[EcoDebate] Zé Dirceu vai pra cadeia e o país melhora, ou pelo menos dá um passo ético importante – uma onda de posts no facebook, pelo menos, sugere isso, simples assim. Mas não vejo ali negociatas de um Eike Batista, por exemplo, que parece fazer tudo dentro da lei – o que me lembra uma traseira de caminhão, “se você soubesse como são feitas as salsichas e as leis, teria nojo”. Simples assim.
Posso estar com sintomas da “Síndrome de Veríssimo”, aquela em que você vê o sistema econômico se reproduzindo naturalmente, de modo quase independente dos seus marionetes políticos, como se a política fosse quase irrelevante. E acho que também peguei o “Mal de Nelson Rodrigues”, autor da máxima “toda unanimidade é burra”. Não consigo curtir a onda anti-PT que varre o facebook de tantos amigos e também não compartilho da convicção de outros tantos amigos do outro lado, do PT, que resumem tudo à disputa de poder com a “privataria” do PSDB, simples assim.
Em “Compreender o mundo”, o francês Pascal Boniface descreve um panorama econômico dos cinco continentes e na América do Sul destaca o papel do Brasil (atribuído aos seus últimos governos) no novo cenário global. Quer dizer, numa visão econômica internacional o lulismo está bem cotado – traduzindo, do ponto de vista “Verissiminiano” isso significa estabilidade, independente da oposição política interna.
Paul Singer foi o guru econômico do governo Lula, talvez o maior “culpado” pelos seus acertos nessa área. Seu filho André Singer, cientista político e ex-porta voz presidencial, deu uma entrevista interessante ao “Le Monde Diplomatique Brasil” desse mês, ainda nas bancas com a manchete de capa “A Onda Conservadora”. Pois a frase do ex-porta voz sobre sua ex-voz que mais me chamou a atenção foi: “O lulismo é uma nova síntese que junta elementos conservadores e não conservadores. Por isso é tão contraditório e difícil de entender”.
Nada mais conservador, no Brasil, do que comprar votos, no Congresso ou direto na casa das pessoas. Não conservador é um governo democrático o suficiente para que o STF, a Polícia Federal e a imprensa tenham liberdade de agir em relação ao próprio governo. Mas estamos longe de apurar golpes do sistema financeiro, quer dizer, de quem quer que seja realmente seja “dono” do país. Você já parou para pensar que os atuais condenados pelo mensalão, se fossem tão poderosos assim quanto um Eike Batista, não teriam sido nem processados? Nem teria como, pois teriam sido feitas leis que permitissem tudo dentro da lei, assim como o desmatamento com a “flexibilização” do Código Florestal. Simples assim.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 29/10/2012