O número de casos de pacientes com câncer de tireoide é dez vezes superior ao registrado há 20 anos no Hospital A.C.Camargo. Em 1992, a unidade, localizada na capital paulista, tratou 34 pacientes. Este ano, o número chegou a 350. O hospital é referência mundial em ensino, pesquisa e tratamento de câncer.
De acordo com José Magrin, cirurgião de cabeça e pescoço da unidade, as razões para o aumento ainda estão sendo estudadas. Para ele, o maior acesso a exames capazes de detectar precocemente o câncer da tireoide podem explicar esse crescimento. Além disso, o maior contato com irradiação pode ter ajudado a elevar a incidência desse tipo de câncer nos últimos anos. “Nós estamos mais expostos às irradiações presentes no nosso dia a dia”, disse.
Outro levantamento feito no estado de São Paulo, com 66 hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e cinco particulares ou filantrópicos, também mostrou que o número de casos da doença cresceu. Segundo a Fundação Oncocentro de São Paulo (FospOSP), em 2000, foram registrados 301 casos (238 mulheres e 63 homens) e, em 2010, o número saltou para 954 (763 mulheres e 191 homens).
A doença é o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres. A pesquisa da Fosp revelou que, dos 1,2 mil casos registrados anualmente na capital paulista, mil foram diagnosticados em pessoas do sexo feminino. Segundo José Magrin, as causas da prevalência entre mulheres ainda estão sendo estudadas, mas há suspeitas de que isso possa estar relacionado ao tipo hormonal feminino.
Um dos sintomas da doença na mulher é o crescimento do nódulo da tireoide. “[Ele] cresce lentamente e é indolor, mas, às vezes, pode haver dor”, disse o médico. No caso de tumores mais agressivos, as pacientes se queixam de rouquidão ou mudança no timbre de voz que não desaparece com o tempo, dificuldade para respirar e para engolir e tosse consistente.
Magrin destacou a importância de prestar atenção a esses sinais, já que o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura, que chegam a 97% nesses casos. Para detectar o nódulo, é feito um ultrassom. Quando há suspeita da doença, o paciente é submetido a uma biópsia.
O tratamento do câncer de tireoide envolve a cirurgia de retirada do nódulo e uma complementação, feita pela ingestão de iodo radioativo. “A pessoa ingere e fica internada por dois dias e depois vai embora. Isso tem a finalidade de destruir possíveis células malignas da tireoide que restaram após a cirurgia”, disse o cirurgião.
Reportagem de Flávia Albuquerque e Fernanda Cruz, da Agência Brasil, publicada peloEcoDebate, 25/10/2012