sexta-feira, 27 de julho de 2012

Corredores Verdes: Plantio estratégico de trepadeiras sobre prédios pode diminuir poluição de cidades em até 30%



Estudo mostra benefício urbano de plantas em diversos prédios na mesma rua – Trepadeiras nas fachadas ‘podem diminuir poluição nas cidades em até 30%’.
Corredores Verdes: Plantio estratégico de trepadeiras sobre prédios pode diminuir poluição de cidades em até 30%O uso de plantas nas paredes externas de prédios em uma mesma rua, criando “corredores verdes”, poderia funcionar como um filtro para a poluição nas grandes cidades, diminuindo em até 30% a quantidade poluentes no ar de grandes metrópoles, segundo um estudo britânico.
Pesquisas anteriores já previam que o aumento de áreas verdes em cidades poderia reduzir em 5% a quantidade de poluentes, mas o novo estudo conduzido por cientistas das universidades de Birmingham e Lancaster mostra que os “corredores verdes” têm um potencial mais efetivo.
Publicados no periódico Tecnologia e Ciência do Ambiente, os resultados do trabalho mostram que tais medidas poderiam ser mais eficientes do que iniciativas tradicionais.
“Até agora todas as iniciativas para tentar reduzir a poluição têm sido feitas ‘de cima para baixo’, como livrar-se de carros velhos, acrescentar catalisadores e até introduzir taxas de congestionamento – e elas não têm mostrado o efeito desejado. O benefício dos ‘corredores verdes’ é que eles limpam o ar que entra e fica no espaço entre os prédios”, diz Rob MacKenzie, um dos autores da pesquisa.
Os ‘corredores’ nada mais são do que placas cobertas com plantas ‘trepadeiras’, que crescem acopladas a uma estrutura, colocadas sobre as paredes exteriores de construções nas cidades.
“Plantar mais (‘corredores verdes’) de uma forma estratégica poderia ser uma maneira relativamente fácil de controlar nossos problemas locais de poluição”, acrescenta o cientista.
Vantagens e desafios
Especialistas sugerem que a criação deste tipo de “corredor verde” também tem vantagens práticas, além do previsto benefício ambiental.
Similares como as chamadas “paredes verdes”, que funcionam como jardins verticais, geralmente compostas por diferentes tipos de plantas e muitas vezes criados por paisagistas, necessitam de sistemas de irrigação específicos, além de fertilizantes e cuidados mais intensos.
Já os “corredores” consistem em uma parede inteira coberta por um tipo único de planta trepadeira, mais resistente.
Mesmo assim há desafios.
Tom Pugh, outro autor do estudo, lista algumas das dificuldades a serem enfrentadas. “Precisamos tomar cuidado quanto às plantas: como e onde plantaremos tais tipos de vegetação, (além de garantir que) não sejam afetadas por seca, não sejam atingidas por calor excessivo e que não sofram ações de vândalos”, diz.
Anne Jaluzot, de um grupo comunitário sobre plantio de árvores em áreas urbanas, diz que a estratégia tradicional, de plantar muitas árvores pequenas, não ajuda em nada para a biodiversidade, e o controle de enchentes e da poluição.
Ela diz que seria preferível se concentrar em regiões menores e nelas plantar árvores muito grandes, mesmo que em número menor. Ela também critica os “jardins verticais”, mais elaborados, como uma “perda de dinheiro”.
“Esses jardins verticais em geral são bonitos, mas são insustentáveis devido ao alto custo de manutenção e a necessidade de adubos. Simplesmente cobrir uma parede com plantas trepadeiras seria em geral uma solução muito melhor para prefeituras e organismos do setor”, avalia.
Matéria de Mark Kinver, Correspondente de ambiente da BBC News, publicada peloEcoDebate, 25/07/2012
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Sem reduzir as desigualdades, o Brasil não resolverá o problema das doenças tropicais


