quinta-feira, 18 de maio de 2017

A coincidência macabra de Richard Parker


Richard Parker foi um oficial da Marinha Inglesa, que, a bordo do navio HMS Sandwich, esteve presente no Motim de Nore, ocorrido em 1797 na região de encontro do Rio Tamisa com o Mar do Norte. Apesar de não ter participado diretamente da rebelião, foi elogiado pela sua inteligência e acabou sendo convidado pelos amotinados para presidir os delegados da tropa.

Menos de um mês depois, Parker implantou um bloqueio onde apenas navios autorizados por ele poderiam cruzar o Nore. Percebendo que o presidente tinha se tornado autoritário e estava ameaçando a própria Marinha Inglesa, as tropas das embarcações se mostraram tensas e começaram a desertar do motim, deixando Parker isolado para ser executado a bordo do HMS Sandwich por ordem direta do rei George III.

Você deve estar se perguntando: “e daí?”

O caso de Richard Parker inspirou o autor americano Edgar Allan Poe a escrever, em 1838, A narrativa de Arthur Gordon Pym. No romance, 4 pessoas estão à deriva no navio Grampus, há vários dias sem comida ou água doce, quando, já no seu limite, um homem chamado Richard Parker sugere que um dos tripulantes seja morto para que os outros três possam se alimentar de sua carne, ou todos faleceriam de fome.

Arthur Pym chega a lutar contra Parker para tentar desfazê-lo da ideia macabra. No entanto, Augustus Bernard e Dirk Peters, os outros 2 presentes na embarcação, concordam com a ideia, cabendo a Pym, que se encontrava com a melhor sanidade mental e saúde física, confeccionar quatro palitinhos. Quem tirasse o menor seria condenado à morte.

Peters foi o primeiro a ficar livre. Em seguida, Augustus também tirou o palitinho normal, deixando a sorte para ser decidida entre Pym e Parker. Mas quis o destino que Parker fosse morto por sua própria ideia. Tirou o pedaço de madeira menor e, sem oferecer resistência, foi esfaqueado por Peters, caindo, já sem vida, no chão do navio. Seus pés, mãos, cabeça e órgãos foram lançados ao mar “em sinal de respeito”.

O engraçado, se é que é possível dizer isto, é que logo após praticarem o canibalismo, os 3 sobreviventes encontraram azeitonas, presunto e até garrafas de vinho. Tudo isso no próprio navio, que tinha até uma tartaruga viva, também encontrada após o assassinato de Parker.

Você ainda deve estar se perguntando: “e daí?”


De volta ao mundo real, em 1884, o navio inglês Mignonette afundou no Atlântico Sul. 4 homens conseguiram escapar em um bote salva-vidas. No entanto, após vários dias à deriva, sem água doce ou comida, decidiram que um deveria morrer para os outros se alimentarem de sua carne e beberem seu sangue. O escolhido? Um garoto de 17 anos. Seu nome? Richard Parker.

Edgar Allan Poe

Muitos consideram que o autor teve uma premonição. As crenças são reforçadas pelo fato de Edgar ter se especializado em estórias macabras e misteriosas, explorando a morte e o lado sombrio, como em um de seus poemas mais famosos: O corvo, onde relata o sofrimento psicológico de um cidadão assustado com uma ave que repete a todo momento as palavras “nunca mais”.

Considerado o inventor do gênero “policial”, Poe é homenageado por duas das maiores bandas da história do rock: The Beatles, sendo citado nominalmente na música I am the Walrus, e Iron Maiden, na faixa Murders in the Rue Morgue, baseada no seu conto homônimo, traduzido para o português como Os assassinatos da Rua Morgue.

Richard Parker é, também, lembrado nos cinemas. No filme: As aventuras de Pi, o tigre recebe esse nome em referência ao conto original, quando um cão, presente no navio Grampus antes do motim que deixou os 4 homens à deriva, é batizado de Tiger (tigre em inglês). O mesmo nome é atribuído ao pai de Peter Parker, o Homem-Aranha.

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