O corte de árvores na Avenida Edvaldo Pereira Paiva (a Beira-Rio), em Porto Alegre, segue suspenso até a realização de uma nova audiência pública que será conduzida na Câmara de Vereadores. Foto: Emílio Pedroso / Agencia RBS
“As pessoas não utilizam essas árvores no Gasômetro” – dita em fevereiro pelo prefeito de Porto Alegre – é candidata a frase infeliz do ano, vinda de uma autoridade de capital, de quem se espera um certo nível de cultura. Uma foto com o sugestivo título de “usando árvores” circula agora no facebook, mostrando o prefeito plantando árvores – antes da eleição. A foto é do jornal Zero Hora, em outubro de 2012, cuja principal manchete política do dia foi: “Na véspera da eleição, Fortunatti planta árvore e mostra otimismo”.
Três ou quatro coisas básicas o prefeito sabe, ou tinha obrigação de saber: que árvores tem a ver com regulação térmica, que são habitat de pássaros, que geram sombra e fazem parte, também, da paisagem da região da orla. Quer dizer, utilidade não falta e quanto maior o conhecimento científico, mais utilidades uma pessoa é capaz de reconhecer nas árvores.
Para não sermos injustos, vendo a frase fora do contexto, a explicação completa do prefeito foi que “existe um gargalo no trânsito e o dióxido de carbono liberado diariamente é muito grande”. Duplicações de vias são necessárias e é verdade que árvores podem ser transplantadas, em certos casos, com os devidos cuidados ambientais e comprovando-se que seja a única alternativa para enfrentar tal gargalo de trânsito, poluidor.
Dia 18 de março haverá audiência pública, tão importante justamente por não ser essa uma questão “fundamentalista”, requerendo debates sérios, com conhecimento do problema. Cientistas, técnicos da prefeitura, ambientalistas, movimentos sociais, cada cidadã e cidadão interessado tem de ser ouvido sobre as árvores do Gasômetro, que tem lugar especial no coração dos portoalegrenses.
O que o prefeito sequer cogitou, quando proferiu aquela frase infeliz, foi que além do planejamento estratégico da cidade (com suas vias e todas variáveis envolvidas), há ainda a dimensão estética da sustentabilidade. Exemplo desta foi citado por Marina Silva em uma palestra quando perguntou “qual é o valor do Pão de Açúcar?”. Pergunta que é uma resposta em si mesma, há bens de valor inestimável, tais como o patrimônio paisagístico de uma cidade.
Não sei qual a melhor solução e acredito mesmo que há situações em que a “inteligência coletiva”, do acúmulo das capacidades da comunidade reunida, seja capaz de apontar a melhor alternativa. Uma audiência pública, se for democrática e bem conduzida, pode ser um caminho de diálogo em busca de soluções. Mas o próprio prefeito, convenhamos, poderia dar o exemplo, começando por pedir desculpas pela declaração de que as árvores do Gasômetro não são “utilizadas”. Uma vergonha não só para ele, mas para a própria capital dos gaúchos, ter um prefeito que pense assim.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 11/03/2013