auna importada causa conflitos no estado do Rio – Perda de biodiversidade é uma das principais consequências de problema em expansão
O avanço das espécies invasoras já é a segunda maior causa de perda de diversidade ecológica no planeta, atrás apenas da destruição de habitats – em ilhas, estas posições são invertidas. O tráfico de animais silvestres, uma das causas para sua “exportação” a outras regiões, corresponde à segunda atividade ilícita mais lucrativa do mundo. O descontrole na entrada e disseminação desta fauna e flora é, por enquanto, alvo apenas de políticas pontuais em todo o planeta. Este debate volta a ser fomentado agora, com o lançamento do livro “Exóticos invasores”, da Editora da UFF.
Autor da publicação, Sávio Bruno lista dezenas de espécies que, por ação de mudanças ambientais ou do homem, foram introduzidas na fauna fluminense nos últimos séculos. Algumas acabaram sendo úteis – a lagartixa-de-parede, passageira involuntária dos navios negreiros, é uma importante predadora da venenosa aranha-marrom. A maioria das espécies exóticas, porém, trouxe problemas à fauna local.
O mico-leão-dourado, há décadas símbolo dos animais ameaçados, já teve um de seus últimos refúgios – a Reserva Biológica Poço das Antas, em Silva Jardim – invadido pelo mico-estrela. E outro sagui, o mico-leão-de-cara-dourada, também ensaia uma expansão da Serra da Tiririca, em Niterói, em direção ao interior fluminense.
Há duas situações que tornam indesejáveis o encontro dessas espécies. Uma é a agressão – como os saguis são territorialistas, os dois grupos podem brigar e, ocupando áreas muito limitadas, ocorreria escassez de alimentos. Outra seria o cruzamento das espécies, um processo chamado hibridização.
- A prole que surge daí é muitas vezes infértil, facilitando a extinção das espécies envolvidas – explica Sávio. – O ecossistema é como um jogo de varetas. Introduzir indivíduos estranhos àquele local compromete o equilíbrio de todo o ecossistema e desencadeia uma competição.
Presente em todo o Brasil, à exceção da Amazônia, o pardal ocupa abrigos e compete pelos mesmos alimentos com espécies nativas do Rio, como a andorinha-pequena, o canário-da-terra, o joão-de-barro e o tico-tico. O pardal dissemina os vírus da peste aviária e é comum encontrar agentes patológicos em seus ninhos, inclusive dois que causam dermatites em humanos. O mico-de-cheiro é outro risco à saúde pública. Ele é reservatório do protozoário Trypanosoma cruzi , causador da doença de Chagas.
Estado admite dificuldade
O estado do Rio abriga grande diversidade de animais nativos de seu território – são 166 espécies de anfíbios, 128 de répteis, 730 de aves e 185 de mamíferos. Por isso, espécies invasoras são um desafio para a gestão pública.
- Muitas espécies chegam a novas regiões por terem escapado ou sido libertadas de cativeiros, e o tráfico de animais silvestres não está controlado – ressalta o biólogo Eduardo Lardosa, chefe do Serviço de Planejamento de Pesquisa do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) do Rio.
Lardosa comandou programas pontuais de controle ao boom populacional do mico-estrela. A atividade, porém, esbarra em limitações.
- Não há como levá-los para seu habitat, porque ele já está saturado. Uma parte dos micos apreendidos pode ir para instituições de pesquisa, mas ainda assim sobram muitos animais – explica. – Uma solução extrema seria sacrificá-los, o que é um tema sensível para a opinião pública.
Matéria em O Globo, socializada pelo Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4645.
EcoDebate, 16/01/2013