Enquanto o Brasil não reduzir as desigualdades econômicas e sociais de sua população não conseguirá superar os problemas causados pelas doenças tropicais. A afirmação é do farmacêutico bioquímico Sinval Pinto Brandão Filho, do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Recife.
Ele ministrou, no dia 23 pela manhã, a conferência ‘Medicina tropical no século XXI’, durante a 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que está sendo realizada durante esta semana, em São Luís, no Maranhão.
De acordo com Brandão Filho, o mundo vive hoje uma transição epidemiológica de muitas doenças tropicais, que estão deixando as áreas rurais e se urbanizando. É o caso da malária, da leishmaniose visceral e tegumentar, da doença de Chagas e da febre amarela, por exemplo, que já chegaram à periferia e até mesmo ao centro de grandes cidades brasileiras. Ali, principalmente nas favelas, elas encontram terreno fértil para se expandirem. “A fragilidade das habitações, a falta de serviços urbanos [assistência à saúde, segurança, política habitacional], a poluição e a ausência de saneamento básico levam ao aumento da incidência de doenças infecciosas e parasitárias”, disse. “Elas são decorrentes da realidade social e não só do clima tropical.”
Além dessas doenças de origem rural, há aquelas que sempre foram comuns nas cidades tropicais, mas também tem sua incidência aumentada por causa da precariedade das condições sociais. É o caso das doenças de transmissão respiratória, como a tuberculose e a influenza (gripe); as sexualmente transmissíveis, com destaque para a Aids; e as de contaminação oral, nas quais se incluem a diarreia, a cólera e a leptospirose. “Há ainda as doenças tropicais urbanas não infecciosas”, acrescentou Brandão. “Entre elas está a novíssima epidemia de lesões e mortes por acidentes de motocicleta. Existem ainda os problemas psicológicos causados pelo medo da violência e do tráfico de drogas; e os males causados pela poluição e pelas catástrofes, como deslizamentos e inundações.”
Diante desse quadro, Brandão Filho disse que a missão da nova medicina tropical é adotar a saúde das cidades e de suas favelas como campo de atuação prioritário. Além disso, deve incluir as doenças tropicais de causas externas na sua lista de preocupações e considerar a Aids, a tuberculose, a malária e a cólera como suas principais doenças infecciosas. “Também é preciso dar atenção às parasitoses endêmicas tradicionais e às doenças tropicais negligenciadas”, disse. “Para fazer frente a esses desafios, a nova medicina tropical tem ainda de se consolidar como disciplina científica e como campo de atuação multidisciplinar e liderar a mobilização para priorização dos problemas dos trópicos na agenda global.”
Matéria de Evanildo da Silveira para o Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4546, publicada pelo EcoDebate, 25/07/2012
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Campanha pretende combater o uso da água por troca de votos agravado pela seca prolongada no Semiárido


ASA intensifica mobilização contra o uso eleitoreiro da água
Por Daniel Lamir – ASACom

População deve ficar alerta para o uso eleitoreiro de carros-pipa. Foto: Eduardo Queiroga – Arquivo ASAcom
Ao longo dos séculos, as oligarquias do Semiárido aproveitaram as grandes secas para aumentar suas riquezas e seu poder. Neste cenário, as políticas públicas de distribuição de água deixaram de cumprir deveres para funcionar como moeda de troca por votos ou favores para grandes proprietários de terras ou de pessoas ligadas a eles. Neste contexto, as articulações políticas e busca por votos para as eleições municipais 2012 estão sendo realizadas na região. As irregularidades na troca de água por voto ferem a Lei Federal 9.840, de setembro de 1997, conhecida como Lei de Combate à Corrupção Eleitoral.
“Constatamos que permanece a política da Indústria da Seca, onde todos aqueles benefícios que a sociedade poderia estar utilizando para a qualidade de vida ainda estão sendo utilizados para fins eleitoreiros por políticos desonestos”, alerta o coordenador da ASA pelo estado do Piauí, Carlos Humberto.
Com o objetivo de alertar, fiscalizar e denunciar os abusos no uso eleitoreiro da água, a  Articulação vem promovendo a campanha “Não Troque Seu Voto por Água. Água é Direito Seu”. A iniciativa está convocando as famílias agricultoras, além das organizações que atuam no Semiárido e as Comissões Municipais da ASA dos nove estados do Nordeste, além de Minas Gerais. No final de maio, a ASA também encaminhou um ofício a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, solicitando o apoio da entidade para a campanha.
Na semana passada, durante a reunião da Coordenação Executiva da ASA, os representantes estaduais discutiram uma série de ações para fortalecer a campanha nas comunidades. Entre elas, a produção de materiais de comunicação como spots, programas de rádio e panfleto de divulgação. As entidades em cada estado também vão confeccionar faixas para serem distribuídas nas comunidades divulgando o contato dos órgãos responsáveis por receber as denúncias, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ministério Público e Tribunal Regional Eleitoral.
“Estamos chamando todas as organizações da ASA, além dos agricultores e agricultoras para dizer um ‘não’ e um ‘basta’ a essa prática eleitoreira que coloca mais dificuldade na mobilização das pessoas e dificulta uma política de convivência com o Semiárido”, salienta Carlos Humberto.
Com a proposta da convivência com o Semiárido, a ASA desenvolve programas e ações pela autonomia das famílias agricultoras, através do acesso e garantia do direito à água. A atuação da ASA vai além do desenvolvimento de tecnologias sociais para a captação e armazenamento de água para beber, produzir e criar animais. A campanha “Não Troque Seu Voto por Água. Água é Direito Seu” reforça a linha de trabalho educativo, mobilizador e organizacional, articulado por cerca de 3000 instituições da sociedade civil que formam a ASA.

