Boa parcela da população acompanhou, com algum espanto e surpresa, os fabulosos gastos governamentais que promoveram a realização da Conferência Rio + 20, das Nações Unidas para o Meio Ambiente. No meio de tantas dificuldades para reajustar salários de médicos, professores e servidores públicos, muitos em greve, as despesas que o governo bancou demonstram que a situação fiscal do país não é tão ruim assim, como tentam nos convencer os negociadores do governo, que tratam das questões salariais e das carreiras dos funcionários e servidores do Estado. O nó da questão, como sempre, são as prioridades. Saúde, educação e serviço público de qualidade ao povo ainda não estão entre as prioridades do Estado brasileiro, segundo o governo em curso.
É fora de dúvidas ser positivo, para o país, sediar eventos mundiais. Porém, não devemos nos esquecer da velha e boa pergunta do atento repórter: “é positivo por que e para quem, ministro, governador, presidenta…?” Está em nossa memória recente a lembrança dos últimos eventos que o país e o Rio, especialmente, tem sediado. Qual o retorno para a população? O que de bom ficou para nós, que constituímos a grande maioria da população, isto é, os que trabalham? Não há muitas respostas, se é que haja…
Infelizmente, apesar de alguns avanços políticos na democratização das relações de poder, em nosso país, mesmo assim persistem e se reproduzem condições as mais aviltantes da vida humana. Quem trabalha no Centro do Rio ou em Niterói é testemunha do contingente imenso de população desabrigada, que vive pelas ruas e praças, e que, à noite, se dirige com seus lençóis de papelão, para o imenso e extenso dormitório sob as marquises das calçadas.
Numa situação como essa, em que se esbanjam recursos públicos que promovem e reproduzem o capital, dá o que pensar sobre como e quando serão resolvidas as demandas dos professores, médicos e servidores públicos, quando nem mesmo situações emergenciais são resolvidas, como as dos que vivem nas ruas, nas calçadas, comendo o resto que sobrou no lixo e despejando seus restos em lugares públicos. Como em todo o decorrer da história brasileira, o capitalismo, de forma exacerbada, concentra riqueza e socializa a miséria e a barbárie humana. Por isso, a Rio + 20 resulta em Brasil negativo para centenas de milhares de nosso povo. Muitos idosos, muitos também crianças. E muitos doentes.
Nilo Sergio S. Gomes é Jornalista, pesquisador e professor da ECO-UFRJ.
* Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado no jornal do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro.
EcoDebate, 19/06/2012