terça-feira, 19 de junho de 2012

Rio+20: Thomas Lovejoy teme que crise econômica mundial tire o foco dos problemas ambientais


emissões e poluição
O cientista norte-americano Thomas Lovejoy, estudioso da Floresta Amazônica há mais de quatro décadas e reconhecido mundialmente pela atuação em defesa do meio ambiente, teme que a crise econômica mundial tire o foco dos problemas de longo prazo relacionados à biodiversidade.
Segundo ele, alguns países não estão dando a devida importância aos problemas relacionados à deterioração do meio ambiente. “A crise mundial é um problema de momento, o que distrai alguns países. E os problemas mais sérios, de longo prazo, estão escondidos, como a perda da biodiversidade, o efeito estufa e o ciclo de nitrogênio”, disse ele, em entrevista ao Jornal da Ciência.
Ele está no Brasil acompanhando as discussões da Conferência sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Paralelamente ao evento, o cientista recebeu, sábado (16), a edição especial do Prêmio Muriqui 2012, no pavilhão do Governo do Estado do Rio de Janeiro no Parque dos Atletas, pelo conjunto de sua obra em defesa da biodiversidade e do desenvolvimento sustentável mundial. A cerimônia ocorreu durante o seminário “As Reservas da Biosfera e a Rio+20″, realizado pelo Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) que concede o prêmio desde 1993.
Thomas Lovejoy é biólogo, consultor-chefe de biodiversidade para o presidente do Banco Mundial, conselheiro sênior do presidente da Fundação das Nações Unidas e presidente do Centro Heinz para Ciência, Economia e Meio Ambiente. É professor da Universidade de Ciência Ambiental e Política na Universidade George Mason e presidente do Instituto Yale para Estudos da Biosfera, nos Estados Unidos.
Conforme avalia Lovejoy, cada elemento discutido na Rio+20 “é de muita importância”, mas “em totalidade não estamos lutando” na escala em que o meio ambiente precisa. “Existem muitos países com distração e outros que não compreendem a seriedade do desafio”, disse ele, responsável pela introdução do termo “diversidade biológica” na comunidade científica e um dos estudiosos da Amazônia brasileira há mais de 40 anos.
Lovejoy fez uma análise sobre o desempenho das metas traçadas na Eco92. Segundo disse, alguns aspectos avançaram e outros perderam velocidade. É o caso da promessa de países ricos de aumentar a ajuda financeira para o desenvolvimento estrangeiro no que se refere à proteção ambiental. Segundo ele, o “dinheiro não chegou”. “E agora temos menos tempo e desafios ambientais e econômicos maiores”, disse. A avaliação é de que a mundial, principalmente da Europa, deve inviabilizar os avanços nas propostas ambientais para os próximos anos.
Avaliação sobre o Código Florestal – Ao fazer uma análise sobre a votação do Código Florestal, no Brasil, cientista norte-americano destacou que o mundo atravessa um momento em que os interesses de econômicos de curto prazo estão impedindo o progresso na recuperação do Planeta.
“Esse não é um fato isolado do Brasil, mas de todos os países”, disse ele. Nesse caso, o cientista declarou que, pelo menos, o Palácio do Planalto conseguiu melhorar o texto do Código Florestal encaminhado pela Câmara dos Deputados, por intermédio de vetos e publicação de Medida Provisória. “O leque que chegou na mesa da presidente (Dilma Roussef) era muito pior do que a lei final. Ou seja, a lei final está muito melhor do que o leque que chegou na mesa da presidente”, destacou.
Insatisfeito com a desempenho do Código Florestal, o diretor da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), José Antonio Aleixo, espera que após a Rio+20 os parlamentares responsáveis pela reformulação da Lei Ambiental se conscientizem de que o Brasil precisa de uma legislação capaz de proteger todos os biomas brasileiros e garantir a produção de alimentos com sustentabilidade. “A minha expectativa é de que depois da Rio+20 eles [parlamentares] tomem a consciência de que o Brasil é mais importante do que eles pensam de si próprios”.
Segundo Aleixo, o Código Florestal tem de proteger todos os biomas brasileiros: Amazônia – a maior floresta tropical do mundo, Pantanal, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga e os Costeiros, conforme defendia o geógrafo Aziz Ab´Saber,falecido no dia 16 de março de 2012, aos 88 anos, uma das referências da comunidade científica na defesa de um Código Florestal amplo e capaz de proteger todos os biomas brasileiros, o que chamou de Código da Biodiversidade.
Aleixo teme que após a Rio+20 as inúmeras modificações que (deputados) estão querendo fazer na medida provisória do Código Florestal que o governo elaborou traga dificuldades para o Brasil. “A briga entre agronegócio e ambientalistas diminuiu, mas não acabou”, declarou.
Matéria de Viviane Monteiro, no Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4520, publicada peloEcoDebate, 19/06/2012

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