“É um processo longo e transformador. Ao avaliarmos os impactos desta seca, percebemos que hoje existe mais consciência e cidadania. Mas é preciso trabalhar cada vez mais para libertar a sociedade da presa de políticos que não estão comprometidos com uma política limpa”, define Carlos Humberto.

EcoDebate, 25/07/2012
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Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida lança carta-compromisso aos candidatos

Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida
Por José Coutinho Júnior, da Página do MST
Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida lançou uma carta compromisso pelo fim dos agrotóxicos e a favor da agroecologia aos candidatos à prefeito e vereador nas eleições deste ano. Além de mostrar os males que os agrotóxicos causam na sociedade brasileira, a carta pede aos candidatos que se comprometam com três temas: que os candidatos, caso sejam eleitos, lutem para estabelecer uma legislação proibindo o uso dos agrotóxicos em seu município; a proibição da pulverização aérea e a construção de políticas públicas de incentivo à agroecologia.
Para Nívea Regina da Silva, da Direção Nacional do MST, a carta-compromisso é um instrumento de denúncia importante. “A carta serve como um diálogo com os candidatos, para que eles conheçam o problema dos agrotóxicos e as alternativas de produção, como o modelo agroecológico”. A carta será distribuída para candidatos nos 16 estados do país onde a Campanha está organizada.
Segundo a dirigente, ainda não se pensou no que fazer caso muitos candidatos se recusem a assinar a carta. “Vamos apresentar a carta para candidatos que mostram algum compromisso. As vezes, os candidatos não querem se comprometer com as pautas apresentadas, pois são posicionamentos difíceis de assumir, que conflitam com diversos interesses do agronegócio. Caso a recusa em assinar seja sistemática, talvez façamos uma declaração denunciando os candidatos que ‘envenenam nosso país’”.
Abaixo, Leia a Carta-Compromisso aos candidatos:
CARTA COMPROMISSO AOS CANDIDATOS E CANDIDATAS DA CIDADE DE ________________
Desde de 2008, o Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos em seu sistema de produção agropecuário. Consumimos cerca de 20% do total utilizado no planeta. São mais de 1 bilhão de litros jogados nas lavouras, representando cerca de 5 litros de venenos por habitante ao ano. Entre os tipos de venenos empregados em lavouras de nossos municípios, encontram-se substâncias já proibidas em vários países do mundo devido a seus efeitos nefastos no ambiente e na saúde da população.
Estamos falando, por exemplo, de agrotóxicos que têm na sua formulação princípios ativos como Endossulfan (banido em 45 países!), Cihexatina (proibida na União Européia e em países como a Austrália, Canadá, Estados Unidos, China, Japão, Líbia, Paquistão e Tailândia) e Metamidofós (proibido, por exemplo, na União Europeia, China, Índia, e Indonésia), entre outros, todos altamente tóxicos.
As consequências desse sistema, baseado no uso de alta quantidade de pesticidas, são sentidas em nível local, com problemas nos solos, nas águas e na vida dos habitantes da cidade. O aumento de doenças como o câncer e de problemas metabólicos e neurológicos constitui uma questão de saúde pública, e os sistemas de atendimento à população não possuem os meios adequados para diagnosticar e tratar tais doenças – sobretudo às decorrentes de intoxicações crônicas, contraídas por meio de exposição e ingestão regulares de pequenas quantidades de venenos por longos períodos.
Para preservar os bens naturais do município e garantir a soberania alimentar dos seus habitantes, é necessária a adoção de políticas públicas com ações que apontem para  o enfrentamento ao uso abusivo de agrotóxicos – bem como o empreendimento de ações que contribuam no processo de transição para a agroecologia, que se baseia na produção de alimentos sem venenos e em convívio com o meio ambiente. Tais políticas devem ter objetivos claros e metas específicas de curto, médio e longo prazos.
Assim, os signatários deste documento vêm solicitar que o Sr._____________________________ manifeste sua adesão aos compromissos elaborados pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
Atenciosamente,
DECLARAÇÃO DE COMPROMETIMENTO
Eu,______________________________________________________________, candidato(a) a prefeito(a) (ou vereador/a)  da cidade de _________ (___) pelo Partido ___________________________, assumo a responsabilidade, caso eleito, de atender os compromissos listados a seguir e a considerar as recomendações propostas pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, durante a minha gestão.
COMPROMISSOS:
Estabelecer legislação proibindo o uso no município dos agrotóxicos e ingredientes ativos já banidos em outros países, em função dos problemas gerados na saúde e no ambiente.
Proibir a pulverização aérea de agrotóxicos no município.
Construir políticas públicas de incentivo à agroecologia, tais como formação para agricultores e assistência técnica, investimento econômico para propriedades que queiram fazer o processo de transição, política de compra de alimentos sem agrotóxicos, entre outras.
EcoDebate, 25/07/2012
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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Ser humano: espécie invasora? artigo de José Eustáquio Diniz Alves


