[EcoDebate] Tantos amigos me advertindo sobre um golpe de direita em curso, com essas manifestações de rua, que comecei a ficar preocupado. Decidi ficar atento aos sinais, o que seria afinal uma política de “direita”? Já que no Brasil hoje ninguém mais se diz de direita (o PP, herdeiro da antiga Arena, está no governo federal), vou tentar identificar a direita por suas práticas.
Vamos ver, começando pelas questões macroeconômicas. Primeiro: com a direita, o Brasil viveria eternamente de ‘commodities’, vendendo matérias-primas para recomprá-las já industrializadas, dos países mais desenvolvidos. Segundo: favoreceria a iniciativa privada, com recursos públicos, por exemplo, se o BNDES desse dinheiro, digamos, para financiar as empresas de um Eike Batista.
O caudilhismo seria outro sinal, décadas atrás o Brasil vivia do “coronelismo” político dos Maluf e dos Sarney, da Arena, o que mobilizou o povo até derrubarmos a ditadura, nos anos 80. Nos anos 90 lutamos contra outros caudilhos, Collor e Renan Calheiros, que também derrubamos. Outro sintoma, o poder do Estado contra os movimentos sociais, de triste lembrança, quando as polícias militares reprimiam manifestações pacíficas ao invés de se voltar para prender quem estava roubando.
Seria incentivado termos orgulho da seleção brasileira na Copa do Mundo, assim como nos anos 70, quando o ministro Delfim Netto proclamava o crescimento econômico do país, o ‘milagre brasileiro’, orgulho nacional. Delfim, o último direitista assumido (“quem não é de esquerda na juventude não tem coração, quem não é de direita na maturidade não tem cérebro”), seria outro sintoma se estivéssemos num curso de direita, pois ele estaria apoiando esse curso dos acontecimentos.
Numa política de direita, conservadores teriam postos-chaves no Congresso também, num acordo com o governo. Imaginem, por exemplo, um racista e homofóbico presidindo uma Comissão de Direitos Humanos. Imaginem um ruralista conhecido como mega desmatador, presidindo uma Comissão de Meio Ambiente. Seriam sintomas de políticas de direita, é claro.
Sabemos que para a direita o controle da informação é fundamental, pregando a ordem através da grande mídia, para não correr riscos de desestabilizar o “status quo”. O povo seria apaziguado com práticas somente assistencialistas, sem maiores investimentos em educação, e os movimentos sociais mais autênticos, desestimulados ou infiltrados, para não fugir ao controle das práticas políticas da direita. Haveria simulacros de democracia, os candidatos seriam indicados pelos caudilhos, ao invés de convenções partidárias de base.
Enfim, são tantas as práticas de direita de que devemos nos cuidar, um verdadeiro domínio ideológico sobre as massas, que as manteriam alienadas, com medo de mudanças. A estabilidade seria o valor maior, “ordem e progresso”, confiem nos seus líderes. São tantos amigos me avisando, os movimentos sociais nas ruas podem ser “fascistas”, autoritários, são contra partidos. É verdade, para os fascistas só prestava o Partido Nacional Fascista, os outros não eram necessários. Essa história de movimentos independentes de partidos não existe, é papo de anarquistas. Movimentos “horizontais”, coletivos, sem personalismos, anti-autoritarismo, autonomismo, coisas do século XXI? Isso não existe, sempre tem alguém que manda. Três em cada quatro brasileiros apoiando esses movimentos, que influência a direita está tendo…
Temos de ficar atentos aos sintomas, espero que a minha lista de preocupações tenha ajudado, alerta!
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 01/07/2013