A apresentação do Brasil, na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, sobre os avanços obtidos pelo governo no combate ao desmatamento, terminou ontem (21) em protesto e discussão entre ambientalistas e a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
O encontro contou com a presença de ministros estrangeiros da área ambiental e tinha o objetivo de mostrar a experiência do país na redução à derrubada de florestas. Mas os debates foram interrompidos por um grupo de ambientalistas segurando cartazes contra o Código Florestal e protestando contra as ações do governo na área, inclusive a liberação de grandes obras, como a Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
A segurança da Rio+20 e a polícia da ONU foram chamadas para controlar o tumulto, mas acabaram impedidas pela ministra de retirar os manifestantes da sala. Izabella deu a palavra para os integrantes dos movimentos ambientais, mas terminou se irritando quando eles se recusaram a parar de falar. A ministra subiu o tom da voz e disse que, na verdade, o governo e a sociedade civil estavam do mesmo lado e que precisavam unir forças. A plateia dividiu-se entre vaias e aplausos.
“Isto aqui é um espaço democrático. Por isso vocês interromperam a reunião e se pronunciaram. Não há nenhuma restrição, mas sempre há mais de uma posição a ser dita”, disse a ministra, que garantiu que atualmente a taxa de desmatamento do país é a menor dos últimos anos.
“No Código Florestal, realmente a luta não acabou. Mas vamos ter que ir para o Congresso Nacional, um espaço democrático da sociedade brasileira, defender os nossos interesses. E eu gostaria que os ambientalistas elegessem mais deputados e senadores ambientalistas”, disse Izabella.
Sobre a construção da Usina de Belo Monte, ela disse que não era sua a responsabilidade pelo licenciamento da obra, que coube ao ex-ministro Carlos Minc. “Fiquem juntos com o Ministério do Meio Ambiente. Não fiquem contra. Porque nós já somos muito poucos perante aqueles que não querem deixar a Amazônia em pé”, disse a ministra, encerrando o evento.
A ambientalista Maíra Irigaray, do Movimento Xingu Vivo para Sempre, explicou o motivo do protesto. “Temos tentado um diálogo aberto com o governo sobre a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e sobre o retrocesso do Código Florestal, mas não existe um diálogo verdadeiro. Inúmeras vezes tentamos audiências, mas não fomos recebidos. As obras avançam sem nenhum monitoramento”, alegou Maíra.
Outra manifestante, Malu Ribeiro, da Fundação SOS Mata Atlântica, justificou o protesto dizendo que era preciso mostrar aos estrangeiros o que estava acontecendo no Brasil. “Mostrar aos presentes que a questão do Código Florestal, embora a ministra tenha dito que não acabou este jogo, faz o Brasil retroceder. Anunciam o pacto pelo desmatamento zero na Amazônia na mesma época em que sancionam um Código Florestal que permite a redução de áreas protegidas e consolida as ocupações da soja e do gado na Bacia Amazônica”, protestou a ambientalista.
Apesar de o tumulto ter encerrado prematuramente o debate, ninguém foi detido pela segurança da Rio+20.
Matéria de Vladimir Platonow, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 22/06/2012