Ser humano: espécie invasora?[EcoDebate] O ser humano é fruto de uma longa evolução das espécies em meio à biodiversidade do Planeta. Isto não quer dizer que somos os animais maiores, mais fortes e mais rápidos da natureza. Ao contrário, o ser humano nasce de maneira bem débil e sem poder caminhar e procurar a sua própria comida. Em geral, o ser humano não pode nadar grandes distâncias e não pode voar. Também não possui em sua constituição física garras para se defender ou atacar e nem venenos para paralisar suas vítimas ou predadores. Não possui nem penas e nem pêlos para se proteger do frio. O ser humano é uma espécie bastante frágil.
Porém, esta espécie natural e biologicamente frágil desenvolveu uma arma poderosíssima que é o cérebro. O homo sapiens (homem sapiente) desenvolveu o raciocínio, a linguagem, a cultura e as civilizações. A inteligência humana também foi fruto de um longo processo de evolução que se aprimorou enfrentando as adversidades da natureza. Para superar suas fragilidades, o homo sapiens passou a construir ferramentas e se transformou em homo faber(homem fabricante). Uma coisa fortaleceu a outra, pois a inteligência permite construir ferramentas e utensílios e a construção destes aparelhos ampliou os limites da inteligência. O cérebro desenvolvido permite a resolução de problemas práticos e a postura ereta do homo erectus (bípede) possibilitara o uso dos braços para manipular objetos, especialmente com a capacidade prensil do polegar. Foi assim que o ser humano conquistou uma grande mobilidade espacial e social.
Primeiro, o ser humano aprendeu a usar a pedra lascada, depois a pedra polida, as lanças, o arco e flexa, as facas, etc. Aprendeu a controlar o fogo para cozinhar, gerar calor e luz. Depois juntou o fogo com o domínio da mineração para construir ferramentas e armas com os avanços da metalurgia. Inventou a roda e os meios de transporte. Criou o zero, o sistema decimal de números e o sistema binário (zeros e uns) que, hoje em dia, são a base da sociedade da informação. Aprendeu a plantar e a domesticar os animais para melhorar sua alimentação. Depois construiu cidades, fábricas, hospitais, escolas, carros, trens, aviões, navios, submarinos, etc. Com isto, o ser humano passou a andar, nadar e voar por todo o planeta e se tornou uma espécie onipresente na Terra. Hoje em dia, os homens e mulheres podem dizer: “está tudo dominado”.
Tudo começou há cerca de duzentos mil anos. Os estudos com o DNA mitocondrial de fósseis humanos mostram que a espécie teve origem na África oriental. A expansão e a migração dohomo sapiens para fora do continente africano começou há cerca de cem mil anos.
A primeira diáspora bem sucedida aconteceu entre 90 mil e 85 mil anos, quando um grupo dehomo sapiens atravessou o Mar Vermelho e seguiu em direção ao sul da Ásia. Entre 85 mil e 75 mil anos chegaram à Índia, Indonésia e ao sul da China. Entre 65 mil e 50 mil anos, um fluxo chegou à Austrália e outro ao Oriente Médio (até o Bósforo). Entre 50 e 45 mil anos, chegaram à Europa. Entre 45 e 40 mil anos, novos grupos de migrantes chegaram à Ásia Central, Tibet, interior da China, Córeia e Japão. De 40 a 25 mil anos, outros fluxos chegaram à Rússia, ao Circulo Polar Ártico, à Sibéria e ao estreito de Bering. De 25 a 22 mil anos um pequeno grupo chegou à América do Norte. Mas os rigores da Idade do Gelo restringiram a expansão humana. Entre 15 e 12 mil anos a diáspora que começou na África, se espalhou pela América do Norte e chegou à América Central e à América do Sul.
Com o fim da Idade do Gelo, entre 10 mil e 8 mil anos atrás, houve expansão da agricultura e o ser humano se espalhou pelo Globo, ocupando todos os continentes e todas as regiões do mundo. Estima-se que a população mundial passou de poucos milhares de indivíduos há 50 mil anos para 5 milhões de habitantes há 8 mil anos, cerca de 250 milhões de habitantes no ano 1 da era Cristã, algo em torno de 500 milhões no ano de 1500 (descobrimento do Brasil), 1 bilhão em torno do ano 1800 e 7 bilhões de habitantes em 2011. Estima-se que a soma de todas as pessoas nascidas desde o surgimento do homo sapiens chegue na casa de 110 bilhões de pessoas.
