Projeto de educação ambiental criado por jovens busca desenvolver novas abordagens de educação baseadas em práticas holísticas e na transdisciplinariedade
Andar de bike, correr, fazer piquenique. Práticas como essas são alguns dos atrativos que levam as pessoas a frequentarem parques ecológicos. Porém, em Brasília, um espaço verde está indo para além de um ambiente de recreação. O Parque de Uso Múltiplo Olhos D’água, um dos principais da cidade, está se transformando também em uma grande sala de aula ao ar livre. O responsável por isso é Ecoparque, projeto de educação ambiental criado por jovens brasilienses, que busca desenvolver novas abordagens de educação baseadas em práticas holísticas e na transdisciplinariedade. A iniciativa, inclusive, extrapolou os limites da reserva ambiental e foi instalada dentro de uma escola de educação integral.
“Nosso objetivo é apresentar novas propostas de relação com o meio ambiente, usando tecnologias de baixo impacto ambiental. Além de trazer um novo olhar para que as pessoas se apropriem do lugar e percebam que há outras formas de construir, de se relacionar, de cultivar a terra”, afirma Pedro Vinhal, cofundador do projeto, que é a 15ª história contada no Imagina na Copa, plataforma que está mapeando iniciativas de jovens transformadores até 2014.
O EcoParque foi idealizado por ele, em 2008, quando estudava educação física, e mais tarde abraçada pelo coletivo 7Saberes – que desenvolve ações de educação ambiental para estimular crianças, jovens e adultos a experimentar essas novas abordagens no que chamam de “laboratório vivo”. A meta do grupo é expandir o número de estações em outros espaços.
Apenas no passado, cerca de 200 estudantes de instituições públicas e privadas da região realizaram atividades periódicas no parque ecológico, que foi adaptado para receber diferentes atividades – como oficinas de arte e reciclagem, dança circular e permacultura [conceito que significa 'cultura permanente', que se baseia na cooperação do homem com a natureza].
Além disso, os estudantes também têm visitas monitoradas pelos espaços dentro do parque chamados estações. Uma delas, por exemplo, é o Túnel de Adobe onde as crianças são estimuladas a engatinhar, atividade importante para desenvolver sua capacidade motora. Já no Espaço de Convivência, são realizadas práticas corporais livres, como o yoga e os jogos cooperativos. Outros ambientes são dedicados a ensinar aos visitantes como mexer com a terra e até mesmo cultivar hortaliças e cuidar das plantas. Uma das últimas estações é o Viveiro de Mudas e o Canteiro de Ervas Medicinais, onde as crianças e os jovens são colocados em contato com aromas e sabores.
No quintal da escola
A experiência expandiu para além do parque ecológico para alcançar a Escola Parque 210/211 Norte, também em Brasília, que se dedica à educação de ensino integral. Há mais de dois anos, a instituição pública hospeda em seu “quintal” seis estações do Ecoparque, criada pelo 7Saberes.
“A partir do contato com a natureza, com as plantas, com a terra, os estudantes se tornam mais sensíveis para trabalhar também com outros conteúdos em sala de aula, seja em disciplinas tradicionais ou em atividades como artes plásticas e visuais”
De acordo com Celia Maria Stoppa Muller Fernandes, vice-diretora da escola, o Ecoparque vem contribuindo, principalmente, para estimular a sensibilidade das crianças, indispensável, segundo ela, para tornar as crianças mais curiosas e interativas – importante para desenvolver outros aspectos educacionais. “Muitas das mais de duas mil crianças que passam por aqui a cada semana moram em apartamentos e nunca tiveram ou quase não têm contato com a diversidade ecológica”, afirma.
“A partir do contato com a natureza, com as plantas, com a terra, os estudantes se tornam mais sensíveis para trabalhar também com outros conteúdos em sala de aula, seja em disciplinas tradicionais ou em atividades como artes plásticas e visuais”. Segundo Celia Maria, embora os professores ainda sejam resistência quanto a implementação de metodologias que avancem à sala de aula, muitos deles vêm abandonando suas zonas de conforto. “Hoje, professores já estão entendendo melhor o espaço e, inclusive, conseguem aproveitá-lo para trabalhar seus conteúdos.”
Texto de Vagner de Alencar, no Portal Porvir, socializado pelo Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4727.
EcoDebate, 17/05/2013