quinta-feira, 14 de março de 2013

Descontaminação de Fukushima caminha a passos lentos

Sacos com solo contaminado em Fukushima


Sacos com solo contaminado em Fukushima. Foto em Fukushima Diary

Tanques com estoques de água contaminada em Fukushima






Tanques com estoques de água contaminada em Fukushima. Reuters/Kyodo

É possível ver o azul dos sacos de um metro cúbico utilizados nas operações de descontaminação por todo o departamento de Fukushima, no Japão, atingido pela catástrofe nuclear do dia 11 de março de 2011: nas quadras esportivas das escolas, nos jardins das casas, nos arrozais…
A matéria é de Philippe Mesmer, publicada no jornal Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 12-03-2013.
A princípio, essas lixeiras cheias de terra e galhos contaminados deveriam ser transportadas até locais de armazenamento. “O problema é que ninguém quer essas instalações em sua vizinhança”, admite Hitoshi Aoki, do ministério do Meio Ambiente. Os sacos, então, muitas vezes permanecem sem monitoramento, cobertos por uma simples lona.
No início do ano, o jornal “Asahi” revelou que certos trabalhadores chegaram a jogar galhos provenientes da descontaminação nos rios. Em outros lugares, a água utilizada para limpar as casas estaria escoando para a natureza. Tanto que, no local de descontaminação, há quem fale hoje de “transferência de contaminação”.
É o suficiente para preocupar os centenas de milhares de habitantes afetados por esse imenso trabalho pós-Fukushima. Todos se fazem a mesma pergunta: quando a meta de reduzir a exposição a 1 milissievert por ano (1 mSv/ano), dose máxima admissível para a população, será atingida?
As operações de descontaminação, dotadas de um orçamento que deverá chegar a 1,45 trilhão de ienes (R$ 30 bilhões) até julho de 2014, atraíram os gigantes japoneses da construção.
A Shimizu e a Takenaka conseguiram grandes contratos junto às administrações locais e ao governo. Milhares de trabalhadores estão retirando alguns centímetros de terra e podando árvores. Além disso, deverão limpar mais de 600 mil casas e prédios e quase 120 mil hectares de terras agrícolas. Segundo números oficiais, 29 milhões de metros cúbicos de resíduos radioativos deverão, por fim, ser armazenados em um local –ainda a ser determinado.
Até hoje, pouco mais de 15% do trabalho foi realizado. E persistem as dúvidas quanto à eficácia da operação, uma vez que o vento e a chuva podem transferir as poeiras radioativas para as florestas da região. Em janeiro de 2013, os reatores 1, 2 e 3 da usina ainda lançavam na atmosfera césio 134 e 137 à razão de 10 milhões de becqueréis por hora, um nível “significativo”, segundo um especialista.
Permanecem outras dúvidas, sobretudo quanto à pertinência das empresas escolhidas. Os grupos japoneses selecionados incontestavelmente se beneficiaram da proximidade com o poder público. O governo havia procurado grupos estrangeiros conhecidos na área, mas não escolheu nenhum por acreditar que “o que funciona em outros países pode não funcionar no Japão, pois o solo é diferente”.
Os trabalhos também estão atrasados pela falta de mão de obra. “Os trabalhadores recebem entre 8.000 e 9.000 ienes [R$ 166 a R$ 186] por dia”, afirma Ryo Ijichi, da ONG On the Road.
“Eles preferem reconstruir as regiões vizinhas, onde recebem 13 mil ienes (R$ 270), com menos riscos à saúde.” Para compensar esse déficit, o grupo Takenaka “tem enviado regularmente os trabalhadores da usina para a descontaminação. “É menos difícil para eles e isso traz mão de obra”, diz Takeshi Suwabe, executivo da empresa na cidade de Minamisoma (departamento de Fukushima).
Em certos municípios menos afetados, como Tamura, as empresas estão recrutando mulheres. De qualquer forma, a descontaminação nas zonas mais contaminadas continua sendo mais bem paga, “até 10 mil ienes (R$ 206) a mais por dia”, confirma Suwabe.
Na usina acidentada, a operadora Companhia de Eletricidade de Tokyo (Tepco), também teme uma falta de funcionários. Três mil operários, alguns deles enviados pela máfia japonesa (Yakuza), estão trabalhando direto no local até que sejam contaminados com até 100 milissieverts, dose limite máxima para pessoas que trabalham dentro da usina nuclear. Segundo um ex-funcionário da usina, “a empresa está fazendo de tudo para minimizar os números para que fiquem lá o maior período de tempo possível”.
A contaminação não se limita à terra. A empresa Tepco já armazenou em tonéis 260 mil toneladas de água altamente contaminada. Mas, de acordo com diferentes fontes, ela estaria considerando soltar no Oceano Pacífico aquilo que –segundo ela– não apresentasse risco, com alguns milhares de becqueréis por litro…
(Ecodebate, 14/03/2013) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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