Diversos historiadores consideram que a migração humana foi um sucesso e que a humanidade criou uma grande civilização cheia de realizações e invenções geniais. Porém, existem outros historiadores que consideram que o ser humano, a despeito de ter realizado algumas obras geniais, tem causado muitos danos à natureza e ao Planeta. As migrações humanas desde a África trouxeram grandes destruições ambientais e a biodiversidade dos biomas foi alterada.
A natureza do continente americano sofreu muito com a chegada humana, especialmente após o crescimento do volume de pessoas. Por exemplo, as migrações humanas que chegaram à ilha de Páscoa (Rapa Nui), pertencentes atualmente ao Chile, acabaram por destruir a natureza local e a própria civilização da terra dos Moais. A civilização Nasca no Peru, além de fazer as famosas linhas de Nasca, contribuiram para a degradação ambiental ao cortar as árvores locais que resistiam à pouca precipitação pluviométrica.
Mas foi após a chegada de Cristóvão Colombo que os danos ao meio ambiente se intensificaram e a crise ambiental se agravou progressivamente. Em Galápagos, os equatorianos, durante mais de um século, mataram as tartarugas para fazer óleo e iluminar as cidades (como Guayaquil e Quito). Das diversas espécies de tartarugas, uma tem uma dramática extinção, pois só havia sobrado o “solitário George” (último exemplar daespécie), que morreu no mês passado. Além disto, houve a introdução de diversas espécies invasores de plantas e bichos que destruíram grande parte da riqueza natural do arquipélago. Em dimensão bem maior, os Estados Unidos da América (EUA) são campeões mundiais de destruição ambiental e estão afetando, não só o seu território, mas o clima do Planeta.
No Brasil, 93% da Mata Atlântica foi destruída a ferro e fogo. Outros biomas, como o Cerrado, os Pampas e a Amazônia estão indo pelo mesmo triste caminho. Os rios das grandes cidades foram destruídos ou simplesmente viraram canais de esgoto, como os rios Tietê, Carioca e Arrudas, respectivamente, em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Os exemplos do impacto negativo da população humana são muitos e dramáticos. A destruição do solo, das águas e do ar se espalha com grande velocidade, destruindo a riqueza biológica e as espécies nativas e endêmicas.
Por isto, alguns pensadores estão reavaliando o papel das migrações e até considerando o ser humano uma espécie invasora. As espécies invasoras são aquelas oriundas de outra região ou bioma, e que se adaptam e proliferam muito bem no novo ambiente, competindo com as espécies nativas por nutrientes, luz solar e espaço físico. Em geral, elas modificam o ecossistema original e reduzem a biodiversidade. Por falta de predadores naturais, as espécies invasores multiplicam sua presença como uma praga.
Por exemplo, o filósofo britânico John Gray, em entrevista à revista Época (29/05/2006), apresenta um prognóstico pessimista sobre a humanidade: “A espécie humana expandiu-se a tal ponto que ameaça a existência dos outros seres. Tornou-se uma praga que destrói e ameaça o equilíbrio do planeta. E a Terra reagiu. O processo de eliminação da humanidade já está em curso e, a meu ver, é inevitável. Vai se dar pela combinação do agravamento do efeito estufa com desastres climáticos e a escassez de recursos. A boa notícia é que, livre do homem, o planeta poderá se recuperar e seguir seu curso”.
homo sapiens utilizou o cérebro para construir uma avançada civilização planetária, mas tem utilizado a sua inteligência de maneira instrumental e egoísta. O impacto humano já ultrapassou a capacidade de regeneração de todos os continentes. Não há mais fronteiras para novas migrações. Será que o homo sapiens que se espalhou pelo Planeta (chegando por último ao continente americano) pode ser classificado como uma espécie invasora? Ou haverá uma forma evitar seus efeitos daninhos?
Referência: A jornada da humanidade
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 25/07/2012
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terça-feira, 24 de julho de 2012

