quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Tome ciência, não transgênicos, artigo de Efraim Rodrigues



[EcoDebate] O jogo da ciência é simples; Faça de um jeito aqui, faça de outro ali e assim voce consegue conhecer a diferença entre um jeito e outro.
selo transgênicosNa semana passada foi publicado um artigo no periódico científico Food and Chemical Toxicology onde um grupo de ratos foi alimentado com uma dieta com 11% de milho geneticamente modificado R-tolerant NK603 (Monsanto Corp.), com e sem Roundup. Foi também testado um tratamento somente com Roundup, na dose de 1ppb na água (equivalente a uma gota em 100 caixas de água de 1000 l).
Após 2 anos, houve desequilíbrios hormonais associados a maior freqüência de câncer. 76% dos problemas encontrados foram associados a problemas renais. Os machos apresentaram 4 vezes mais tumores e as fêmeas apresentaram maior freqüência de tumores mamários e também mais precocemente que a população de ratos controle, alimentada sem transgênicos e sem herbicida.
O artigo tem repercutido bastante entre tomadores de decisão. Na França considera-se o banimento de produtos transgênicos e nos Estados Unidos, espera-se que esta pesquisa, entre as primeiras a serem publicadas sem subsídios da Monsanto, estimule os eleitores a votarem muito menos que o banimento, pela simples identificação dos produtos transgênicos. No próximo dia 06 a Califórnia votará a proposição 37, que possibilitará inclusive que pesquisadores e profissionais entusiastas destes produtos tenham uma dieta exclusivamente baseada neles.
Li as críticas ao artigo e elas não parecem fazer sentido. Não há problema algum em ter um grupo controle comparado aos três tratamentos. Nem tampouco há problema algum em usar a raça de ratos Sprague-Dawley, com tendência a desenvolver tumores, porque afinal o controle, obviamente empregou a mesma raça, para não falar no fato que o estudo que a própria Monsanto apresentou para autorização do produto empregou também esta mesma raça.
Este estudo ao menos clama pelo princípio da precaução. Não há como prever como novas moléculas, processos ou substâncias irão agir em nosso organismo ou no ambiente. Por isso, é melhor errar por excesso de zelo. O primeiro trabalho publicado pelo meu orientador, Prof Otto Solbrig, que ajudou a criar a biologia de populações de plantas como a conhecemos, era sobre as vantagens dos inseticidas organoclorados. Nos anos 40 só enxergávamos até o ponto em que aquele produto permitia uma agricultura sem insetos. Só muito depois enxergamos os problemas associados.
Demorou até que um pesquisador, independente dos interesses de quem vende transgênicos, testassse o efeito destes produtos por um período mais alongado, mostrando seus efeitos crônicos. Como voce pode ver, a simplória visão de ciência lá do início não é suficiente para um mundo onde gigantescos interesses determinam o que, quando e como seus produtos serão testados.
Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br), Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva. É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke – EUA. http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/
EcoDebate, 11/10/2012

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