[EcoDebate] BORSÓI et. al. (2014) ressalta que os agrotóxicos ganharam excesso de importância e foram negligenciadas as técnicas de aplicação empregadas (CUNHA, 2008) e o impacto dos agrotóxicos na saúde direta dos agricultores, da população ao consumir os alimentos com resíduos de agrotóxicos devido à contaminação de cereais, frutas e hortaliças e da contaminação do meio ambiente, principalmente solo, água e ar (GALT, 2008; FONTENELE et al., 2010, PEDLOWSKI et al, 2012 e PINOTTI e SANTOS, 2013).
Assim, temos as perdas por volatilização, que representam o resultado global de todos os processos físico-químicos pelo qual um composto é transferido da solução do solo e/ou da superfície das plantas para a atmosfera.
Uma vez na atmosfera, o agrotóxico poderá ser transportado a grandes distâncias, e ser novamente depositado à superfície por meio do vento ou deposição seca e por deposição úmida na chuva, orvalho, neve e neblina (GAVRILESCU, 2005). Podendo esse agrotóxico, na fase de vapor, contaminar o ambiente e atingir organismos não alvo.
BORSÓI et. al. (2014) afirma que no meio ambiente, os agrotóxicos podem afetar e contaminar a biota, a qualidade da água e do ar, a produtividade e a qualidade final dos alimentos de origem animal e vegetal, podendo torná-los impróprios para o consumo (SCHREIBER et al., 2013).
As propriedades físico-químicas dos agrotóxicos, bem como a quantidade e a frequência de uso, métodos de aplicação, características bióticas e abióticas do ambiente e as condições meteorológicas determinarão qual será o destino dos agrotóxicos no ambiente.
Novamente está se discutindo direção e velocidade dos ventos, áreas de isolamento ou de refúgio. Não tem como fugir desta realidade. Quando a gente se pega discutindo os fatores científicos que controlam o vento, isto inspira uma sensação de regressão aos nossos ancestrais, numa sociedade ultra-tecnológica.
Essas condições variam de acordo como produto e com os fatores relacionados à sua aplicação, por isso não podemos prever um modelo para o comportamento destes agrotóxicos nem sua interação com o ambiente. Por mais que se atribua ao vento caráter científico.
Entretanto, alguns processos são conhecidos e descritos para diferentes produtos, tais como retenção, transformação e transporte. Esses processos podem predizer como o produto se comportará interagindo com as partículas do solo e com outros componentes, com sua velocidade de evaporação, solubilidade em água e bioacumulação (RIBAS e MATSUMURA, 2009).
O aumento considerável no volume de agrotóxicos aplicados tem trazido uma série de transtornos e modificações para o ambiente, tanto pela contaminação das comunidades de seres vivos que o compõe, quanto pela sua acumulação nos segmentos bióticos e abióticos do ecossistema (biota, água, ar, solo, etc.) (FERREIRA et al., 2006).
RIBEIRO et al. (2007) relatam que, mesmo em concentrações baixas, são encontrados resíduos de agrotóxicos em amostras de água subterrânea em países como Grã-Bretanha, Alemanha, Estados Unidos, Grécia, Bulgária, Espanha, Portugal e Brasil.
No solo, a preocupação com a contaminação é referente à interferência desses princípios ativos em processos biológicos responsáveis pela oferta de nutrientes. São consideráveis as alterações sofridas na degradação da matéria orgânica, através da inativação e morte de microrganismos e invertebrados que se desenvolvem no solo.
A ciclagem de nutrientes pode ser afetada quando, por exemplo, o princípio ativo persistente no solo interfere no desenvolvimento de bactérias fixadoras de nitrogênio, responsáveis pela disponibilização desse mineral às plantas (CARLOS et al., 2013).
Os agrotóxicos podem também se infiltrar no solo, atingindo as águas subterrâneas e ser encontrados em poços utilizados para abastecimento de água para uso doméstico ou para dessedentação de animais. A importância relativa dessas duas formas de transporte depende, em grande parte, do tipo de solo e do relevo da região (FLORES et al., 2004).
A presença de agrotóxicos em estações de tratamento de águas urbanas é principalmente devido ao seu uso não agrícola. A lista de utilizações inclui a aplicação de manutenção de gramados (campos de golfe, instalações educacionais, parques e cemitérios), no controle de vegetação industrial (instalações industriais, concessionárias de energia elétrica, rodovias, ferrovias, gasodutos), em saúde pública (redução de mosquitos, áreas de controle de roedores e áreas aquáticas) e em culturas não-agrícolas, como a silvicultura comercial e horticultura e plantas em viveiros (KÖCK-SCHULMEYER et al., 2013).
Antes do ano de 1500 a visão de mundo dominante na Europa, bem como no restante o mundo era a agricultura baseada na origem orgânica. A estrutura científica dessa visão foi devido à autoridade da igreja e da filosofia de Aristóteles.
Esta visão orgânica mudou radicalmente nos séculos XVI e XVII, uma vez que sofreu uma ruptura epistemológica que foi substituída pela noção do mundo da máquina com mudanças revolucionárias causadas pelas ideias científicas de Copérnico, Galileu, Newton e Einstein (PINOTTI e SANTOS, 2013).
Por volta de 1798, o planeta atingiu um bilhão de pessoas. Neste momento, o crescimento da população mundial estava em progressão geométrica, enquanto o crescimento de alimentos aumentou aritmeticamente, causando há muito tempo uma dívida negativa em alimentos, determinando a fome (RIBAS e MATSUMURA, 2009).
Nas últimas décadas a ação humana sobre o planeta tem sido extrema e de acelerado desenvolvimento. A Revolução Verde, que ocorreu entre os anos de 1940 a 1970, com a mecanização rural, irrigação e uso de fertilizantes e agrotóxicos, bem como a seleção de sementes mais produtivas determinou o crescimento da produção de grãos em países desenvolvidos.
Isto resultou na intensiva utilização da adubação química e de agrotóxicos.
Esse conjunto de inovações tem contribuído para modernas práticas agrícolas que garantem a produção de alimentos e cereais pelo aumento da produtividade agrícola.
Mas estas realidades não passaram nem perto de solucionar o problema da fome que depende da distribuição de riqueza.
O impacto da humanidade sobre do planeta, que começou um crescimento acelerado de dez mil anos atrás, com a descoberta da agricultura e o aumento da produção de grãos foram reguladas pela alta taxa de mortalidade em epidemias e guerras (PINOTTI e SANTOS, 2013).
Assim, após o final da II Guerra Mundial, a partir da década de 50, quando se iniciou a chamada Revolução Verde, foi possível observarem-se profundas mudanças no processo tradicional da produção agrícola, bem como nos impactos dessa atividade sobre o ambiente e a saúde humana.
Novas tecnologias, muitas delas baseadas no uso extensivo de agentes químicos, foram disponibilizadas aos agricultores aumentando a produtividade através do controle de doenças e proteção contra insetos e outras pragas (RIBAS e MATSUMURA, 2009).
O uso de agrotóxicos no Brasil, assim como o controle de sua presença no meio ambiente, é normatizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) n°430 de março de 2011 preconiza o nível máximo permitido para agrotóxicos organoclorados em recursos hídricos (BRASIL, 2011).
De acordo com GARCIA et al. (2005), a legislação brasileira para o uso e controle de agrotóxicos começou mais formalizada na década de oitenta (Lei dos Agrotóxicos do Brasil, n° 7802/89). As agências governamentais envolvidas nesse trabalho têm definido a necessidade de práticas agrícolas e ambientais para a manutenção da saúde pública.
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Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.Saiba mais em O AMBIENTALISTA