terça-feira, 26 de junho de 2012

Integração entre cidades e rodovias, artigo de Roberto Naime


[EcoDebate] As faixas de domínio das rodovias são reservas para manutenção da segurança e para projetos de expansão. Pois nas áreas urbanas estas faixas de domínio tem sido pouco respeitadas, dificultando as duas funções precípuas para as quais existem.
A falta de planejamento e a falta de fiscalização eficiente, adicionada à falta de estrutura dos órgãos públicos responsáveis tem gerados situações limites entre o convívio seguro com a rodovia, a preservação ambiental necessária e o convívio civilizado entre carro e urbanidade.
Praticamente inexiste planejamento urbano integrado ao rodoviário, de forma que há uma agressão permanente entre as duas realidades construídas. Para solucionar este tipo de problema são cada vez mais necessários trabalhos de equipes multidisciplinares integradas por vários tipos de profissionais atuando em exercício de governança permanente com as comunidades.
Pouco se pratica a especialização funcional possível em entroncamentos rodoviários que podem ser planejados para apoio à mobilidade, ao turismo e à funções urbanas.
Também poderiam ser valorizados os portais de acesso, com a implantação de rotas ou trajetos turísticos nas glebas que constituem o total das áreas de acesso. A implantação de projetos paisagísticos nestes locais também pode integrar rodovias com as cidades.
O estabelecimento de mirantes ou áreas de repouso e lazer integram rodovias com áreas urbanas mas são pouco utilizados. As áreas urbanas tem que ser compatibilizadas em sua vocação natural dentro do contexto de sede urbana com as características específicas das rodovias nos locais. Neste mesmo contexto se situam as áreas de preservação permanente delimitadas ou a eventual utilização das áreas de uso extensivo ou rurais.
Os grandes entroncamentos rodoviários em geral são áreas de acessibilidade e conectividade transversal que guardam vocação para se tornarem centros varejistas de distribuição e/ou centros de logística e portante devem ter suas funcionalidades determinadas.
Hoje se observa uma grande entropia gerada pela instalação desordenada de atividades funcionais de apoio ao turismo, como postos de combustíveis e áreas de lazer ou áreas comerciais como centros de distribuição varejista ou centros de logística.
É comum se observar ao se transitar por rodovias estaduais ou federais, ruas laterais sem espaço, acessos com pouca ou nenhuma visibilidade e outras inadequações, todas resultantes do mesmo fenômeno de falta de planejamento para instalação de empreendimentos.
Por isto as estradas em contato com as cidades resultam em fontes de conflitos que não conseguem ganhar solução adequada com a evolução dos tempos, que apenas aumenta a potencialidade conflitiva.
Quando não há planejamento adequado, não são obras de qualquer que seja o porte que conseguem determinar a minimização dos conflitos, por mais bem intencionadas que sejam as intervenções.
O crescimento de áreas urbanas induzido pela criação de estradas que era festejado até a metade do século passado, deu origem a conflitos quase insolúveis que grandes obras e grandes viadutos não conseguem amenizar.
Cidades divididas reclamam por túneis caríssimos para enterrar estradas ou por viadutos longos capazes de tornar aéreas as vias de transporte. Em ambos os casos revelam uma vocação implícita para o negligenciamento das ações de planejamento que se fazem tão necessárias para compatibilizar as obras de infra-estrutura rodoviária terrestre com o crescimento cada vez maior das redes urbanas, aumentando a conflitividade entre estradas e cidades.
Dr. Roberto Naime, Colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 26/06/2012

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