sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Commodities e futuro, artigo de Montserrat Martins

agricultura para exportação


[EcoDebate] Devemos nossa estabilidade econômica às commodities, que nos últimos anos estiveram bem no mercado internacional também em função do crescimento chinês. O outro lado da moeda é o risco de desindustrialização, porque compramos de volta toneladas de quinquilarias de 1,99 fabricadas com as matérias-primas que exportamos: é a chamada falta de “valor agregado” em nossos produtos. Não podemos nos queixar de sermos “explorados” ou posar de vítimas de imperialismo se não repensarmos nosso perfil econômico, dependente das commodities.
Não é fácil governar, dando conta de uma complexidade de fatores que incluem necessidades imediatas de superávit primário, mas o fato é que nenhum equilíbrio momentâneo da economia se sustenta, a longo prazo, sem uma estratégia consistente que inclua o valor agregado no perfil produtivo do país. Para o equilíbrio comercial não podemos contar, por exemplo, com normas internacionais como as da OMC (Organização Mundial do Comércio) cujas decisões não são respeitadas por alguns membros e da qual se diz que “manda quem pode, obedece quem precisa”. Temos de contar com nossa própria capacidade de planejamento estratégico e o Estado tem um papel a desempenhar, sim, no estímulo e na indução da mudança progressiva do nosso perfil de exportações.
Um levantamento feito pela FIESP identificou queda de 26% de investimentos em pesquisa na indústria brasileira entre 2010 e 2011, chegando ao decréscimo de 34% nos últimos 3 anos, de 10,4 bilhões para 6,8 bilhões. Em contraste, esse investimento está aumentando em países mais competitivos tais como China, Coréia e México. O fato de não ser tarefa fácil, induzir o crescimento de um determinado modelo de produção – dada nossa premente necessidade de exportação de matérias-primas – não pode significar ausência de uma política de longo prazo, redirecionada para atingir novos objetivos.
Outra questão de planejamento estratégico é a de novas tecnologias, a começar pela produção energética. Estados Unidos e China, os maiores poluidores do planeta, também são hoje os que mais investem em pesquisas sobre energias renováveis – um ponto central na economia do século XXI. Não vamos supor que o Brasi possa fazer frente aos bilionários investimentos das superpotências nessa área, mas o fato é que tal meta não está hoje entre as prioridades de governo. Comemoremos o bom desempenho de nossas commodities, que nos garantem hoje a estabilidade, mas se não plantarmos agora no país uma estratégia sustentável, para falar claramente, nosso sucesso momentâneo não terá futuro.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 25/01/2013

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