Bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul. Fonte: CBH-PS |
Um rio, dois estados – Rio e São Paulo deverão disputar Paraíba do Sul. Indústria terá que fazer reuso da água
No momento em que está prestes a concluir seu primeiro Plano Estadual de Recursos Hídricos, no segundo semestre, e com a construção de sua última grande represa em andamento, o Estado do Rio se prepara para disputar com São Paulo as águas do Rio Paraíba do Sul — que abastece 80% do Grande Rio — e ampliar o reuso da água pelas indústrias. O governo federal está atento à disputa entre os dois estados e já estuda uma solução única para as duas maiores regiões metropolitanas do país, onde vivem 46 milhões de pessoas. Matéria de Henrique Gomes Batista, em O Globo, socializada pelo ClippingMP.
Ainda este ano o governo do Rio inicia a construção da barragem no Rio Guapiaçu, em Cachoeiras de Macacu, que ampliará o fornecimento de água para o Grande Rio em cinco mil litros por segundo. Mas, com a previsão de crescimento da população diante de investimentos como Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e Arco Metropolitano, novas fontes precisarão ser descobertas em breve, apontam especialistas.
— O licenciamento do Comperj é exemplar: toda a água industrial, que não é consumida pelas pessoas, será de reuso, da estação de Tratamento Alegria, que passará por duto do outro lado da Baía de Guanabara. Vamos incentivar soluções como esta — disse Carlos Mine, secretário estadual do Ambiente.
Mine conta que o abastecimento é uma das preocupações do Plano Hídrico, em elaboração pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que analisará também a qualidade das águas e do tratamento de esgoto, o risco das barragens de rejeitos nas nascentes dos rios, além de tratar do problema dos rios como causa de enchentes. Ontem, reportagem do GLOBO mostrou que 12 barragens de rejeitos minerais e industriais, na divisa com Minas, ameaçam as águas do Paraíba do Sul.
O Paraíba do Sul corta os três estados mais populosos do país — faz a divisa do Rio com Minas Gerais por cem quilômetros. Uma transposição de suas águas abastece o Rio Guandu, fonte da maior parte da captação da água do Rio. Estu-
dos preliminares de alternativas para o abastecimento de São Paulo indicaram o Paraíba do Sul, que nasce naquele estado.
dos preliminares de alternativas para o abastecimento de São Paulo indicaram o Paraíba do Sul, que nasce naquele estado.
— Sabemos que o uso do Paraíba do Sul é uma das opções em análise por São Paulo, o que preocupa, pois dependemos destas águas também — afirma Rosa Formiga, diretora de Gestão das Águas e do Território do Inea. Ela lembra que o Rio terá de enfrentar de forma antecipada alguns problemas pela escassez da água nos próximos anos.
SÃO PAULO TERÁ DE DECIDIR FONTE EM DOIS ANOS
Edson Giriboni, secretário de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo e presidente do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap), afirma que o estado está concluindo algumas obras para ampliar o abastecimento da chamada macrometrópole de São Paulo, que inclui as regiões de São José dos Campos, Campinas, Baixada Santista e Sorocaba, com 30 milhões de habitantes.
— Em até dois anos teremos de decidir, pois as obras de água demoram de cinco a seis anos para serem concluídas — diz Giriboni, que vê o Paraíba do Sul como uma das opções.
A cooperação terá que ser, na visão da Agência Nacional de Águas (ANA), a tônica para a questão do abastecimento. Sergio Ayrimoraes, coordenador do Atlas Brasil de Abastecimento Urbano de Água da agência, confirma que já existe uma certa tensão sobre o uso futuro do Rio Paraíba do Sul, mas ele acredita que haverá entendimento entre os estados:
— Não será mais possível para as regiões metropolitanas de São Paulo e Rio decidirem os investimentos para ampliar o abastecimento de forma isolada. E não temos que pensar no que é melhor para o estado “A” ou o estado “B” temos que pensar no melhor para o Rio Paraíba do Sul.
Ayrimoraes conta que a ANA vê com bons olhos uma proposta cara ao Rio: criar critérios mínimos de quantidade e qualidade das águas nas divisas estaduais, tornando mais livre o uso dentro dos estados desde que garantido esses parâmetros mínimos. O Rio defende esta tese por ser um estado totalmente dependente das aguas de São Paulo e Minas Gerais – os rios nascidos em solo fluminense são pequenos. •
EcoDebate, 03/04/2013