Cerrado. Foto de arquivo
Mais de 20 famílias do município de Luiz Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, que dependiam basicamente do pagamento de benefícios sociais, aumentaram a renda mensal com a venda de sementes de espécies nativas do cerrado. A melhoria ocorreu quando um projeto experimental de recuperação de áreas de proteção permanente (APPs) foi implementado na cidade.
Técnicos da prefeitura, da organização não governamental (ONG) Conservação Internacional (CI) e de uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) local, o Instituto Lina Galvani, fizeram um diagnósticos das unidades de conservação na cidade, que tem a agricultura intensiva como uma das principais atividades econômicas. Pelas projeções feitas, o município, que em 2008 ainda tinha 50% da cobertura vegetal das bacias hidrográficas, poderia ter grande perda de vegetação caso nada fosse feito até 2020.
Luiz Eduardo Magalhães tem uma realidade diferente de grande parte dos municípios. Segundo Georgina Knust Cardinot, gerente do Programa Cerrado e Pantanal da ONG Conservação Internacional, os produtores já tinham consciência de que precisavam preservar a qualidade da água para garantir suas lavouras.
“É uma região muito plana e, por isso, apta à agricultura intensiva como lavouras de soja, milho, café e algodão. Mas, o solo é arenoso e o oeste da Bahia tem períodos secos intensos. Se o produtor quiser fazer duas safras tem que usar a irrigação, e ele sabe que para manter o negócio é importante que tenha qualidade e quantidade de água”, disse.
O resultado é que, pelas estimativas da prefeitura, apenas 9% das APPs estão degradadas. O projeto experimental foi feito justamente em parte desses 2 mil hectares de terra. Quando a campanha APP 100% Legal foi lançada, como parte do programa Produzir e Conservar, da CI, 17 produtores aderiram. Desses, apenas seis precisariam recuperar áreas. Mas, os demais continuam fornencendo informações que ajudam a mapear os corredores ecológicos, ou seja, saber onde restaurar para conectar as áreas nativas.
“Trouxemos para cá a experiência de técnicos que atuam na Bacia do Xingu (MT) e adaptamos. Um dos mecanismos foi o plantio mecanizado de sementes nativas, que chamamos de muvuca. O produtor usa as máquinas que já tem, como plantadeiras de soja e milho, para espalhar as sementes. Isso reduz em quase 50% o custo em relação ao plantio de mudas”, contou Georgina.
Na Bacia do Xingu, uma equipe de técnicos do Instuto Socioambiental está restaurando quase 2,4 mil hectares de áreas degradadas em beiras de rios e nascentes, em mais de 215 propriedades rurais da região.
Em Luiz Eduardo Magalhães, foram restaurados 77 hectares nos seis meses do projeto. A iniciativa provocou o surgimento de uma nova cadeia produtiva, melhorando a renda da comunidade local. “Trabalhamos com oito comunidades rurais, incluindo assentamentos, com treinamento em identificação, coleta, processamento e armazenamento das sementes e um balcão de preços. Hoje, temos 25 familias de coletores cadastrados”, acrescentou a gerente.
Ela explicou que as famílias participam do balcão de preços, definindo quanto vale cada quilo de semente, que varia pelo peso, tamanho e pela facilidade ou dificuldade de obtenção.
“Tem ano que ipê floresce muito, outro ano pode não florir tanto, então o preço da semente aumenta. A gente quer criar um mercado de restauração e gerar renda. Hoje, já vemos o envolvimento das mulheres que antes ficavam em casa. Houve famílias que, por coleta, conseguiram elevar em quatro vezes a renda”.
Reportagem de Carolina Gonçalves, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 11/06/2012