Empresas de suco cítrico não aplicam gestão socioambiental


Produtores desta área não apresentaram em seu modelo de gestão um projeto conjunto de práticas socioambientais
Produtoras de suco de laranja foram avaliadas quanto ao seu modelo de gestão

Um estudo realizado com duas empresas produtoras de suco de laranja, no Estado de São Paulo, constatou que não havia nestas indústrias a existência de um projeto de gestão que inserisse questões ambientais e sociais de forma conjunta, ainda que tenham sido detectadas políticas estruturadas, porém isoladas, de ações nestes interesses.
A pesquisa Gestão Socioambiental em empresas brasileiras do setor de suco de laranja, da administradora de empresas Elke Irene Bürgers, orientada pelo professor Isak Kruglianskas, foi apresentada na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. O estudo foi realizado de 2009 a 2011 e seu objetivo foi buscar um modelo de gestão socioambiental em empresas consideradas de alto impacto nas sociedades.
O debate socioambiental atual aponta que as empresas tem se preocupado com a influência das suas atividades nas sociedades e comunidades em que se estabelecem. Para isso, procuram desenvolver projetos sociais e medir os efeitos das suas intervenções no meio ambiente, de forma a reduzir os aspectos negativos da sua produção.
Preocupação socioambiental
Elke escolheu duas empresas produtoras de suco de laranja no interior do Estado de São Paulo para averiguar se essa preocupação resultava na implantação de um modelo de gestão voltado às temáticas sociais e ambientais. A pesquisadora considerou importante especializar a pesquisa em empresas de um mesmo setor, o produtor de suco de laranja, devido às características econômicas e aos impactos sociais e ambientais deste segmento. A indústria produtora de sucos cítricos é um dos setores mais expressivos do agronegócio no Brasil, que é responsável por 60% da produção mundial de suco de laranja, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Os dados referentes à produção e venda de laranjas e suco foram coletados de sites institucionais do setor, como a United States Department of Agriculture (USDA). Elke também procurou entrevistar os representantes das políticas socioambientais nessas empresas. Eles responderam a um questionário que levantava assuntos ligados à gestão de pessoas, como existência de programas de capacitação e treinamento, contratação de deficientes físicos, oferecimento de creches e assistência psicológica, além de políticas de educação ambiental, monitoramento de resíduos e redução de uso de água e energia elétrica, entre outros.
Observou-se que essas empresas não reconhecem como gestão social as ações direcionadas ao seu quadro de funcionários, ainda que anunciem ações bem desenvolvidas deste tipo tanto para o público externo como interno. No entanto, as ações ambientais estão mais presentes, principalmente, para Elke, “devido a forte regulamentação nacional e do Estado, e a exigência do mercado internacional em relação ao tema”.
Segundo a pesquisadora, “esse modelo de gestão pode auxiliar e até direcionar o desenvolvimento de políticas públicas que validem o processo das organizações com as comunidades afetadas”. E completa, dizendo que seu estudo pode ser aplicado a indústrias de alto impacto ambiental. “Setores como siderurgia, pecuária, papel e celulose podem gerar informações relevantes para a elaboração de um modelo de gestão socioambiental, principalmente social.”
Imagem: Marcos Santos / USP Imagens
Mais informações: email buergers@hotmail.com
Matéria de Mariana Melo, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 24/07/2012
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Poluição causada pelas atividades de mineração mata vilarejos na China


