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(Por Elvis Marques – CPT | Imagens: Joka Madruga – Terra Sem Males) |
Equipe da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço Brasil) e voluntários e voluntárias montaram estúdio de rádio na Sala de Comunicação do Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), realizado no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília (DF). São cerca de 100 pessoas entrevistas por dia.
O professor e membro do SindiPetróleo José Renato chega, senta ao lado de Eloidemar Guilherme, radialista desde 2003, e diz que quer falar na
Rádio FAMA. O comunicador responde logo: “Você tem 10 minutos. Qual é o assunto?”. O educador fala: “Pode ser sobre as privatizações e os impactos sobre as águas”. “Você falará às 13h30, pode ser?”, pergunta Eloidemar, ou simplesmente Eloi. Pronto. Entrevista agendada. O sindicalista terá, entretanto, que esperar um pouco, pois na sua frente há uma fila com muitas pessoas que também aguardam para tratar de diversos assuntos. “Nunca vi uma rádio onde o povo faz fila para falar”, afirma Eloi.
Antes de trabalhar com rádio, Eloidemar era agricultor. Há 14 anos, entretanto, ele mergulhou de cabeça neste mundo da comunicação comunitária. “E eu estou com rádio no ar, através de internet, desde o dia 15 de janeiro de 2008, e em 2009 entramos em FM com outorga do Ministério das Comunicações”, conta. Ele, que se considera autodidata, não fez nenhum curso na área. “Tudo que a gente faz aprendeu por conta”, atesta.
Para noticiar o FAMA pelo Brasil afora, cinco pessoas se juntaram a Eloi, coordenador de comunicação da Abraço no Rio Grande do Sul, e a Wagner Souto, coordenador da Abraço Brasil, que aqui no evento está responsável pela produção das pautas. Seu parceiro ajuda na assistência técnica. Integram essa equipe Benedito Prado, da Bahia, Jorge André, Antônia Salgado, Viviane Mena Barreto, ambos do Pará, e Vani Souza, de Pernambuco. São essas as pessoas responsáveis por dar voz a cerca de 100 pessoas por dia. “É objetivo da Abraço dar espaço para que as pessoas expressem o que elas querem. Isso é rádio comunitária. É uma comunidade falar, e não a rádio. Dar a voz para o povo”, explica Eloi.
A Rádio FAMA está no ar desde segunda-feira, 19, entre as 09h30 e 20 horas. “Aqui nós trazemos professores de universidade, lideranças, agricultores, quilombolas, indígenas, que fizeram, inclusive, uma apresentação de dança e música”, relata Eloi. Para a roda de conversa acontecer, os/as radialistas têm o trabalho de mapear assuntos e histórias no evento, que conta com um público de cerca de 7 mil pessoas. “Mas nós também deixamos aberto para as pessoas expressarem aquilo que elas querem dizer. Chega muita gente aqui dizendo: ‘Ah, eu quero falar’. Nós tivemos um caso hoje de manhã, por exemplo, em que duas pessoas queriam denunciar que dentro do fórum está sendo vendida Coca-Cola. Eu, particularmente, acho isso um absurdo, pois estamos aqui denunciando a empresa sobre a questão da água”, analisa.
Representante da Cáritas Regional Maranhão, Maria da Paz (foto abaixo) aguarda sua vez para falar na Rádio FAMA. O assunto? Conjuntura política brasileira. A sorte é que nessa rádio ela tem um bom tempo para analisar esse longo tema. “A situação, com esse governo que está aí [Michel Temer, MDB], está insustentável”, afirma. “Não se pode esperar nada dele. É um governo golpista. Precisamos unir as forças e as lutas, fazer um trabalho de base bem feito, pois senão não temos força para lutar. Não podemos deixar tudo nas mãos desses governantes, pois eles querem é destruir o país”, acrescenta a mulher, que reside em Imperatriz.
Maria também vai aproveitar o espaço no veículo de comunicação para “parabenizar as nossas colegas trabalhadoras, mulheres, o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], e demais movimentos sociais, camponeses e agricultores, que ontem [dia 20] fecharam a estrada do arroz, lá em Imperatriz, que fica em frente à Suzano, que é uma empresa que está utilizando e contaminando a água do nosso rio”. Maria, que tem o hábito de ouvir rádio, afirma que não teria essa mesmo abertura para expressar sua opinião em outros meios de comunicação. “Eu estava ali e o rapaz falou que eu podia falar na rádio. Então, corri para cá. O espaço é muito bom e oportuno, pois quem quiser vir pode expressar sua dignidade”, analisa.
Eloi elenca alguns números do alcance da Rádio FAMA: Nesta terça-feira, 23 emissoras de rádio do Brasil transmitiram a programação do fórum simultaneamente. Também o sistema de monitoramento registrou audiência em países como Vietnã, Estados Unidos, Bolívia, e França. “E vale ressaltar que temos cerca de 500 emissoras de rádio que estão, em algum momento, buscando nosso conteúdo sobre o fórum para reproduzirem”, ressalta o radialista. Além disso, o conteúdo das entrevistas é divulgado via WhatsApp, Facebook, Twitter e sites. (Confira os endereços abaixo)
Isso tudo mostra, conforme Wagner Souto, que há anos trabalha com rádio, que a democratização da comunicação é uma pauta fundamental. “É uma das maiores barreiras que a radiodifusão comunitária tem. É uma série de coisas que tornam a rádio comunitária ainda perseguida, e que tem tudo a ver com a questão da democratização. Quanto mais restringem a radiodifusão comunitária, mais proíbem que as pessoas tenham espaço e participação nos meios de comunicação. Então, para nós da Abraço, isso é prioritário. Isso que nós viemos fazer aqui no FAMA é um contraponto às grandes empresas de comunicação que detém a radiodifusão nesse país. E o nosso contraponto é estar aqui furando esse bloqueio, aglutinando rádios, gravando materiais, as vezes até madrugando para isso, para poder produzir um material bacana e mandar para diversas emissoras do país”, analisa.
Eloi Guilherme termina dizendo que: “A Abraço, ao nível de Brasil, está à disposição dos movimentos sociais que convidarem para fazer esse trabalho de rádio. Queremos ser parte desse debate e da organização. Nós nos doamos para colaborar”.
Todo o conteúdo gravado será disponibilizado em breve no portal da Abraço.
Acompanhe a Rádio FAMA e a Abraço:
Abraço Brasil
Abraço Rio Grande do Sul
Fonte:
CPT