segunda-feira, 13 de maio de 2013

O boom do xisto nos EUA favorece importações de carvão ‘barato’ pelas usinas da Europa

Fracking (fratura hidráulica), imagem em www.gaslandthemovie.com


Fracking (fratura hidráulica), imagem em www.gaslandthemovie.com

Gás de xisto nos EUA favorece usinas a carvão na Europa – O boom do xisto nos EUA continua a ampliar seu impacto, e um número crescente de geradoras europeias de energia estão sendo obrigadas a colocar em banho-maria suas modernas usinas a gás, incapazes de competir com as crescentes importações de carvão barato proveniente dos EUA. Matéria de Jan Hromadko, do Dow Jones Newswires / Valor Econômico, socializada peo ClippingMP.
A Statkraft, estatal de energia norueguesa, declarou ontem ter paralisado a operação de uma usina a gás na Alemanha, incapaz de competir com concorrentes a carvão. Já a alemã E.ON disse estar avaliando seriamente suspender as operações de outras usinas a gás, entre elas uma tecnologicamente avançada na Eslováquia.
Outras companhias de eletricidade europeias tomaram decisões semelhantes, colocando os formuladores de políticas diante de um dilema: energia mais barata produzida pela queima de carvão poderá proporcionar algum alívio às economias em dificuldades na região, mas especialistas do setor advertem que isso é incompatível com os objetivos de longo prazo em termos de emissões de carbono e do uso de energia renovável.
O fechamento de usinas em toda a Europa é outro exemplo do longo alcance do boom de oferta de energia na América do Norte. Os crescentes estoques de gás natural extraído do xisto por uma nova combinação de tecnologias denominada “fratura hidráulica” levaram muitas companhias de eletricidade nos EUA a abandonar o uso de carvão, que passou a ser exportado a preços baixos em crescentes quantidades para a Europa.
Em 2012, as exportações americanas de carvão para a Europa cresceram 23%, para 66,4 milhões de toneladas, segundo dados do governo dos EUA. Grande parte desse carvão está tomando o lugar do gás natural como combustível para geração de eletricidade. No Reino Unido, por exemplo, em 2012, a proporção de energia gerada pela queima de carvão subiu para seu nível mais alto em 17 anos, enquanto o gás caiu para um mínimo correspondente.
“A situação econômica de nossas operações na Europa, particularmente na geração de energia convencional, continua difícil”, disse o presidente da E.ON, Johannes Teyssen. A empresa informou queda de 94% no lucro operacional do primeiro trimestre referente às usinas que empregam a extremamente eficiente tecnologia de turbinas a gás de ciclo combinado.
“As empresas estão em dificuldades para operar usinas de energia acionadas a gás, mesmo em caso de operações modernas, tecnologicamente avançadas”, porque o carvão barato corroeu sua vantagem competitiva, disse Kash Burchett, analista da IHS Energy.
Os preços do carvão para entrega em um ano na Bolsa Europeia de Energia caíram quase 19% nos últimos 12 meses. Já o gás natural em grandes volumes na Europa continental tem seu preço fixado em relação ao petróleo, e o preço médio do petróleo tipo Brent caiu só 5%, segundo dados da BP.
Isso mudou a dinâmica do mercado de energia. A CEZ, companhia checa de eletricidade, disse na semana passada que poderá manter suspensa por longo período uma nova usina a gás que deveria começar a operar no verão, porque ela seria deficitária desde o primeiro dia de funcionamento. A SSE, empresa de eletricidade britânica, anunciou em março o fechamento de uma usina a gás, a redução da capacidade de uma segunda usina e o cancelamento da construção de novas usinas por vários anos devido à inviabilidade econômica.
O fechamento de usinas da E.ON poderia ter sido mais amplo se a empresa não tivesse firmado acordo com a agência reguladora da rede elétrica alemã e com uma operadora da rede para manter duas usinas a gás modernas, porém não rentáveis, em operação. A E.ON e suas parceiras nas usinas tinham considerado a paralisação das operações, mas a agência competente considerou-as cruciais para a segurança do suprimento energético no sul da Alemanha.
Segundo a Eurelectric, associação do setor de eletricidade na Europa, em 2010 – ano mais recente para o qual há estatísticas disponíveis–os 27 membros da UE geraram, respectivamente, 24% e 23% de sua eletricidade com base no consumo de carvão e de gás, com o restante derivado de um mix de energia renovável e nuclear.
O carvão barato não é má notícia para todas as empresas. A alemã RWE, maior produtora de eletricidade em termos de capacidade geradora, que produz mais de 62% de sua eletricidade da queima de carvão, informou neste ano que elevou em 16% a produção de eletricidade em suas usinas à base de carvão e de lignite em 2012.
A RWE espera ter lucro operacional inalterado em 2013, ao passo que a E.ON prevê queda de até 15% em relação ao ano anterior.
Poderão surgir também vantagens mais amplas. “No momento, a economia como um todo está se beneficiando da produção mais barata de energia”, disse Marcus Schenck, principal executivo financeiro da E.ON. Mas isso vale somente se “assumirmos que a proteção ambiental não é mais uma prioridade da política energética”.
A União Europeia comprometeu-se em reduzir suas emissões de dióxido de carbono em 20% em relação aos níveis de 1990 e, suprir 20% de sua demanda energética de fontes renováveis até 2020. Ontem, um porta-voz do comissário europeu de Energia, Gunther Oettinger, recusou-se a comentar as mais recentes paralisações da usinas a gás. Em entrevista em abril, ele disse que o bloco deve ampliar o foco de sua política energética, fazendo mais do que simplesmente reduzir as emissões de gases, para assegurar também que a energia permaneça barata.
Especialistas alertam ainda que o fechamento de mais usinas a gás poderá enfraquecer a segurança energética do continente, à medida que fontes intermitentes de energia renovável, como a eólica, tornarem-se mais disseminadas.
“Na prática, capacidade geradora intermitente exige alguma forma alternativa de segurança”, disse Burchett, da IHS Energy. A possível escassez de usinas a gás, que são ideais para ajudar a atenuar os desequilíbrios que podem ser causadas por mudanças imprevisíveis na disponibilidade de energia renovável, como a energia eólica, pode agravar o problema, disse ele.
A França está implementando um novo modelo de mercado que poderá oferecer incentivos financeiros para beneficiar empresas de eletricidade por que mantenham em operação usinas de reserva a gás, disse Burchett.
Na Itália, país que efetivamente oferece incentivos financeiros para manter em condição operacional as usinas de reserva, um porta-voz da companhia de eletricidade Enel disse não ter planos para suspender a operação de suas usinas.
EcoDebate, 10/05/2013

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