Mina de Bayan Obo, foto do NYT
Mina de Bayan Obo, foto do NYT
Visto do céu, parece um grande lago, alimentado por inúmeros afluentes. De perto, descobrimos uma superfície opaca, onde não vive nenhum peixe, onde nenhuma alga aflora à superfície. Suas bordas são recobertas de uma crosta escura, tão espessa que é possível caminhar por cima. Trata-se, na verdade, de um imenso escoadouro de 10 quilômetros quadrados, no qual as fábricas dos arredores despejam águas carregadas de produtos químicos usados no tratamento de 17 minerais procurados em todo o planeta: as “terras-raras”. Matéria de Cécile Bontron, de Le Monde, no UOL Notícias.
A cidade de Baotou, na Mongólia Interior, é o maior ponto chinês de produção desses materiais estratégicos, indispensáveis a qualquer indústria de alta tecnologia, desde os smartphones até os GPS, mas também às energias verdes, eólicas e sobretudo aos carros elétricos. Eles são extraídos da jazida de Bayan Obo, situada 120 quilômetros mais ao norte, de onde são encaminhados para cá, onde são tratados.
A concentração de terras-raras na rocha é na verdade muito pequena, e é preciso separá-las e refiná-las através de processos hidrometalúrgicos e de banhos de ácidos. A China realiza 97% da produção mundial, sendo que 70% são tratados em Baotou.
Nas águas turvas da bacia de afluentes, encontram-se todas as espécies de substâncias químicas tóxicas, mas também elementos radioativos, como tório, cuja ingestão provoca câncer do pâncreas, do pulmão e leucemia.
“Antes da chegada das usinas, havia somente campos aqui, a perder de vista! No lugar dessa lama radioativa, era possível ver melancias, berinjelas, tomates…”, suspira Li Guirong. Foi em 1958 –dez anos após seu nascimento, ele lembra –que a empresa estatal Baogang, número um nesse mercado, começou a produzir terras-raras. Então surgiu o lago. “No começo, não nos demos conta da poluição que era gerada. Como poderíamos saber?”, conta o velho camponês de rosto marcado por rugas. Secretário-geral da filial local do Partido Comunista, ele é uma das raras pessoas que ousam falar.
Ele relata que por volta do final dos anos 1980, os habitantes dos vilarejos vizinhos observaram estranhas anomalias em suas plantações: “As plantas não cresciam bem. Elas davam flores, mas às vezes sem frutos, ou então pequenos e de mau cheiro.” Dez anos mais tarde, ele teve de se resignar: os legumes não nasciam mais.
No vilarejo de Xinguang Sancun, assim como em todos os que cercam as usinas de Baotou, os camponeses abandonaram alguns campos, e no restante agora só plantam trigo e milho. Um estudo da secretaria municipal de proteção ambiental lhes revelou, afinal, que as terras-raras eram a fonte de seus problemas. As terras-raras, mas também as dezenas de novas usinas que brotaram em torno das instalações de tratamento, que fornecem produtos diversos, bem como uma usina elétrica a carvão que alimenta o novo tecido industrial de Baotou, autoproclamada “capital mundial das terras-raras”. Além dos vapores de solventes, sobretudo de ácido sulfúrico, os moradores respiram a poeira de carvão que entra em suas casas.
De alguns anos para cá, a poluição ambiente se acentuou, uma vez que o solo e os lençóis freáticos ficaram saturados de produtos tóxicos. Cinco anos atrás, Li teve de se desfazer de seus porcos doentes, últimos sobreviventes de um pequeno rebanho de vacas, cavalos, galinhas e cabras, dizimados por esses venenos.
Os camponeses fugiram. Hoje, em Xinguang Sancun, a maior parte das pequenas casas de tijolos escuros, aglutinadas umas às outras, estão caindo aos pedaços. Em dez anos, o vilarejo passou de 2 mil para 300 habitantes.
Lu Yongqing, 56, faz parte dos primeiros que partiram. “Eu não conseguia mais alimentar minha família”, ele conta. Ele tentou a sorte em Baotou, como pedreiro e depois carregador de tijolos em uma fábrica, antes de ir vender legumes nos mercados, complementando com bicos. “Nunca tive contrato fixo”, ele diz. Mantidos no status de camponeses que figura em seu registro de família, os refugiados de Xinguang Sancun se tornaram cidadãos de segunda classe, fadados à exploração.
Os que permaneceram no vilarejo, diversas vezes dividido e redesenhado de acordo com as instalações das usinas e da redistribuição agrária, costumam se encontrar perto da sala de mah-jong. “Tenho dor nas pernas como muita gente do vilarejo. Muitos também sofrem de diabete, osteoporose, problemas pulmonares. Nenhuma família é poupada pelas doenças”, afirma He Guixiang, firme no meio da reunião.
Essa sexagenária conhece bem as múltiplas consequências da contaminação por ter feito parte dos representantes de Xinguang Sancun que ousaram levar as queixas dos moradores junto ao governo local. “Faz vinte anos que bato na porta das autoridades,” ela diz. “No início, eu ia todos os dias, menos no domingo!”
De tanto que lutaram, os moradores acabaram conseguindo promessas de indenizações financeiras… que só foram parcialmente cumpridas. Foram prometidas também novas moradias. A alguns quilômetros a oeste de Xinguang Sancun, vemos torres bem ordenadas. Elas foram construídas com uma indenização paga pela empresa Baogang ao governo local. Mas os prédios estão desertos. Em cinco anos, dos 5 mil ocupantes previstos – eles viriam dos cinco vilarejos próximos do escoadouro – , nenhum se mudou. Isso porque o governo exige que eles comprem um direito de concessão sobre suas moradias, que eles não poderão deixar para seus filhos.
O velho Li Guirong, He Guixiang e todos aqueles que não puderam ir embora sobrevivem somente das poucas indenizações que a empresa lhes concedeu, além de uma magra pensão. Alguns tentaram vender os resíduos do lago, ainda muito ricos em terras-raras, para as usinas de tratamento. Dessa forma eles ganharam 2 mil yuans (pouco mais de R$ 617) por tonelada. Mas, de alguns meses para cá, o Estado passou a privá-los desse recurso. Um dos revendedores está sendo processado e pode ser condenado a mais de dez anos de cadeia.
Tradutor: Lana Lim
EcoDebate, 24/07/2012
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Serviço Florestal Brasileiro,: no NE, 94% da lenha é ilegal, cortada e queimada sem qualquer tipo de controle

