Só entre o anos de 2011 e 2012, mais de 4 mil mulheres morreram ou desapareceram no México, assegura a instituição não governamental Observatório Cidadão Nacional contra o Feminicídio. O Instituto Nacional de Estatísticas registrou 2.764 mortes de mulheres entre o ano de 2007 e o de 2012.
A maioria dos crimes contra as mulheres ocorreu no Estado De Chihuahua, na fronteira norte. O Colégio da Fronteira Norte calcula que, entre 1993 e 2013, só em Ciudad Juaréz, 1.441 mulheres foram assassinadas, enquanto que um relatório elaborado pela Promotoria Especializada em Investigação e Perseguição de Crimes Zona Norte assegura que, entre os anos de 2008 e 2013, 1.818 mulheres desapareceram em Chihuahua.
Desde que foi registrado o primeiro feminicídio na Cidade Juaréz, em 1993, tem se aventado diversas hipóteses, incluindo assassinados em série, crime organizado, indústria pornográfica e até envolvimentos em rituais satânicos e retirada de órgãos. Inclusive um ex- governador chegou a afirmar que se tratavam de “crimes passionais”. As autoridades também elaboraram um perfil das vítimas: morenas, de cabelos longos e operárias de fábricas.
Apenas em 2001, a Procuradoria Geral da República abriu uma linha de investigação, mas só resultou em detenções arbitrárias, falsas acusações, confissões sob tortura e violações nos processos dos supostos responsáveis. Novos indícios de desaparecimentos se dirigem ao tráfico de pessoas com fins de exploração sexual.
Para Ana Guezmez, representante no México da ONU Mulheres, “a violência contra as mulheres (no México) não é uma epidemia, é uma pandemia”.
Os casos da Cidade Juaréz
De acordo com o estudo “Comportamento espacial e temporal de três casos paradigmáticos da violência em Cidade Juaréz, Chihuahua, México: O feminicídio, o homicídio e o desaparecimento forçado de meninas e mulheres (1999-2013)”, realizado pelo Colégio da Fronteira Norte, os assassinatos e desaparecimentos forçados de mulheres aumentaram desde 2008 com a militarização da guerra contra o narcotráfico, ordenada dois anos antes pelo ex-presidente Felipe Calderón (2006-2012). Contudo, os casos de feminicídios não foram catalogados como crimes de gênero, mas como “danos colaterais” dos enfrentamentos entre os cartéis de droga e as forças militares.
“Em Cidade Juaréz, mulheres desaparecem e não se volta a saber mais delas, a menos que seus raptores decidam fazer aparecer seus corpos sem vida e com claras evidências de terem sido brutalmente torturadas e assassinadas, estupradas de maneira coletiva e terem partes de seu corpo arrancadas ou queimadas”, disse a organização Mulheres de Juaréz. “Esses crimes estão impunes e as mulheres desaparecidas ninguém as procura, e os assassinatos e desaparecimentos continuam sem responsável algum”.
Em novembro de 2009, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH) emitiu uma sentença obrigando ao Estado mexicano a investigar todos os casos de feminicídios ocorridos na Cidade Juaréz desde 1993.
“A Corte considera que o Estado é obrigado a combater tal situação de impunidade com todos os meios disponíveis, já que essa propicia a repetição crônica das violações de direitos humanos. A ausência de uma investigação completa e efetiva sobre os atos constituem uma fonte de sofrimento e angustia adicional para as vítimas, que têm o direito de conhecer a verdade sobre o ocorrido”, disse a sentença. “Esse direito à verdade exige a determinação da mais completa verdade histórica possível, a qual inclui a determinação dos padrões de atuação conjunta de todas as pessoas que de diversas formas participaram das tais violações”.
Quanto à decisão da CorteIDH, se refere aos assassinados de Cláudia Ivette González, Esmeralda Herrera e Laura Berenice Campos, em 2001, – que faziam parte de um grupo de jovens encontradas no chamado Campo Algodoeiro. A decisão além de investigar esses crimes, obriga o governo a criar uma base de dados estaduais e nacionais com informações de todos os casos e a emissão de protocolos especiais para a investigação de feminicídios.
Ainda que o Estado mexicano tenha cumprido parcialmente a sentença, até agora não há nenhum condenado no caso.
fonte Adital: