Relatório da organização afirma que prática corresponde a 40% da economia agrícola global; segundo documento, problema é generalizado e ignorado.
Foto: FAO
O trabalho infantil na pecuária é generalizado e amplamente ignorado, alertou a Organização da ONU para Agricultura e Alimentação, FAO.
No primeiro estudo global sobre as questões relacionadas ao trabalho infantil no setor do gado, divulgado esta segunda-feira, em Roma, a agência calcula que a prática representa cerca de 40 % da economia agrícola.
Brasil
O Brasil é citado pelo envolvimento de crianças no abate de animais ao lado do Equador, nos matadouros, com base em dados de uma pesquisa do Departamento do Trabalho americano sobre as Piores Formas de Trabalho Infantil, feito em 2012.
O país também é mencionado por casos de trabalho infantil na fabricação de produtos de gado, ao lado da Bolívia e do Paraguai. Dados do Departamento americano, de 2011, citados no estudo, também mencionam Paraguai, Mauritânia, a Namíbia, Uganda e Zâmbia.
Rapazes
O relatório “Trabalho Infantil no Setor da Pecuária: Pastoreio e outros tipos”, também cita casos de países de língua portuguesa.
Em entrevista à Rádio ONU, de Roma, a diretora adjunta da Divisão do Gênero, Equidade e Trabalho Rural da FAO, Eva Crowley, pediu o envolvimento das crianças nas aulas, e que se abordem questões de saúde e de pressão psicológica.
Emprego
“Muitas zonas rurais, até em países lusófonos, não existem escolas. Se existem, são de baixa qualidade. Se o nível de educação é baixo, então as crianças que vão a estas escolas não têm muitas opções em termos de emprego. As famílias não têm muitas oportunidades ou necessidade de mandar as crianças às escolas. Muitas vezes, estas têm uma perspetiva que não valoriza muito a pastorícia e ou a agricultura.”
Angola aparece na pesquisa por relatos de rapazes levados para pastorear gado na Namíbia.
Venda e Troca
Na África, também são mostrados os casos do Chade, que é considerado ponto de origem e de destino de crianças vendidas ou trocadas para o pastoreio forçado.
No Quênia, o tráfico para trabalho forçado infantil ocorre também no setor pecuário, considerando-se que seja “muito provável que o tráfico de crianças para as atividades de pastoreio não se restrinja às nações mencionadas.
Artigos de Couro
O documento menciona a produção de artigos de couro por intermédio e trabalho infantil no Paquistão, na Índia e em Bangladesh.
Ao dizer que a agricultura representa a maior parte do trabalho infantil do mundo, o estudo defende que governos, organizações de agricultores e famílias rurais sejam envolvidos nos esforços para conter a prática.
Sobrevivência
A FAO pede alternativas às partes envolvidas na busca de uma solução para a questão, que reflete a necessidade de sobrevivência.
A organização destaca ainda a necessidade da redução do trabalho infantil na agricultura como questão de direitos humanos e da busca verdadeiramente sustentável do desenvolvimento rural e da segurança alimentar.