[EcoDebate] Os carros e as grandes metrópoles são ícones do desenvolvimento econômico, segundo o imaginário coletivo. A transição de uma economia agrária e rural para uma economia urbana e industrial é um dos indicadores usados para medir o progresso e o avanço civilizatório. Em geral, se considera que a concentração econômica e populacional permite ganhos de escala e economias de aglomeração, fatores que possibilitam o aumento da produtividade e o incremento do excedente, fundamental para a elevação da qualidade de vida humana.
Porém, grandes cidades com deficiências no planejamento urbano, ao contrário de se beneficiarem dos efeitos positivos da aglomeração, podem apresentar deseconomias de escala, reduzindo a produtividade geral e piorando a qualidade de vida da população (pelo menos da parte que não tem condições de andar de helicóptero).
Um dos grandes problemas de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador (dentre outras) é que, ao invés de ganhos, está havendo perda na mobilidade urbana, na medida em que cresce a frota de carros, vans e ônibus. Os engarrafamentos são uma constante, enquanto os governos continuam dando incentivos fiscais para a produção e venda da industria automobilística.
Evidentemente, os carros trafegam a velocidades elevadas nas estradas brasileiras, mas o número de mortes ultrapassa 50 mil por ano, além daqueles e daquelas que ficam com sequelas dos acidentes, sobrecarregando o sistema de saúde e as famílias.
Os veículos automotores estão cada vez mais potentes. Os carros modernos possuem capacidade para fazer 200 quilômetros por hora (km/h). Mas, nos grandes centros urbanos, no horário de pico, não chegam a fazer 20 km/h. Essa velocidade é menor do que aquela das carroças puxadas por dois cavalos, que atinge 26 km/h.
Ou seja, em certos horários de pico nas metrópoles brasileiras, todo o avanço tecnológico na produção de veículos tem resultado em uma vantagem comparativa, não dos automóveis, mas dos veículos de atração animal. Além do mais, as carroças produziam esterco para a agricultura, enquanto os carros emitem gases de efeito estufa e contribuem com o aquecimento global.
Os dados do censo demográfico 2010, do IBGE, mostram que, entre as pessoas com alguma ocupação, 31,03% dos residentes na capital paulista e 25,3% dos fluminenses, demoram mais de uma hora no transporte para o trabalho. Ou seja, são pessoas que gastam mais de duas horas por dia para se locomover da casa para o emprego e do emprego para casa.
Estas mais de duas horas desperdiçadas no trânsito diariamente, não são apenas jogadas fora, mas representam um estresse muito grande para as pessoas, com reflexo negativo na dinâmica das empresas, das famílias e dos indivíduos. Duas horas perdidas por dia multiplicado por milhões de pessoas são um montante imenso de tempo que poderia ser usado para aumentar a produção
econômica, a educação, a saúde ou mesmo o lazer e o descanso.
econômica, a educação, a saúde ou mesmo o lazer e o descanso.
O fato é que o desenvolvimento urbano-industrial não é uma estrada livre, em linha reta, rumo a um futuro próspero e feliz. A perda de mobilidade urbana, o custo excessivo do transporte, a poluição e o desperdício de tempo nos deslocamentos representam um retrocesso na qualidade de vida e podem comprometer o bem-estar geral das cidades e de seus estressados habitantes.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal Ecodebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 24/04/2013