Levantamento do Correio mostra que, das 50 cidades com nota mais baixa no Ideb, 19 figuram na lista das mais violentas entre adolescentes. Especialistas destacam a escola como protetora, mas ressaltam a necessidade de políticas agregadas. Matéria de Renata Mariz, no Correio Braziliense, socializada pelo ClippingMP. O baixo desempenho curricular não é o único problema das cidades que ficaram na lanterna do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Entre os 50 municípios com as piores notas na etapa final do ensino fundamental público (6º ao 9º ano), 19 estão no topo do ranking da violência juvenil brasileira, medido pelo Índice de Homicídios na Adolescência (IHA). Desenvolvido pela Secretaria de Direitos Humanos, esse indicador expressa, para um grupo de mil, quantos meninos e meninas, que ao completarem 12 anos, serão assassinados antes de chegarem aos 19. As informações obtidas pelo Correio a partir do cruzamento de dados do Ideb e do IHA levantam o debate sobre o papel da escola como instrumento de proteção da infância e juventude. “Claro que a escola não resolve todos os problemas, mas é um agente fundamental para questões sociais, entre elas a violência. Principalmente na adolescência, porque é nessa fase que o estudante começa a projetar sua visão para o futuro”, afirma a professora Clélia Craveiro, que atualmente dirige o setor de políticas educacionais, direitos humanos e cidadania no Ministério da Educação. Célio da Cunha, professor da Universidade de Brasília e consultor das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), chama a atenção para um papel muito maior da educação em comunidades conflagradas pela violência. “São locais mais carentes, onde há pouca estrutura para o lazer e a cultura, o que torna a escola o único mecanismo de proteção capaz de desviar o jovem de uma trajetória de vida ruim.” As cidades que aparecem nas duas listas — 50 piores notas no Ideb e 50 municípios mais violentos para a adolescência — ficam no Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. Predominam os estados do Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia. O que apresentou a situação mais preocupante, porém, foi Maceió. É a pior nota do Ideb, 2,4, numa escala de zero a 10, e o terceiro maior IHA do país, 7,29 — índice alarmante diante do parâmetro de referência da taxa, que deve ser perto de zero, sempre inferior a 1. Isso significa que, na capital alagoana, para cada mil adolescentes com 12 anos, quase oito serão vítimas de homicídio antes dos 19. O número de mortes esperadas no período de sete anos chega a 1.001. Águas Lindas de Goiás, a apenas 45km de Brasília, figura entre as 20 cidades que padecem com o problema da educação de baixa qualidade e da violência juvenil em alta. Foi para lá que Sônia Maria Andrade se mudou, 21 anos atrás, quando deixou Parnaíba, no interior do Piauí, em busca de uma vida melhor. A senhora de fala mansa, acostumada a trabalhar na roça, não imaginou que perderia um dos quatro filhos na cidade escolhida pela família. Francisco tinha apenas 17 anos quando foi assassinado a facadas, há cerca de cinco anos. “Eu não quis ir lá, foi meu marido que resolveu tudo. Ele era um bom menino”, diz Sônia, passando a mão no retrato do rapaz, que fica na parede da sala. Ela conta que Francisco fazia a sétima série em uma escola próxima de casa. “Era um lugar médio, como todo o ensino daqui, que é meio devagar. Ele ficava muitos dias sem aula. Além da educação boa, Águas Lindas precisa ter opções de diversão para os jovens. Não tem nada para fazer. Os adolescentes vão se divertir no bar”, reclama a mulher de 52 anos. O professor Carlos Eduardo Sanches, ex-presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e integrante do Conselho Estadual de Educação do Paraná, concorda. “A política para essa faixa etária tem que congregar esporte e lazer. A educação precisa se articular com outras áreas para formar uma rede que de fato proteja os adolescentes.” Célio da Cunha destaca que o dado sobre a violência juvenil presente nas cidades com baixo Ideb mostra a urgência da implantação das escolas em tempo integral. “É preciso ter infraestrutura adequada, em que a energia dos jovens possa ser canalizada para atividades de formação da cidadania, da convivência social, dos valores democráticos.” Comparação Foram consideradas, no levantamento, cidades com mais de 100 mil habitantes, porque somente para elas há Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) calculado. A última versão do indicador, que mensura a mortalidade por assassinato durante um ciclo de sete anos na vida dos adolescentes, foi divulgado em 2008. Um dos autores do IHA, o professor Ignácio Cano, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), informou não haver problemas metodológicos em comparar a taxa com as notas do Ideb, que são de 2011. O Ideb médio da rede pública no Brasil, anos finais do ensino fundamental, é de 3,9 (escala de zero a 10). Entre as 19 cidades com baixa qualidade na educação e índices elevados de violência, as notas variam de 2,4 a 3,3. Palavra do especialista : Mário Volpi, Coordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes do Unicef no Brasil Empurra-empurra A sociedade é um enorme campo de aprendizagens, mas é na escola que o conhecimento está organizado de forma estruturada. O que ainda carece de melhor debate são os fatores presentes na sociedade e que incidem sobre a escola, não para justificar os problemas desta, mas para entendê-la como parte viva da sociedade. A violência, a exploração do trabalho infantil, a gravidez na adolescência e a falta de motivação são motivos que levam à evasão escolar. A separação entre o dever da escola e da sociedade serve apenas para identificar onde estão os problemas. Entretanto, se isso for feito a pretexto de eximir um ou outro da responsabilidade, o resultado será um eterno empurra-empurra, cujo resultado será a manutenção da exclusão social, que, somada a escola ineficiente, mantém as desigualdades de sempre. Muitas das escolas com baixo Ideb estão em comunidades com altos índices de violência. O que é causa e o que é consequência? Pergunta dispensável, uma vez que a solução está no investimento em educação associado a outras políticas públicas, como as de saúde, assistência social, segurança e cultura, para, com a escola, enfrentarem os problemas que impedem crianças, adolescentes e jovens de realizarem seus direitos. EcoDebate, 17/09/2012
- INÍCIO
- LIVROS
- AUTORES
- N. AMERICANOS DE A - M
- N. AMERICANOS DE N - Z
- BRASILEIROS
- Alduísio Moreira de Souza
- Amora Xavier
- Ana Rita Petraroli
- Andréa del Fuego
- Andrew Revkin
- Boris Schnaiderman
- Carlos Abbud
- Carlos Drummond de Andrade
- Dyonélio Machado
- Homero Homem
- João Carlos Rotta
- Joaquim Manoel de Macedo
- José Lins do Rego
- Marcelo Rubens Paiva
- Monteiro Lobato
- Thalita Rebouças
- *FINAL*
- EUROPEUS
- GAÚCHOS
- LATINOS
- OUTRAS NACIONALIDADES
- EDUCAÇÃO
- CURIOSIDADES
- SERVIÇOS
- GERAL
- CONTATOS
Assinar:
Postar comentários (Atom)