quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sobre a Rio+20 e encontros internacionais de meio ambiente, artigo de Roberto Naime


Rio+20 no Riocentro
[EcoDebate] Em 2010 as editoras Elsevier e Campus colocaram a disposição do público brasileiro, a excepcional obra de Nicholas Stern “O Caminho para um mundo mais sustentável” com prefácio de outro ícone de referência em sustentabilidade no Brasil, o Sr. Israel Klabin, presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável.
A leitura desta monumental obra é imprescindível. Tanto pelo que está escrito nas linhas do texto, como pela fantástica experiência acumulada por Nicholas Stern na presidência do Banco Mundial onde foi um dos grandes atores do cenário internacional. Esta experiência de valor intangível se expressa muito mais nas entre linhas do texto do que na exposição de idéias…
E isto é perfeitamente compreensível. É impossível que tanta experiência acumulada, maturada e armazenada não extravase nas entre linhas. Na página 11 está expresso que “Uma expansão indefinida é uma história implausível no futuro…” será que a humanidade consegue atingir um ponto de equilíbrio homeostático sem crescimento infinito, qualquer que seja a denominação d o sistema econômico…
Na página 12 há um tácito reconhecimento de que a natureza do mercado é falha. “Os preços do petróleo ou do alumínio produzido com energia suja não refletem o verdadeiro custo para a sociedade da produção e utilização destes bens”. Na pg 13, “as externalidades são falhas de mercado”.
Na pg 155, “o sexto elemento – a oferta de ajuda a países estrangeiros como apoio às metas de desenvolvimento em condições climáticas mais hostis – é exigência básica para equidade”.
As reflexões relevantes são inúmeras, mas quando a ONU promove a conferência do Rio + 20 para consolidar e avançar na gestão ambiental rumo a sustentabilidade vamos nos fixar em 3 pontos…
I
Falar em sustentabilidade no primeiro mundo é falar de crescimento com baixo carbono, de poluição do ar; falar em sustentabilidade no terceiro mundo e países emergentes é falar de saneamento, da poluição da água que afeta a maior parte das populações destes países; Por isto se discute a questão do aquecimento global que afeta os países ricos e sua monstruosa poluição de ar e não se discute o saneamento que afeta os pobres com qualidade de água, falta de tratamento de esgoto e má gestão de resíduos sólidos…
E é por isto que todas as iniciativas da ONU acabam sem sucesso, quando se coloca um europeu, diante de um sul americano e diante de um africano, sustentabilidade para o europeu é aquecimento global, para o sul americano, sustentabilidade são itens operacionais vinculados com tratamento de água, gestão de resíduos e monitoramento atmosférico e para o africano sustentabilidade é se preocupar com a próxima refeição.
Nicholas Stern que foi presidente do Banco Mundial sabia bem disto…e não sei se era americano ou europeu, mas estes dois continentes tem a mesma percepção de sustentabilidade e Nicholas Stern aprendeu na prática e muito bem…
II
Até que ponto, independentemente do sistema econômico ser capitalista, comunista, socialista, cooperativado ou tenha lá a denominação que tiver, até que ponto este sistema pode conviver com crescimento equilibrado em sistema homeostático…
III
Estarão os países mais ricos, no caso Europa, Estados Unidos e Japão dispostos a substituir se “welfare state” (estado de bem estar social) que tem funcionado para bancos que não são mais atividade de risco e passar a contribuir mais relevantemente para o que Nicholas Stern denomina equidade social. Ou seja é preciso que se deixe de gastar trilhões de dólares ou euros com sistemas financeiros especulativos e quebrados para passar a gastar este dinheiro com iniciativas capazes de nivelar os continentes e tornar a discussão sobre sustentabilidade algo consensual.
Humildemente não tenho as respostas para estas reflexões, e acho que os modelos ainda não existem e a cada fracasso de conferências internacionais patrocinadas pela ONU, mais fica evidenciado que não se discute o cerne ou o âmago das questões…
Mas considero relevante contribuir com temas, idéias e problemas que tem que ser enfrentados e resolvidos para que a comunidade internacional avance em direção a um mundo mais sustentável com melhor qualidade ambiental e de vida para todos.
A Alemanha aparece como um dos poucos países em razoáveis condições e capaz de liderar esta mudança de paradigma. A excelentíssima senhora primeira ministra da Alemanha, Angela Merkel poderia ter a compreensão superior que Gros Harlem Brundtland e Indira Gandhi trouxeram de contribuição ao debate da sustentabilidade. E tem a oportunidade ímpar de se tornar uma estadista grandiosa e uma visionária que possa levar a humanidade a um novo paradigma nas relações ambientais de eficiência econômica, preservação ambiental e equidade social.
Dr. Roberto Naime, Colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 20/06/2012

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