Políticas “mais radicais e globais” vêm se impondo na Europa para combater a poluição atmosférica, avalia o Instituto de Vigilância Sanitária (InVS) em seu primeiro Boletim Epidemiológico Semanal (BEH, na sigla em francês) (BEH n°1-2) do ano, publicado na terça-feira (8). O ano de 2013 será o da revisão das diretivas europeias sobre a qualidade do ar. Matéria de Paul Benkimoun, do Le Monde, no UOL Notícias.
A atualização se baseará no balanço do monitoramento da poluição atmosférica que deverá levar em conta as lacunas constatadas nesse domínio. Agora se sabe que mesmo níveis de exposição relativamente baixos às partículas finas elevam o risco de mortalidade, enfatiza o InVS.
Se a França, como recomenda a OMS (Organização Mundial de Saúde), diminuísse a concentração média de partículas de diâmetro inferior a 2,5 micrômetros (PM2,5) para 10 microgramas por metro cúbico (µg/m3), “nas cidades francesas as pessoas de 30 anos ganhariam de quatro a oito meses em expectativa de vida. Nas cidades mais poluídas da Europa, como Bucareste e Budapeste, o ganho seria de um ano e meio a dois anos”, explica Laurence Pascal, do InVS, que coordenou esse número do “BEH”.
Pessoas na faixa dos 30 anos em Toulouse, Havre e Rouen, as três cidades francesas mais próximas da meta estabelecida pela OMS, com uma média de PM2,5 oscilando entre 14,2 e 15,3 µg/m3, poderiam ganhar de 3,6 a 4,6 meses em expectativa de vida. Em Marselha, cidade mais poluída com um índice médio de 18,5 µg/m3, o ganho poderia chegar a sete meses e meio. Em Lille, Paris e Lyon (com um índice em torno de 16,5 µg/m3), as pessoas na faixa dos 30 anos teriam um aumento de seis meses na expectativa de vida.
A França, muito atrasada em sua luta contra a poluição do ar, deverá em breve ser condenada pelo Tribunal de Justiça Europeu, assim como a Espanha, a Itália, a Suécia, a Bélgica e ainda a Eslovênia. Diante da ameaça de sanções, o governo Fillon havia proposto, em junho de 2010, experimentar a proibição de veículos mais poluentes nas grandes cidades. Mas no dia 20 de setembro de 2012 Delphine Batho percebeu o fracasso dessa iniciativa. Uma nova reunião destinada a reavaliar a questão foi programada para o início de 2013.
A França chegou a implementar em 1997 um programa de monitoramento do ar em nove cidades. Mas o método empregado para medir as partículas finas subestimava em 25% a 30% sua concentração no ar. “Em 2007 nós o modificamos e estamos reanalisando os dados de mortalidade dos quatro últimos anos. Os resultados deverão estar disponíveis no final de 2013″, afirma Laurence Pascal.
Os programas, tanto franceses como europeus, “demonstraram a persistência de efeitos de curto prazo da poluição atmosférica sobre a saúde, e isso mesmo com níveis baixos de poluição, pois não existe um limite abaixo do qual nenhum impacto seja observado”, ressaltam Pascal e seus colegas no “BEH”. “A França sempre teve uma abordagem muito normativa que fazia pensar que abaixo das normas não havia problema. Nós mostramos que isso não era verdade”, comenta Laurence Pascal.
Da mesma forma, a epidemiologista observa o fato de que os picos de poluição, embora tenham um impacto grande, na verdade são raros. Isso explica por que as mortes prematuras atribuíveis a níveis diários relativamente baixos (acima de 10 µg/m3) sejam bem mais numerosas que as mortes atribuíveis a índices elevados (acima de 50 µg/m3). “Estamos permanentemente expostos e podemos ficar doentes não somente no plano respiratório, mas também em nível cardiovascular com índices pouco elevados de poluição”, alerta Laurence Pascal.
O papel da circulação de automóveis – e sobretudo os movidos a diesel – foi enfatizado para explicar a forte concentração de partículas no meio urbano. Mas os pesquisadores estão descobrindo a grande complexidade da poluição de partículas. Os estudos, as normas e as estratégias criadas para reduzir a concentração de partículas finas são baseados em sua massa na atmosfera. Um parâmetro insuficiente.
“Devemos ir na direção de uma abordagem que integre diferentes parâmetros, inclusive os fatores sócio-econômicos e as suscetibilidades individuais”, alega Laurence Pascal. Isso porque a maior parte dos resultados descreve uma situação de “iniquidade ambiental”: “Independentemente do nível de poluição atmosférica, o risco à saúde é mais elevado para as populações mais pobres do que para as populações mais ricas”, constata Séverine Deguen (Instituto de Pesquisa em Saúde, Meio Ambiente e Trabalho U10805, Rennes), no mesmo número do “BEH”.
Tradutor: Lana Lim
EcoDebate, 10/01/2013