domingo, 25 de agosto de 2013

Poluição, consumo e o fundo do poço, artigo de Efraim Rodrigues

Poluição em Beijing
Poluição em Beijing. Foto: AFP

[EcoDebate] Tenho dependido cada vez mais da mídia internacional por causa do número crescente de matérias enviesadas por aqui. Da mídia esperava somente equilíbrio, mas desculpem a digressão.
A capa da “The Economist” desta semana é sobre a limpeza da China. Uma interessante analogia é construída por esta revista conservadora (sem viés mesmo não existe, esta ao menos é bem fundamentada).
A Inglaterra passou pelo fundo do poço no século 19, quando a coisa estava preta em Londres. Tomaram jeito quando a água chegou às orelhas. Os Estados Unidos também tiveram sua epifania quando um rio pegou fogo em Ohio. Também tiveram tambores de resíduos emergindo do solo, como zumbis, em Love Channel-Nova York. Nós tivemos as maiores taxas de anencefalia em Cubatão-SP nos anos 70 e 80 e ao menos criamos agências ambientais.
A China estaria passando por seu momento “fundo do poço”.
O único caminho possível para melhorar o ambiente nas altas esferas são os governos, porque acima deles não há como cumprir acordos. Quando um governo se propõe a limpar, tem o poder de prender infratores, mas países infratores não sofrem sanções.
Países também têm mais ou menos pessoas. É enviesado chamar a China de pior poluidor do mundo, esquecendo que lá vivem 4 vezes mais pessoas que nos EUA, segundo lugar.
Discutir países e seus números é também enviesado porque médias escondem variação. Nos EUA conheci mais pessoas que abdicaram de consumir, do que aqui (meus amigos não são médios, nem lá, nem cá). Está além da minha e da sua capacidade mudarmos países, mas pessoas são conversáveis, desde que não fujamos ao diálogo…
Não há solução se não mudarmos nosso modo de vida e isto passa pelo exemplo. Sete porcento da população mundial emitem a metade do carbono mundial. Grande parte dos outros 93% estão desperdiçando suas vidas tentando entrar neste clube, do qual aliás, participamos eu e muitos de vocês.
Quem são, além do raro exemplo do Presidente do Uruguai, os exemplos que podem consumir, mas não o fazem? Algum dia vai mudar o viés pró-consumo da mídia nacional?

Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br), Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva. É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke – EUA. http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/

EcoDebate, 15/08/2013

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