domingo, 25 de agosto de 2013

Conceito Base Zero promete acabar com escassez de água no Semiárido

Conceito Base Zero
As barragens são construídas de forma simples, sem argamassa ou escavações. FOTO: CID BARBOSA / Diário do Nordeste

O assunto foi discutido recentemente na reunião da SBPC em Recife
Afogados da Ingazeira (PE) Há mais de quase quatro décadas, o engenheiro mecânico José Artur Padilha desenvolve um projeto chamado Conceito Base Zero (CBZ), que promete, dentre outras coisas, resolver o problema da escassez de água na região do Semiárido. Através da construção de barragens subterrâneas em forma de arco romano deitado. Com custo baixíssimo, a água é armazenada debaixo do chão, praticamente livre da salinização e da evaporação que há mais de um século tornam os mananciais de superfícies, como os açudes, fragilizados diante do nosso clima.
A experiência de Zé Artur Padilha, 70 anos, vem sendo realizada nos 600 hectares da Fazenda Caroá, de sua propriedade, em Afogados da Ingazeira, cidade distante 380 quilômetros de Recife e foi adotada pela Agenda 21 na Área de Agricultura Sustentável do Governo Federal.
No último mês de julho, o assunto foi discutido no âmbito da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Por ocasião da sua explanação, Padilha apresentou a reportagem sobre o CBZ publicada pelo Diário do Nordeste, no dia sete de abril passado, bem como uma matéria realizada pela TV Diário, através do repórter Flávio Rovere e do cinegrafista José Melo.
Conceito
De acordo com Padilha, o CBZ preceitua que “para obter-se o aproveitamento máximo permanente da energia incidente numa dada área agrícola, é necessário ajustar as condições do terreno aos fluxos naturais da água, favorecer sua retenção sem que se provoque salinização e otimizando o uso da biomassa e dos elementos do solo”.
O engenheiro lembra que “as chuvas quando caem geram enxurradas destrutivas que saem das bacias hidrográficas muito rapidamente e não conseguem recarregar os aquíferos. Para enfrentar essa situação, são construídos açudes, os quais, no entanto, não resolvem a situação e, em certos lugares, até agravam os problemas, devido ao fenômeno da salinização das águas represadas”.
Em relação às barragens, Padilha explica que “têm o formato de arco romano deitado e rampado. São feitas exclusivamente com pedras do próprio local, sem argamassa, arrumadas de modo inteligente, de forma que trabalhem estruturalmente quase a uma compressão pura. Os barramentos, acoplados em série, acabam formando platôs por conta da erosão natural provocada pelas chuvas nas encostas adjacentes”, frisa Padilha.
Segundo ainda o engenheiro, “esses platôs são férteis, possibilitando a produção agropecuária normal, pois a água que escoa rapidamente, fica armazenada muito mais tempo neles, devido à lenta percolação através do solo e dos estragos geológicos imediatamente abaixo e pode ser utilizada durante todo o ano, incluindo o período de estiagem”.
Questionado pela reportagem sobre quantas barragens seriam necessárias para cobrir toda a área de 1.633.200 km² do Semiárido. Zé Artur Padilha diz que, “considerando-se uma topografia com movimentação/variabilidade de altitudes, em média, em toda a região, julgo que seriam necessários de três a quatro barramentos de tamanhos variáveis por hectare. Isso resultaria em 360 milhões de diques-barramentos, entre micro, médias e grande. Esse número parece assustador. Mas, se mobilizarmos 12 milhões de pessoas para construir em média 30 barramentos/pessoa, seriam necessários apenas seis anos para revolucionar todo o Semiárido”.
Custo mínimo
No que diz respeito aos custos, Padilha enfatiza que é uma estimativa difícil “dada a total variabilidade de situações. O custo pode variar desde valores mínimos, por exemplo, R$ 50,00 a R$ 1 milhão, se for no Rio Jaguaribe, por exemplo. O investimento pode parecer alto, mas é mínimo, se levarmos em consideração os benefícios que corrigirão os desperdícios que foram cometidos historicamente com a construção de gigantescos açudes sujeitos à evaporação”.
Tecnologia social
O Conceito Base Zero se enquadra entre as tecnologias sociais, que são ações de pequeno porte com grandes resultados, de baixo custo e que envolvem a mão de obra da própria comunidade.
Zé Artur faz questão de ressaltar que o CBZ deve ser aproveitado juntamente com outras tecnologias que já ajudam o sertanejo a conviver com as adversidades da região. É o caso das cisternas idealizados pela Articulação do Semiárido (ASA) e que foram adotadas pelo governo federal com grande êxito. “Todas essas ações conjuntamente podem mudar o perfil da região”.
Em plena estiagem, constatamos na Fazenda Caroá os efeitos das barragens implantadas por Zé Artur Padilha. Ali, os animais têm água à disposição durante os 365 dias do ano graças a um simples sistema de abastecimento d´água. No ponto alto da propriedade, foi construída uma cacimba entre duas barragens.
É dali que, por meio da força de gravidade, e de 20 quilômetros de encanamento, a água é levada para 50 bebedouros espalhados pela propriedade.
“Os barramentos viabilizaram a acumulação de água no subsolo e a construção do sistema gravitacional de condução, armazenamento e distribuição de água subterrânea rasa. Essa água mostra uma diminuição da salinização natural, devido às lavagens por escoamentos superficiais ou lixiviações (separação do sal) subterrâneas, que a chuva e a topografia favorecem”, conta Padilha.
Microbacia
Sobre os barramentos, o engenheiro diz que é necessário destacar dois pontos. “Eles só devem ser construídos tendo em vista a microbacia como um todo, o que exige um cuidadoso estudo completo de toda a área por parte de construtores treinados. Além disso, exige um compromisso social muito grande. O conhecimento pode ser adquirido em treinamento de um único dia”.
“Nas primeiras enxurradas, será necessário nivelar repetidas vezes a crista afetada pela acomodação das pedras. A manutenção pode ser necessária depois do período inicial caso ocorram chuvas muitos fortes no período”, conclui Padilha.
Condições necessárias
1) Apenas uma pequena área da bacia pode ser explorada para fins agrícolas enfatizando-se uma exploração de culturas permanentes como as de fruticulturas e respeitando as características da microbacia hidrográfica onde está inserida; lembrando que essa microbacia faz parte de uma bacia hidrográfica maior;
2) O tamanho da área agrícola deve ser calculado em função da precipitação e da evapotranspiração anual;
3) A área agrícola deve situar-se a jusante da área preservada;
4) O restante da microbacia deve ser explorado indiretamente mediante a preservação de sua flora original submetida a um extrativismo em proporções racionais da lenha naturalmente morta ou de estacas e mourões para cercas divisórias. Porém a região preservada é explorada indiretamente pelo homem por meio da pecuária extensiva, que exige um manejo adequado para não degradar o ecossistema.
Matéria de Fernando Maia/Diário do Nordeste, socializada pelo Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4795.
EcoDebate, 22/08/2013

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