[EcoDebate] No dia oito de dezembro do ano de 2012, celebramos o aniversário de 50 anos de conclusão do curso da Faculdade de Medicina da Universidade do Recife, hoje UFPE. Muitas festas e também motivos diversos para reflexão.
A compleição física dos setentões alguns vistos pela última vez em 1962 chamou atenção. Mas a grande mudança que merece ampla reflexão foi e está sendo a longevidade do povo brasileiro. Esta uma das grandes conquistas do século XX, que, juntamente com a queda na taxa de natalidade, vem ocasionando o envelhecimento da população mundial que trás alegria, mas também obstáculos a vencer e inovação na arte de exercer a Medicina.
Nestes 50 anos, a expectativa de vida mudou de 48 para 73,4 anos. São 25 anos a mais, em meio século. Em 1962, meu pai tinha 66 anos de idade, eu o considerava bem velhinho. Eu hoje com 10 anos a mais, ainda tenho muitos projetos a desenvolver. Na medicina é assim também. Os doentes procuram médico com queixas desprezíveis 50 anos atrás. E o médico precisa esforçar-se para atender essa nova clientela, ou melhor, dizendo essa clientela idosa com novos projetos de vida.
Porque em tão pouco tempo tanta mudança? E quais as consequências do envelhecimento humano?
As principais causas de longevidade estão relacionadas às grandes inovações científicas e tecnológicas, melhores condições de vida da população, vacinação em massa, melhoria nutricional, estabelecimento de obras e infraestrutura no interior do país entre várias outras conquistas na própria área da saúde.
As consequências do aumento significativo da população de idosos vêm sendo motivo de grande preocupação pelas implicações que podem trazer no atendimento às necessidades básicas deste segmento etário. A prática médica não pode ficar distante desse importante fenômeno sócio–antropológico.
Na condição de médico ortopedista, vivi e vivo grandes mudanças nessa especialidade médica. No tempo de estudante e depois na qualidade de médico residente, senti que a prevalência das lesões do aparelho locomotor era decorrente de paralisia infantil.
A grande mudança veio por conta da vacinação. Desde 1955, o Brasil começou a vacinar crianças, inicialmente com a vacina SALK, injetável, produzida com vírus inativado, e a partir do inicio da década de 1960, com a vacina SABIN, oral, produzida com vírus atenuado.
Desde 1994 o país obteve da OMS o Certificado Internacional de Erradicação da Transmissão Autóctone do Poliovírus Selvagem.
Antes da vacinação em massa chegavam diariamente aos consultórios médicos- ortopédicos, trazidas nos braços, crianças com paralisia flácida, sequela do dano viral da pólio. Hoje, a clientela maior dos ortopedistas é constituída por idosos com artrose nos joelhos e outras grandes articulações. A artrose é doença degenerativa da cartilagem articular que não responde a tratamento medicamentoso.
Há 20 anos atrás o sonho das crianças paralíticas era conseguir andar. Hoje, os portadores de artrose sonham com o retorno da marcha sem dor. As artroplastias têm contribuído para alívio da dor, mas a luz à distância aponta para as pesquisas com célula tronco com capacidade de reposição de células e tecidos danificados inclusive por doença degenerativa.
Juracy Nunes é professor aposentado da UFPE e exerce a profissão em Monteiro/PB. E-mail: juracysnune@gmail.com
EcoDebate, 03/01/2013