[Correio Braziliense] Às vésperas da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, pesam mais dúvidas sobre os resultados desse evento do que possamos imaginar. A ciência, a cada novo relatório, demonstra a urgência de reverter a trajetória do impacto da humanidade sobre o planeta, sob pena de ainda mais graves repercussões ambientais, sociais e econômicas.
O ex-economista chefe do Banco Mundial Nicholas Stern, no trabalho referencial Economia da mudança do clima, já alertava em 2006 sobre os custos da inação no que tange ao aquecimento global. Calculava que, com o investimento de apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial para tomar as medidas mitigatórias necessárias, redirecionar atividades e proceder a uma adequação tecnológica, seria possível evitar a perda de 20% do mesmo PIB em um prazo de simulação de 50 anos. E, do ponto de vista social, é sempre bom lembrar que os mais vulneráveis à degradação ambiental são as populações pobres, em todos os países, e os países mais pobres no conjunto das nações. O incrível é que ainda hoje há significativas dificuldades em se convencer de que a desatenção ao meio ambiente produz seriíssimos impactos sociais.
O desafio da Rio+20 reside em indicar claramente o caminho para transformar o combate à pobreza e à desigualdade social, simultaneamente, em ações de manutenção dos processos ecológicos essenciais e em processos produtivos sustentáveis. Pela simples razão de que não é possível manter como aspiração o topo dos padrões de consumo, sem dispormos de mais cinco planetas com recursos naturais semelhantes aos da Terra. Ou seja, a prioridade é estabelecer novos padrões de qualidade de vida, onerar muitíssimo o desperdício e o fausto e tirar da linha da pobreza e da miséria bilhões de pessoas em todo o mundo que pagam a conta mais pesada do delírio consumista e predador de poucos.
O desafio da Rio+20 reside em indicar claramente o caminho para transformar o combate à pobreza e à desigualdade social, simultaneamente, em ações de manutenção dos processos ecológicos essenciais e em processos produtivos sustentáveis. Pela simples razão de que não é possível manter como aspiração o topo dos padrões de consumo, sem dispormos de mais cinco planetas com recursos naturais semelhantes aos da Terra. Ou seja, a prioridade é estabelecer novos padrões de qualidade de vida, onerar muitíssimo o desperdício e o fausto e tirar da linha da pobreza e da miséria bilhões de pessoas em todo o mundo que pagam a conta mais pesada do delírio consumista e predador de poucos.
Mas as perspectivas são preocupantes, pois ainda se entende o crescimento econômico com a visão do pós-guerra, que não incorpora aspectos relevantes que vieram à tona na contemporaneidade. O Brasil é um exemplo. Estamos entupindo as ruas com automóveis a pretexto de estimular a economia. Enquanto isso, os sistemas públicos de transporte permanecem em estado crítico, quando deveriam ser o sinal mais elevado de qualidade de vida, caso servissem a população de modo eficiente e confortável. O lado visível dessa cegueira são os grandes congestionamentos nas cidades brasileiras grandes e médias, o que vai, dentro de quatro a cinco anos, obrigar muitos governantes a restringir a circulação desses mesmos veículos por meio de rodízio ou outras medidas para lidar com a realidade de um meio urbano estrangulado.
São problemas que bebem da mesma origem: o curtíssimo prazo que impera na tomada de decisão no mundo contemporâneo. Pode não parecer, mas esse é um enorme gargalo na transição para padrões sustentáveis e de respeito ao meio ambiente. Nas democracias, o tempo do planejamento é sempre o eleitoral e essa é também a estrela que guia ocupantes de cargos de representação política. Nas empresas, não é muito diferente: os acionistas querem seus dividendos a curto prazo. Os executivos são pagos sem que se leve em conta os riscos de suas decisões, que em geral se manifestam no médio prazo. O pano de fundo da crise econômica são decisões irresponsáveis de agentes do sistema financeiro que, preocupados apenas com as suas remunerações, causaram grande sofrimento a países como Grécia, Espanha e desempregados em todo o mundo.
Portanto, não há como separar as agressões ao meio ambiente e as dificuldades que a comunidade internacional tem de avançar para um desenvolvimento sustentável, da incapacidade de países e instituições públicas nacionais e globais fornecerem aos cidadãos perspectivas de uma vida mais feliz, na sua essência, o que envolve uma relação mais equilibrada com o ambiente natural.
Ainda estamos num sistema de armadilhas, em que se oferece o brilho do consumo exacerbado e se dá, na verdade, duras perspectivas individuais e coletivas. O símbolo disso é um slogan de um ex-presidente americano, o republicano Herbert Hoover, em sua campanha presidencial: “Um frango em cada prato e um carro em cada garagem”. Soa familiar? Pois é, mas isso foi em 1928; hoje, 84 anos depois, com todo o conhecimento e as aflições acumulados no período, ainda é essa a receita simplista e equivocada da política que comanda as nações.
A Rio+20, para ter sucesso, exige coragem para mudar por parte dos governos e visão crítica por parte da sociedade. A mentalidade e os valores do século passado não foram capazes de nos tornar melhores e mais felizes. E agora, estamos preparados para buscar a felicidade com base em, no mínimo, bom-senso e amor pelo mundo que deixaremos a nossos filhos?
Fabio Feldmann. Advogado e administrador de empresas, atua na área de meio ambiente e desenvolvimento sustentável desde os anos 1970, como militante, parlamentar, secretário de Estado e consultor
Artigo originalmente publicado no Correio Braziliense e socializado pelo ClippingMP.
EcoDebate, 12/06/2012