O comportamento dos pais influencia diretamente o modo como as crianças lidam com a própria alimentação. Por isso, a melhor forma de educá-las é tomando atitudes que sirvam de exemplo, como escolher alimentos saudáveis; realizar as refeições na mesa; evitar fast-food e pratos e comidas prontas; oferecer alimentos saudáveis sem, com isso, forçar o consumo; e nunca usar alimentos não saudáveis, como doces, para “presentear” os filhos pelo bom comportamento.
Esses são alguns dos apontamentos da nutricionista Luciana Lorenzato, autora da dissertação de mestrado Avaliação de atitudes, crenças e práticas de mães em relação à alimentação e obesidade de seus filhos através do uso do Questionário de Alimentação da Criança (QAC). A pesquisa foi apresentada em 2012 na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, sob a orientação do professor Sebastião de Sousa Almeida.
O estudo consistiu na aplicação do Questionário de Alimentação da Criança (QAC) em 150 mães que aguardavam para serem atendidas em consultas médicas em Postos de Saúde da cidade de Ribeirão Preto. O objetivo foi averiguar de que forma o comportamento dos pais influencia a obesidade dos filhos.
O QAC foi desenvolvido por um grupo de pesquisadores norte-americanos e pode ser aplicado em pais e mães de crianças entre 2 e 11 anos. Com 31 questões, trata-se de um instrumento que fornece informações sobre a percepção de responsabilidade dos pais em relação à alimentação dos filhos; a percepção que os pais têm do próprio peso e do peso dos filhos; a preocupação com o peso dos filhos; e se os pais utilizam estratégias de restrição, pressão para comer ou monitoramento durante os hábitos alimentares dos filhos.
A pesquisadora pode avaliar o IMC dos filhos, que é a proporção entre o peso e a altura ao quadrado. Luciana constatou que 80% das crianças estava com o peso adequado; e 17,3% acima do peso, sendo 11,3% com sobrepeso e 6% com obesidade. Já o IMC das mães indicou que 69,9% delas estava com peso adequado; e 23,3% acima do peso, sendo 17.9% com sobrepeso e 8% com obesidade. “Houve uma correlação positiva entre o IMC das mães e de seus filhos. Conforme o peso da mãe aumenta, aumenta também o peso dos filhos”, aponta Luciana.
Ao analisar as respostas das mães ao questionário, a nutricionista constatou que a maioria relatou ter peso normal desde a infância até a adolescência e o mesmo relataram em relação aos filhos. As mães se consideraram responsáveis pela alimentação deles; e preocupadas com aquilo que eles comem; concordaram com o ato de restringir o oferecimento de alimentos não saudáveis (como os ricos em gordura, açúcar e sal); concordaram com o uso de pressão para que a criança coma alimentos que consideram saudáveis; e acreditam que devem monitorar aquilo que os filhos comem.
Foi observada uma correlação positiva entre os fatores percepção de responsabilidade dos pais, peso da criança, restrição de alimentos e monitoramento, com o IMC dos filhos. Foi constatado ainda que, quanto menor o IMC das crianças, maior é a utilização de pressão para comer por parte dos pais.
Obesidade e infância
Luciana explica que a obesidade ocorre devido a interação de fatores genéticos, ambientais (dieta, influência familiar, da mídia e de amigos) e dietéticos (o que come e o quanto come). “O comportamento dos pais durante a alimentação dos filhos está associado à obesidade na infância. Isso é bastante relevante pois o comportamento alimentar de uma pessoa é formado exatamente durante esta fase”, destaca.
Luciana explica que a obesidade ocorre devido a interação de fatores genéticos, ambientais (dieta, influência familiar, da mídia e de amigos) e dietéticos (o que come e o quanto come). “O comportamento dos pais durante a alimentação dos filhos está associado à obesidade na infância. Isso é bastante relevante pois o comportamento alimentar de uma pessoa é formado exatamente durante esta fase”, destaca.
De acordo com a pesquisadora, muitas vezes o comportamento dos pais tem uma influência muito negativa nos filhos. Por exemplo, quando oferecem um alimento saudável em um contexto negativo, como uma forma de punir a criança: “se não comer a salada, não pode assistir televisão”. Ou o contrário, quando alimentos não saudáveis são oferecidos como uma espécie de “presente” pelo bom comportamento: “você fez o dever de casa, então vai ganhar um doce”.
Luciana explica que toda criança apresenta uma autorregulação interna de ingestão de alimentos que controla a fome e a saciedade. “Muitos pais interferem neste processo ao pressionarem os filhos a comerem quando já estão saciados. Isso impede as crianças de exercerem o próprio autocontrole”, alerta a nutricionista.
Educar pelo exemplo
A pesquisadora destaca que o melhor meio para que os filhos tenham uma alimentação correta e saudável é exatamente por meio do exemplo dos pais: as crianças irão se espelhar naquilo que presenciam os pais fazerem.
A pesquisadora destaca que o melhor meio para que os filhos tenham uma alimentação correta e saudável é exatamente por meio do exemplo dos pais: as crianças irão se espelhar naquilo que presenciam os pais fazerem.
Já no caso da recusa que as crianças têm em relação a muitos alimentos, Luciana esclarece que não significa que ela não goste daquele alimento. “Algumas pesquisas indicam que é necessário oferecer o alimento entre 12 e 15 vezes até a criança decidir experimentá-lo. Mas isso deve ser feito apenas oferecendo e nunca pressionando para a criança comer”, finaliza.
Matéria de Valéria Dias, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 05/08/2013