sábado, 27 de dezembro de 2014

Xixi e Agricultura, artigo de Efraim Rodrigues

horta
[EcoDebate] Nesta quinta feira passei uma tarde agradável em companhia de outras pessoas que também desejam que o mundo use melhor seus resíduos para produzir comida. Foi uma tarde inteira conversando sobre como estimular a produção de composto em casa, no trabalho e onde mais for possível.
Da UFSCAR de Araras continuei a viagem para São Paulo pensando em tantos nutrientes causando problemas na água e que poderiam ser melhor aproveitados. Fiz umas contas com nosso xixi.
Ninguém gosta do cheiro, mas xixi contém muito Nitrogênio, que é um nutriente que as plantas precisam em grande quantidade para produzir proteínas.
Desde a Segunda Guerra que usamos Nitrogênio produzido em grandes indústrias, e elas consomem muita energia para retirá-lo do ar. Poluímos no passado e no presente para produzir a uréia com que a agricultura repõe o Nitrogênio retirado.
Há mais de 200 milhões de pessoas fazendo xixi todo dia em nosso país, o que soma 470 mil toneladas de Nitrogênio por ano. O que se pode fazer com isto?
Há pouco mais de um bilhão de pés de café em nosso País. Sua manutenção consome algo como 20.000 toneladas de N. Produzimos uns 18 milhões de toneladas de laranja, que consomem algo como 35.000 toneladas de Nitrogênio para sua reposição.
A conclusão é que daria para manter a citricultura e a cafeicultura com um décimo do xixi deste país.
Não gostaria de ver pessoas carregando seus excrementos pelas ruas como faziam os escravos coloniais (conhecidos como tigres por causa dos escorridos nas costas) e nem precisamos. Há inúmeros modos de tratar nossos excrementos além da via tradicional, e para que eles se tornem realidade precisamos enxergar acima e adiante de nosso quadrado.
O agricultor paga para colocar Nitrogênio em seu solo. As pessoas pagam para retirar o Nitrogênio de casa. As cidades pagam para retirar o Nitrogênio da água, e falta água para todos.
Enquanto uns puxam a corda para um lado, outros puxam para outro, e não saímos do lugar.
Aproveitar melhor nossos nutrientes não é um sonho idealista, é somente uma proposta para tornar o mundo menos insano.
Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, JICA e Vale, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores e Ecologia da Restauração, finalista do 56º Prêmio Jabuti 2014. Nos fins de semana ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico.
Publicado no Portal EcoDebate, 22/12/2014

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