Resistência de montadoras e consumidores, altos custos e falta de infraestrutura para recarga de automóveis ameaçam meta alemã de popularizar automóveis elétricos, que governo Angela Merkel garante que será cumprida.
Dos 43 milhões de carros que circulam hoje na Alemanha, apenas 7 mil são elétricos. Mas o governo garante que, até 2020, eles serão um milhão – um objetivo, segundo especialistas, difícil de ser alcançado, mas que a chanceler federal Angela Merkel reiterou nesta segunda-feira (27/05) ser possível.
Merkel participou nesta segunda, em Berlim, de uma conferência sobre o futuro dos automóveis elétricos na Alemanha, que contou com a participação de alguns de seus ministros e de parte da indústria automobilística. Nela, reafirmou que o país “tem boas chances” de alcançar a meta, mas disse ser necessária uma “cooperação abrangente” entre governo e montadoras.
Para os consumidores convencionais na Alemanha, os carros elétricos ainda trazem muitas desvantagens: a autonomia é limitada, existem apenas cerca de 2 mil estações de recarga públicas no país, e nem todo mundo pode recarregar o veículo na garagem de casa. Além disso, o preço é alto. Um carro elétrico custa aproximadamente 50% mais que um veículo com motor de combustão, como explica Stefan Bratzel, diretor do instituto alemão Centro de Gestão Automotiva.
“Quase ninguém quer pagar essa diferença de preço. Ela precisa acabar nos próximos anos”, afirma Bratzel. “Hoje, carros elétricos na Alemanha são parte de frota de companhias ou projetos de compartilhamento de carros, também chamado de carsharing. Apenas uma pequena parte dos elétricos que rodam na Alemanha está nas mãos de motoristas privados.”
Para o diretor da Associação da Indústria Automotiva Alemã (VDA), Ulrich Eichhorn, o fato de os carros serem menos vendidos hoje em dia tem a ver com a falta de uma oferta ampla e mais convincente.
“Mas isso vai mudar drasticamente nos próximos anos”, afirma. “Até o final de 2014, haverá uma oferta de 16 fabricantes de veículos alemães, além de vários carros elétricos de fabricação estrangeira.”
Japão lidera
Do ponto de vista tecnológico, o Japão ainda sai na frente como principal fabricante, seguido pela Coreia do Sul. Os dados são de um novo estudo realizado pela consultoria Roland Berger e Sociedade de Pesquisa de Engenharia Automotiva. Consequentemente, o desenvolvimento de tecnologia de baterias partirá quase que exclusivamente desses dois países. A Alemanha assumiria apenas um pequeno papel, diz o estudo.
“Eu tenho uma opinião similar”, diz Bratzel. “Japão e Coreia têm anos de experiência no setor de baterias em função dos bens de consumo locais e das indústrias de eletrônicos.”
Até que as baterias se tornem mais baratas e mais potentes, os carros elétricos continuarão tendo o posto de segundo veículo para os consumidores, analisa Bratzel. Por outro lado, a VDA tenta mostrar, com um novo estudo, que os carros elétricos são economicamente viáveis não só para os serviços de entrega e frotas corporativas, mas também para quem costuma percorrer longos trajetos com frequência.
Mas a venda tímida de carros elétricos, afirma Eichhorn, não significa que a tecnologia não tenha futuro. “Se alguém se concentrasse na quantidade de celulares que existiam no início dos anos de 1980, não conseguiria imaginar que, hoje em dia, qualquer um teria um telefone móvel.”
700 milhões em incentivo
A Alemanha vai conceder cerca de 700 milhões de euros em incentivos fiscais para a promoção da mobilidade elétrica até 2015. Os maiores investimentos estão concentrados nas áreas de pesquisas e em projetos regionais. Além disso, está previsto abatimento de imposto para carros elétricos.
Por causa do alto índice de endividamento, afirma Bratzel, o conceito de incentivos fiscais de compras se torna questionável. “O método não tem feito com que a mobilidade elétrica aumente na maioria dos países”, opina.
A indústria automobilística alemã também não vê grandes progressos no sistema de compras – e o motivo, segundo especialistas, seria que fabricantes alemães oferecem menos modelos elétricos do que países estrangeiros. “Empresas precisam convencer os compradores de que o produto é atraente. Assim, ele seria vendido até mesmo sem incentivo fiscal”, disse Eichhorn.
No ano passado, o Japão levou cerca de 24 mil carros elétricos às ruas, enquanto a Alemanha ficou na casa dos 7.000. O objetivo de ter um milhão de veículos elétricos nas estradas alemãs dentro de sete anos enfrenta uma série de obstáculos – e a própria associação automotiva VDA espera, num cenário otimista, a comercialização de apenas 600 mil até lá.
Matéria de Gero Rueter, da Agência Deutsche Welle, DW, publicada pelo EcoDebate, 29/05/2013