Modelo da bicicleta adotada no sistema público de locação “YouBike”, em Taipei
Sistema público de locação de bicicletas [Taipei City Public Shuttle Bike Rental System Demonstration Project]. Fotos: Prefeitura de Taipei
Em 1990 era 26% e em 2035 estima-se que será 70%. Na Índia, onde quase 70% da população é rural e mais da metade de todos os cidadãos ainda são dependentes da agricultura, durante a última década a população urbana cresceu mais rapidamente do que a rural.
No Brasil, aproximadamente 83% de sua população vive em centros urbanos. Mudanças que costumavam levar séculos estão ocorrendo em poucas décadas, gerando enormes desafios. O maior deles é o aumento de favelas nos centros urbanos. Estima-se que um em cada três habitantes do planeta vive em favelas, sem acesso a serviços básicos e infra-estrutura. Certamente, essas aglomerações enormes e sem precedentes históricos criam uma série de novas exigências e vulnerabilidades que têm de ser resolvidas de forma criativa e eqüitativa. Precisamos de novas formas de produzir, fornecer bens e serviços, consumir e nos locomover. A mobilidade urbana precisa ser sustentável.
Infelizmente, poucos países estão adequadamente preparados para estes desafios e menos ainda estão tentando gerenciá-los de forma planejada.
Contudo, existem algumas cidades que estão inserindo os princípios de sustentabilidade em suas políticas públicas e podem servir de modelo. Taipei, a capital política de Taiwan é uma delas. Com uma população de 2.700.000 habitantes distribuídos numa área relativamente modesta, Taipei possui um planejamento estratégico sustentável para o transporte, o gerenciamento de resíduos, água, infra-estrutura e energia. E os resultados são incríveis. Uma recente pesquisa realizada entre cidades da Ásia mostrou que 99% da população de Taipei tem acesso a saneamento básico e a emissão de carbono “per capita” é uma das mais baixas da região. 45% de todo o lixo urbano é reciclado e somente 5% do lixo domiciliar vai para os aterros. Seu poder executivo, alinhado com ações globais para buscar o desenvolvimento sustentável, criou uma Comissão de Desenvolvimento Sustentável, com os objetivos de promover a defesa do meio ambiente global, conservar os recursos naturais, assegurar a equidade e a justiça social, promover o desenvolvimento econômico, melhorar a qualidade de vida e buscar desenvolvimento humano sustentável. Foram realizadas consultas públicas e reuniões de trabalho para recolher opiniões e comentários dos funcionários municipais, acadêmicos, técnicos e da sociedade civil em geral, como parte do processo de geração de consenso. O consenso foi então usado para desenvolver o “Plano Estratégico para o Desenvolvimento Sustentável na cidade de Taipei”. A cidade também estabeleceu um site que serve de fórum público para incentivar a participação dos cidadãos nas discussões. A sociedade civil se uniu ao governo da cidade dando contribuições significativas.
Cingapura também é um caso de sucesso. Com uma população superior a 5 milhões de habitantes, seu governo está usando soluções integradas para resolver os desafios de sua crescente urbanização. Seu maior instrumento, contudo, é o investimento em pesquisa e tecnologia. Hoje, Cingapura é centro mundial de discussão nessas áreas, sediando importantes eventos globais e atraindo investimentos em pesquisa e tecnologia de ponta. A expectativa do governo é criar uma plataforma para discussão internacional. Está dando certo.
A cidade de Curitiba é outro exemplo de sucesso. Em 2010 ganhou o premio de cidade mais sustentável do Planeta. Curitiba tem a maior taxa de reciclagem do mundo, 70% de todo lixo é reciclado e seu sistema de transporte público e tão eficaz que o tráfego de automóvel diminuiu 30%, enquanto a população triplicou nos últimos 20 anos. Curitiba possui muitos parques e áreas verdes que servem para controlar as inundações. Curitiba é uma cidade onde 99% de seus habitantes gostam de viver.
É importante notar nesses exemplos, que todos os agentes da sociedade civil se envolveram no processo. O poder público sozinho não tem capacidade de realizar essa mudança. Mas o poder público pode estimular os setores envolvidos e criar políticas públicas adequadas a essa realidade.
As cidades brasileiras oferecem muitas oportunidades e muitos desafios. Contudo, precisamos de governos eficazes para cooperar e administrar esses novos desafios, como no caso de Curitiba. Modelos existem para serem copiados e adaptados. Mas, o mais importante é a vontade de mudar, de modernizar, de criar novas oportunidades de empregos, de gerenciar novos meios de transporte e estilo de vida. Quando vamos acordar para essa nova realidade? Cada cidade brasileira pode se tornar uma Curitiba.
Priscila Salvino, advogada e consultora ambiental, é colaboradora internacional do EcoDebate.
www.priscilasalvino.com
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EcoDebate, 22/10/2012