, mesmo num período de menor crescimento econômico. Em relação às questões de licenciamento ambiental, salientou a necessidade de soluções mais rápidas para que os projetos sejam desembaraçados e executados.
- Não quero linha passando em cima de caverna. Mas se há caverna, tem que se encontrar a solução, na velocidade do vento ou mesmo da luz, que é muito melhor – disse.
Com participação de telespectadores, que enviaram perguntas à CI, a audiência é parte do programa de debates “Investimento e gestão: desatando o nó logístico do país”, proposto pelo presidente da comissão. Nesta quarta, houve mais um painel dedicado ao exame de energias alternativas, dentro do ciclo temático “Energia e Desenvolvimento”.
Matéria da Agência Senado, publicada pelo EcoDebate, 19/04/2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Talvez você perdeu estas postagens