Segundo o Inca, a estimativa é de que 17.540 casos novos de câncer de colo do útero apareçam até o fim de 2013. Mesmo assim, Brasil é um dos últimos países a adotar um programa de vacinação oferecido gratuitamente.
A cada ano, cerca de 686 mil brasileiros são infectados pelo papilomavírus humano (HPV), nome genérico de um grupo de vírus que engloba mais de cem tipos diferentes. A doença sexualmente transmissível pode provocar câncer de colo do útero, que chega a cerca de 16 mil novos casos por ano no Brasil. Ainda assim, o país está entre os últimos a oferecer no sistema público a vacina usada na prevenção.
A vacinação começa em 2014: meninas de 10 e 11 anos receberão as três doses necessárias para a imunização contra quatro variáveis do vírus, que são responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo do útero. A vacina tem eficácia comprovada em pessoas que ainda não iniciaram a vida sexual e não tiveram nenhum contato com o vírus. Ao todo, serão dadas 12 milhões de doses.
Entre os países da América do Sul, o Brasil é um dos últimos da fila a adotar um sistema de vacinação nacional – Paraguai e Uruguai sequer oferecem a vacina pelo serviço privado. Segundo Tania Cernuschi, coordenadora do programa de vacinação contra HPV da Organização GAVI Alliance, de Genebra, os Estados Unidos, a Suíça e a Austrália estão entre os pioneiros. Eles começaram a vacinar o público alvo um ano após a criação da fórmula, em 2006.
Cerca de 270.000 mulheres morrem por câncer de colo do útero a cada ano no mundo.
No entanto, foram países africanos, como Quênia e Ruanda, um dos primeiros a oferecer a proteção contra HPV de graça na rede pública, já em 2011. Na região, o HPV e o câncer de colo de útero são considerados casos de saúde pública. A tecnologia avançada e os recursos financeiros fizeram dos Estados Unidos e da Inglaterra, até agora, os líderes mundiais na produção e comercialização das vacinas contra o HPV.
Produção da vacina
É a primeira vez que a população brasileira receberá uma vacina que protege contra câncer de graça. O objetivo do Ministério da Saúde é vacinar 80% do público-alvo, ou seja, 3,3 milhões de pessoas. O HPV é responsável por 95% dos casos de câncer de colo do útero, sendo o segundo mais frequente em mulheres, perdendo apenas para o de mama.
A vacina será fabricada pelo Instituto Butantan, em parceria com o laboratório internacional Merck Sharp & Dohme. Segundo o ministério, a estimativa é de que os investimentos federais sejam de 360,7 milhões de reais para a produção do medicamento.
Cernuschi afirma ainda que a conscientização para a necessidade de vacinação contra o HPV é urgente por se tratar de uma doença silenciosa. “Câncer de colo de útero mata. A infecção pode chegar a ficar 20 anos no corpo de uma mulher sem dar sinais. Geralmente, ela é descoberta tarde demais, porque as pessoas sempre pensam que isso não vai acontecer com elas. É preciso ampliar o plano de vacinação gratuita em todo o mundo, para que esses números sejam reduzidos.”
Brasil quer vacinar 3,3 milhões de pessoas de graça em 2014.
Há mais de cem tipos de papilomavírus. Do total, pelo menos 13 têm potencial para causar câncer. A transmissão é por contato direto com a pele infectada. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 291 milhões de mulheres no mundo são portadoras do HPV, sendo que 32% estão infectadas pelos tipos 16, 18 ou pelos dois.
A vacina que será oferecida pelo SUS é a usada na prevenção contra quatro tipos de HPV (6, 11, 16 e 18). Segundo a Anvisa, mulheres infectadas com os subtipos 18, 31 ou 33 possuem um risco 50 vezes maior de desenvolver lesões malignas, enquanto nos casos de infecção pelo subtipo 16 o risco aumenta em mais de cem vezes. O uso do preservativo reduz a possibilidade de transmissão na relação sexual.
A parceira entre o Butantan e a Merck possibilitará futuramente de uso da versão da vacina, que agregará outros cinco sorotipos. Dados do Inca mostram que no Brasil, o câncer do colo do útero é o mais incidente nas regiões Centro-Oeste, chegando a atingir cerca de 28 entre 100 mil mulheres e Norte, colocando em risco 24 entre 100 mil mulheres.
Matéria da Agência Deutsche Welle, DW, publicada pelo EcoDebate, 19/07/2013