[EcoDebate] Depois de 25 anos, o que a conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) conseguiu produzir foi um documento muito semelhante que a mesma reunião de líderes do mundo debateu na Noruega, em 1987. Praticamente não se avançou em nada para implantar-se medidas efetivas para evitar a destruição do Planeta. Até o nome escolhido agora do novo documento “O Futuro que Queremos” é parecido com o antigo “Nosso Futuro Comum”, também conhecido como “Relatório Brundtland”. Já nesta época a crítica era a mesma, onde somente se reconhecia os problemas, mas sem um comprometimento de resolvê-los. Já a Rio 92, conseguiu lançar a Agenda 21, uma espécie de manual de ações para se alcançar a sustentabilidade. O que também virou bonitas declarações em papel e em páginas virtuais da internet de países, Estados e prefeituras.
No “velho-novo” documento se destaca os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, que não passa de mais um entre tantos, onde uma série de intenções são listadas. Também se discute a criação de uma comissão intergovernamental para apresentar propostas em cima do ODS, no entanto, somente em 2015 — o futuro sempre adiado! Comissões são o que mais se produz depois de conferências da ONU. Quase todas acabam em nada, como o Protocolo de Quioto, que não conseguiu impor a redução de emissão dos gases que causam o aquecimento global. Até mesmo já se duvida dos “aquecimentistas”, uma discussão bem oportuna para o momento!
Deve ser enorme a frustração da ex-primeira ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland e de Mauricio Strong, o canadense que foi o secretário-geral da Conferência do Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), para não dizer dos milhares de ambientalistas que participaram das organizações paralelas dos três eventos, vendo como nossa segurança socioambiental é adiada novamente. Países ricos com histórico de poluição datado desde a Revolução Industrial não querem pagar a conta. Países emergentes que vem aumentando sua poluição nos últimos trinta anos não aceitam passar o cheque. Assim, o tal princípio da “responsabilidade comum, porém diferenciada”, não será ratificado. Os irresponsáveis venceram!
O Brasil liderou o documento final a ser ratificado pelos chefes dos países, com a maestria do não comprometimento, preocupado mais com ter um pedaço de papel sem polêmicas, do que realmente avançar nas propostas de redução de emissão de gases do Efeito Estufa, da conservação marítima, controle da perda da biodiversidade, implantação de um fundo para pagar a conta ambiental, entre outros. Nem mesmo a proposta de tornar o Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente (Pnuma), com sede em Nairobi, em Agência da ONU, podendo assim ter mais poderes, conseguiu passar. Estamos novamente no limbo, onde a preocupação é defender o modelo de desenvolvimento que ainda se baseia na queima do combustível fóssil, não discute o modelo de produção, o aumento da concentração de renda, o uso de reservas de bilhões de dólares para salvar bancos e a redução de impostos sobre bens de consumo poluentes, como dos automóveis, recentemente aprovado pelo governo brasileiro.
Alguém ainda acreditava que delegados negociadores e embaixadores que representam partidos políticos nos seus respectivos países iriam comprometer o poder dos mesmos?
O discurso de cobrança da presidente Dilma Rousseff já não convence, sendo o que restou à sociedade civil foi a rua, o protesto, a indignação, o fogo sagrado das diversas etnias indígenas, a marcha das mulheres e a reza pela salvação do Planeta.
Prof. Dr. Eloy F. Casagrande Jr, Coordenador do Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). eloy,casagrande@gmail.com
EcoDebate, 21/06/2012