Foto do autor feita no sítio Bom Jesus Monteiro/PB em 05.02.2013. Garças ‘catando’ lagartas no capim.
[EcoDebate] Fevereiro de 2013 iniciou-se com muitas festas nas cidades carnavalescas e com suspeitas bem fundamentadas de mais um ano de seca no sertão nordestino. No primeiro mês do ano em curso cumpriu-se o ditado: “em janeiro as chuvas tardam, mas não faltam”. Realmente choveu. Chuva com distribuição geográfica irregular, mas suficiente para espantar por duas semanas o fantasma nebuloso da longa estiagem. No interior paraibano choveu em média 50 mm. Chuvinha que em muitos sítios deu para mear as cisternas, para brotação vigorosa das juremas e marmeleiros e desabrochar as flores dos cactos.
Mas, a última chuva ocorreu em 15/01/2013. Na terceira semana de estiagem, depois da esperança que durou pouco, fomos surpreendidos neste primeiro final de semana de fevereiro com as campineiras brancas de garças. São as garças boiadeiras ou vaqueiras que no passado recente catavam os carrapatos dos animais e, agora retornaram em busca de lagartas no mesmo ambiente onde antes conviviam com os ácaros e o gado bovino.
É a fartura sertaneja que chega com pouca chuva, mas, suficiente para o aparecimento de praga que aniquila o capim recém – nascido. A seca esgota os recursos hídricos. A lagarta torra a brotação incipiente dos campos. É uma nova seca que afronta a resistência sertaneja.
Contudo, não tendo muito que fazer, o produtor rural aceita resignado o capricho da natureza acreditando que uns perdem outros ganham neste jogo trágico em que pelo menos duas espécies de animais saem ganhando. Ganha o ciclo da vida da borboleta, lucra a garça que perdera na seca suas principais fontes nutricionais.
Exercendo a dupla missão de atender doentes e cuidar de sítio desgastado pelo clima, poderíamos fazer um paralelo entre seca, lagarta e doença. A seca é medida em anos. Fala-se das secas de 15, 19, 32, 2012. O estrago cometido pela lagarta é aferido em semanas. Uma praga de lagarta ou gafanhoto aniquila o pasto ou a lavoura, em sete dias. Os efeitos da seca parecem com as consequências de uma doença crônica, desgastam a saúde pouco a pouco. O ataque da lagarta é semelhante a uma afecção aguda, rapidamente destrói a planta, assim como o organismo humano se curva diante de carga maciça de elementos patógenos.
A mensagem deste artigo é informar aos gestores públicos que uma nova preocupação chega ao campo. Não é tempo de desativar os programas do governo, seja a venda do milho da CONAB seja a ração vendida pela EMPASA.
A chuva de janeiro foi insuficiente para acumular água nos barreiros, garantir pasto para os animais e acender a esperança de lucro para sobrevivência dos habitantes do lugar.
Juracy Nunes é médico e pequeno produtor rural em Monteiro/PB
E-mail: Juracysnunes@gmail.com
EcoDebate, 13/02/2013