domingo, 22 de setembro de 2013

Faltam estudos de mercados de produtos não madeireiros – O caso da Castanha-do-brasil no Estado do Pará, artigo de João de Deus Barbosa Nascimento Júnior

castanheira
[EcoDebate] A região amazônica é uma das áreas mais ricas do globo terrestre em recursos naturais e desses recursos, a grande maioria, ainda é explorada de forma extrativista, basta citar que na pauta de exportação paraense ainda encontramos como principais produtos àqueles originários dessas atividades como minérios e madeiras em toras. Esse é dos grandes desafios de quaisquer políticas agrícolas para o Estado do Pará, ou seja, acabar de uma vez por todas com esse modelo de exploração, muito característico de quando o Brasil ainda era uma colônia portuguesa.
Dentre os produtos agrícolas que são explorados está a castanha-do-brasil, aqui conhecida como castanha-do-pará, que com o alargamento das atividades pecuárias, a pressão urbana, a busca de novas alternativas de cultivo, aumento das atividades madeireiras dentre outras, são sem dúvida, motivos para o decréscimo dessa atividade, com a consequente destruição de imensas áreas de castanhais nativos, especialmente na região Sudeste do Pará, aonde a coleta chegou a ser de cerca de 22.068 t/ano, e hoje, reduziu-se para cerca de 1,56% desse patamar, em menos de 15 anos.
Outro fato muito preocupante é que a região citada representa para o Estado em termos de importância 76,54% da quantidade coletada bruta de castanha-do-brasil, segundo dados do IBGE. Essa queda, acarreou o fechamento de diversas indústrias de beneficiamento desse produto na capital e no interior do Estado, provocando perda de empregos e alternativas de renda para milhares de pessoas, que de certa forma, sobreviviam dessa atividade, além do fechamento dos mercados nacionais e internacionais para esse produto.
Outro problema grave é sem dúvida, a precária nutrição do povo que ainda trabalha nesse segmento, primeiro porque, sendo a castanha-do-brasil uma fonte muito importante de proteína, não passa nem perto de pertencer a dieta principal dessas comunidades da floresta, por pura falta de informação das suas características organolépticas. Essa situação nós remete a busca de alternativas tecnológicas agroindustriais, acompanhadas de estudos de mercado e de comunicação para que possamos entender não só o funcionamento desse mercado como também para toda uma gama de produtos que tem como base ou matéria-prima as substâncias extraídas desse produto, como as indústrias de cosméticos, além de aceitarmos o desafio de gerar alternativas tecnológicas como farinhas mistas que aumentem o teor proteico das já conhecidas como as já bastante conhecidas como os produtos provenientes das farinhas de mandioca e de trigo.
Além do mais, se tentar criar processos ou práticas tecnológicas para obtenção de shampoos, sabonetes, utilizando-se do alto índice oleico da semente de castanha-do-brasil, que em alguns casos pode chegar a mais de 80%, encontrando parceiros industriais que não só produzam, mas também distribuam esses produtos com selos verdes.
No âmbito d a análise de mercado, nosso desafio é entender qual é o público-alvo, seu tamanho e quanto esses grupos estariam dispostos a pagar pelos produtos? Qual a cadeia produtiva desses produtos? Qual a capacidade de organização dos coletos e quais as quantidades certas, no tempo certo e com valor definido para entrega? Como esses produtos estariam posicionados quanto a concorrência? Quais os custos de coleta da matéria-prima? Quais as receitas, despesas de coleta, embalagem, estocagem, distribuição, comercialização desses produtos? Quais os pontos de equilíbrio tanto para coleta quanto ao preço unitário em relação aos custos?
Essas e outras indagações fazem parte do corolário de questões que ainda precisam ser respondidas pelos técnicos e pesquisadores que atuam na área de recursos naturais. Levando a cabo essas ações, coordenadas de maneira conjunta com todos os agentes que fazem parte da cadeia de coleta, se pode ter esperanças, que em algum momento no tempo, vamos alavancar a valorização dos produtos originários da floresta, assim, propondo a sustentabilidade econômica e social para os moradores da selva, que não quer dizer “selvagens”, cujo termo pejorativo, alguns habitantes de países do primeiro mundo, se referem, quando se dirigem aos integrantes dessas populações amazônicas.
João de Deus Barbosa Nascimento Júnior, MSc em Planejamento do Desenvolvimento, Analista A da Embrapa Amazônia Oriental, Joao.nascimento@embrapa.br
EcoDebate, 11/09/2013

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