Deve-se incinerar o lixo plástico? A questão está sendo discutida pelo setor do lixo na Europa há vários meses. Em setembro de 2012, o comissário europeu para o Meio Ambiente, Janez Potocnik, declarava durante uma conferência organizada pela PlasticsEurope, a associação europeia dos fabricantes de matérias plásticas, que não era “aceitável preferir a recuperação energética [dos resíduos plásticos] à reciclagem” e que “os índices de reciclagem do plástico na Europa [eram] baixos demais, com uma média de 24%”. Matéria de Gilles Van Kote, do Le Monde, no UOL Notícias.
Isso não dissuadiu a PlasticsEurope de pedir ao poder público francês, na quinta-feira (7), que crie um quadro favorável ao desenvolvimento de um setor de produção de energia a partir de combustíveis sólidos de recuperação (CSR), constituídos de resíduos plásticos misturados com papelão, tecido ou madeira. A PlasticsEurope pede, entre outras coisas, que em 2020 se proíba o descarte em aterros de resíduos de alto poder calorífico, como já acontece na Alemanha desde 2005.
“O descarte dos resíduos plásticos em aterros é um imenso desperdício, pois assim se enterra um recurso cujo poder calorífico é equivalente ao do petróleo”, afirma Michel Loubry, diretor regional da PlasticsEurope. “É preciso fazer com que seja recuperado o conteúdo energético daquilo que não conseguimos reciclar”.
Teoricamente, todas as resinas utilizadas para fabricar matérias plásticas são recicláveis. Mas a realidade é outra: na França, em 2011, dos 3,3 milhões de toneladas de resíduos plásticos produzidos, 39% foram enterrados, 41% incinerados e 20% reciclados.
A PlasticsEurope cita como exemplo os países do Norte da Europa, bem como a Alemanha e a Holanda, onde quase todos os resíduos plásticos são “recuperados”, ou seja, reciclados ou incinerados. “Os dois setores são complementares”, garante Cyril Fraissinet, diretor industrial da Sita, a filial de resíduos da Suez Environnement. É preciso dar prioridade à reciclagem, mas quando as resinas estão sujas, misturadas ou em pouca quantidade, ou os setores de reciclagem não estão estabilizados, faz-se necessária a recuperação energética.”
Não é o que pensa o Centro Nacional de Informação Independente sobre os Resíduos (Cniid), associação que acusa os incineradores de serem “aspiradores de pó” e que pede para que se dê prioridade à prevenção e à redução dos resíduos na fonte. “O que nos preocupa é a empolgação das indústrias pelos CSR,” declara Sébastien Lapeyre, seu diretor. “O setor só será viável se houver grandes quantidades, e isso levará a ir pinçar nos resíduos plásticos recicláveis”.
Segundo um estudo da consultoria BIPE citado pela PlasticsEurope, o potencial de produção de CSR na França seria de 7,8 milhões de toneladas, vindos da triagem do lixo doméstico mas também dos resíduos industriais não perigosos. Um número comparável aos 7 milhões de toneladas já produzidas na Alemanha, que há vários anos possui um setor de CSR com instalações específicas para isso. “Nos anos que se seguiram à proibição do descarte em aterro, o índice de reciclagem dos resíduos plásticos aumentou 50% na Alemanha e o aproveitamento energético, 300%.”
Tradutor: Lana Lim
EcoDebate, 15/02/2013