O trabalhador brasileiro começa 2012 com mais dinheiro no bolso: a partir de 1º de janeiro, o salário mínimo salta de 560 para 622 reais. Para a economia brasileira, o reajuste significa uma injeção de 47 bilhões de reais e uma arrecadação de impostos sobre o consumo de até 22,9 bilhões, segundo estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Embora o Brasil apareça nas manchetes internacionais como um país emergente formado por uma classe média em ascensão, estima-se que 48 milhões de pessoas ainda tenham seus ganhos indexados ao salário mínimo.
Desde 1979 o mínimo não tinha tanto poder de compra frente à cesta básica: o valor atual corresponde a 2,25 cestas, que é composta por 13 itens de alimentação, incluindo carne, leite, feijão, arroz e banana. "Embora o salário mínimo ainda seja insuficiente, inegavelmente houve uma melhora nesse período", comenta José Silvestre Prado de Oliveira, do Dieese.
O aumento de 14,13% no piso nacional – que, com o desconto da inflação estimada para 2011, equivale a um ganho real de 9,2% – é o segundo maior dos últimos anos. Em 2006 o acréscimo real havia sido recorde, de 13,04%.
O mínimo no Brasil e no mundo
O Dieese também calcula a quantia necessária para suprir todas as necessidades do trabalhador, incluindo moradia, alimentação, educação e transporte. Segundo estimativas atuais, esse "salário necessário" teria que ser 4,1 vezes maior do que o mínimo vigente. "Há poucos anos, o cálculo mostrava que o piso tinha que ser 6,4 vezes superior", destaca Oliveira.
Entre os vizinhos da América Latina, o Brasil paga um piso mediano. A Argentina tem o maior salário mínimo da região, de aproximadamente 996 reais. No Paraguai, na Venezuela e no Chile os valores também são mais elevados – 690, 670 e 649 reais, respectivamente. A Bolívia está no menor patamar, com 218 reais, segundo os dados da Organização Internacional do Trabalho.
Do outro lado do Atlântico, há também diferenças consideráveis na política do salário mínimo. Enquanto na Bélgica o trabalhador recebe até 1.424 euros, ou 3.444 reais, em Portugal esse valor é de 485 euros (1.173 reais).
Pobreza e salário mínimo
Ainda que a economia brasileira esteja prestes a ultrapassar a do Reino Unido e virar a sexta maior do mundo, como indicou o Centro de Pesquisa Econômica e de Negócios (CEBR, na sigla em inglês), o país ainda é marcado pelas desigualdades.
O censo de 2010 do IBGE mostrou que a maior parte das residências (28,7%) vive com um orçamento de meio a um salário mínimo por pessoa. Apenas 5,1% das residências contam com mais de cinco salários por pessoa.
Segundo a política brasileira desde 2007, o piso nacional é corrigido com base na produtividade média da economia e no índice de inflação. Essa regra acordada entre governo e sindicatos vale até 2023. "Se a economia brasileira crescer em torno de 4% e 5% nos próximos anos, o salário mínimo poderia dobrar até 2023 em valores reais", prevê o porta-voz do Dieese.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler
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