Espécies de plantas dos gêneros Croton e Astraea, muito comuns no Brasil, demonstraram atividade antioxidante e antiproliferativa de linhagens de células cancerígenas em experimentos realizados no Instituto de Biociências (IB) da USP. As plantas pesquisadas pela bióloga Daniela Carvalho Ogasawara apresentam extratos que possuem grande capacidade de inibição de linhagens tumorais, como as de câncer de pulmão, mama e leucemia, com potencial para utilização no desenvolvimento de novos medicamentos.
A pesquisa buscou ampliar o conhecimento químico e avaliar o potencial de seis espécies herbáceas nativas da flora brasileira: Astraea comosa, Astraea lobata, Croton lundianus, Croton glandulosus, Croton campestris e Croton triqueter. “Elas pertencem ao mesmo gênero do sangue-de-adave ou sangue-de-dragão, espécies conhecidas por seu látex de cor avermelhada”, afirma Daniela. “Praticamente todos os ecossistemas brasileiros possuem representantes do gênero.”
Os extratos das folhas e dos caules de todas as espécies, em especial a Croton triqueter, apresentaram capacidade de sequestro de radicais livres, com mais eficiência nas folhas. “Para as atividades antiproliferativas, 11 dos 12 extratos demonstraram atividade contra as dez linhagens de células cancerígenas analisadas e nenhum foi tóxico à linhagem de controle, composta por células normais”, destaca Daniela.
As linhagens celulares utilizadas na pesquisa foram de câncer de mama, melanoma, glioma, cólon, ovário resistente a múltiplos fármacos, pulmão, próstata, ovário, leucemia e rim. “Os resultados demonstram alta potencialidade para alguns extratos, como o das folhas de Astraea comosa e das folhas e caules de Croton campestris para as linhagens tumorais de pulmão, mama e leucemia, sugerindo que os estudos sobre eles devem ser aprofundados”, sugere a bióloga.
Análises – As folhas e caules das plantas foram submetidas a análises de detecção e identificação de componentes de óleos voláteis (cromatografia a gás) e flavonoides (cromatografia a líquido). “Além dessas análises, os extratos brutos das plantas foram avaliados quanto a sua capacidade antioxidante e antiproliferativa”, conta Daniela.
Como o trabalho se concentrou nos extratos brutos, as substâncias responsáveis pelas atividades não foram isoladas. “Trata-se de um estudo preliminar, para identificar se as espécies possuem ou não potencial para investimentos, públicos e privados, e maiores investigações”, afirma a bióloga. “Muitos experimentos são necessários para que uma das substâncias vire um medicamento, é difícil prever o tempo que será necessário até que o fármaco esteja disponível.”
De acordo com Daniela, diversas espécies dos gêneros Croton e Astraea possuem atividade comprovada pelos cientistas. “O látex vermelho de Croton lechleri apresenta atividades antibacteriana e inibidora da proliferação de células da leucemia e os extratos aquosos e etanólicos de Croton schideanus têm atividade vasorrelaxante e anti-hipertensiva”, conta. “Na Croton cajucara, comprovaram-se efeitos hipolipidêmico e hipoglicêmico, além de antiestrogênico e antitumoral”.
A pesquisa foi orientada pelo professor Antonio Saladino, do IB, e está descrita em dissertação de mestrado apresentada em abril de 2012. O trabalho faz parte de um projeto coordenado por Saladino sobre química, potencial farmacológico e filogenia molecular de plantas do gênero Croton (Euphorbiaceae), com ênfase em espécies nativas, que deu origem a mais quatro pesquisas de mestrado. A iniciativa tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Matéria de Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 06/03/2013