terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dilma e a fé cristã

FREI BETTO

Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará
uma única linha contrária aos princípios do Evangelho e da fé cristã

Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major
Lopes, em Belo Horizonte.

Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência.
Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo.
Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no
cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho.
Nada tinha de "marxista ateia".

Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar,
com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao
pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.

Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois
anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso
assegurar que não passa de campanha difamatória -diria, terrorista-
acusar Dilma Rousseff de "abortista" ou contrária aos princípios
evangélicos.

Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser
bispo, ninguém é dono da verdade.
Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo.
Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica.
Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí
propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem
comprovar, por suas atitudes, que "a árvore se conhece pelos frutos",
como acentua o Evangelho.

É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na
dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula
testemunham a fé que abraçam.

Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito,
tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e
sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto...
Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos
miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos
sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado
internacionalmente.

Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de
ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma
pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se
encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos
princípios do Evangelho.

Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não
respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando
o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos.
Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus
semelhantes.

A resposta de Jesus surpreendeu: "Eu tive fome e me destes de comer;
tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes;
oprimido, e me libertastes..." (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no
lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem,
por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das
opressões, procura assegurar a todos vida digna e feliz.
Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população
brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se
eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.

FREI BETTO, frade dominicano, é assessor de movimentos sociais e
escritor, autor de "Um homem chamado Jesus" (Rocco), entre outros
livros. Foi assessor especial da Presidência da República (2003-2004,
governo Lula).

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