A terceira maior causa de benefícios concedidos pela Previdência Social nos municípios fluminenses de Itaboraí, Cachoeiras de Macacu e Guapimirim, segundo os resultados da dissertação do enfermeiro Rodrigo Japur, são os transtornos mentais. A pesquisa foi apresentada à Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) como trabalho final do mestrado profissional em vigilância em saúde na Região Leste do Rio de Janeiro. Apesar de estar atrás apenas das causas externas e doenças osteomusculares, os transtornos mentais se mostraram mais incapacitantes que as outras doenças no que se refere ao afastamento do trabalho. “Quando o indivíduo se distancia do trabalho por essa questão, ele proporcionalmente ficará mais tempo afastado”, resumiu o autor do estudo.
Segundo o estudo, os transtornos de ansiedade e humor, juntos, apresentaram mais de 70% das causas de adoecimento por transtornos mentais no estado e nos três municípios estudados
Intitulada Análise da morbidade por transtornos mentais entre os segurados da previdência social nos municípios de Itaboraí, Cachoeiras de Macacu e Guapimirim, a pesquisa se insere no rol de atividades do Plano de Monitoramento Epidemiológico da Área de Influência do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), coordenado pelo pesquisador Luciano Toledo. O trabalho utilizou o banco de dados da Previdência Social, por meio do Sistema Único de Benefícios, cedido pela Dataprev, com algumas variáveis utilizadas para o Estado do Rio de Janeiro e os municípios. A intenção foi promover uma comparação entre os padrões de morbidades desses assegurados com as cidades hoje afetadas diretamente pela atuação do Comperj.
A dissertação se baseou nos dados de 2006 a 2011, com análise de mais de 670 mil benefícios, que foram agrupados por biênios e analisados em relação ao conjunto de morbidades e tipo de transtorno mental. “Um dos fatores que motivou o desenvolvimento desse projeto foi a necessidade de construir indicadores epidemiológicos em saúde mental e psiquiatria, dada a complexidade em descrever a situação de saúde mental nos municípios”, argumentou Japur. Segundo ele, apesar de os dados não estarem relacionados ao desenvolvimento do Comperj, é importante monitorar a situação de saúde para avaliar se haverá mudanças nos padrões com a implantação do complexo.
Trabalho analisou atividades econômicas mais afetadas
Os resultados obtidos demonstram que os transtornos mentais mais relevantes para o Estado do Rio de Janeiro foram os transtornos do humor, ao passo que, nos três municípios estudados, os transtornos de ansiedade representaram a principal causa de adoecimento por transtornos mentais. Por outro lado, ainda segundo o estudo, os transtornos de ansiedade e humor, juntos, apresentaram mais de 70% das causas de adoecimento por transtornos mentais no estado e nos três municípios estudados. “Outra conclusão é que os transtornos por uso de substância psicoativa apresentaram aumento em todas as análises”, disse o autor da dissertação, que também é diretor-geral do Hospital Estadual Teixeira Brandão, localizado no município de Carmo (RJ). A pesquisa também contemplou a associação entre a ocorrência de transtornos mentais e a atividade desenvolvida pelo segurado segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas, sendo mais encontrada nas atividades de transporte, armazenagem e correios, assim como nas atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (bancários).
Segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social de 2011, mais de 211 mil pessoas foram afastadas em razão de transtornos mentais, gerando um gasto de R$ 213 milhões em pagamentos de benefícios. Ao comentar as conclusões da dissertação, Japur afirmou que o banco da Previdência foi muito eficaz na determinação dos perfis epidemiológicos, assim como no reconhecimento das doenças advindas do trabalho, principalmente nos três municípios onde será implantado o complexo petroquímico. “Teremos, pelo menos, 220 mil empregos a mais com o Comperj. Portanto, monitorar esses agravos dentro dos transtornos mentais no desenvolvimento dessas cidades é extremamente importante, entendendo o incremento que haverá nessa população assegurada pela Previdência Social”.
Informe Ensp / Agência Fiocruz de Notícias, publicado pelo EcoDebate, 09/08/2013