Carvão ilegal. Foto de arquivo MMA

Carvão ilegal. Foto de arquivo MMA
No calor da indústria do gesso, a ruína da caatinga no Nordeste – Em toda a região, 30% das empresas usam lenha como fonte de energia; adesão a planos de manejo ainda é baixa
No Araripe, na divisa de Pernambuco com Piauí, está o maior polo gesseiro do país. Com o incentivo à construção civil, as fábricas estão a pleno vapor e respondem por 95% da produção nacional. A notícia é boa. Mas o sertão nordestino, que a maioria só ouve falar em tempo de seca, segue palco de contradições. Os fornos das fábricas são, em maioria, movidos a lenha. É assim também em boa parte do polo têxtil de Toritama, em Pernambuco, onde as caldeiras que tingem tecidos fervem sob estalos de madeira, ou no Seridó, entre Rio Grande do Norte e Pernambuco, onde olarias produzem tijolos e telhas para toda a região. No Nordeste, hoje, 30% das empresas usam a lenha como fonte de energia. Matéria de Cleide Carvalho, em O Globo, socializada pelo ClippingMP.
Por ano, são queimados 25 milhões de metros cúbicos de lenha no Nordeste, o que equivale a desmatar 2.500 km2, mais que o dobro da cidade do Rio de Janeiro. Pouca gente se incomoda com isso. Primeiro porque não se tem outra fonte de energia barata. O problema, como diz o sertanejo, é que não se planta um pau. O que queima nos fornos é lenha nativa e, pela lei, 20% da mata de caatinga deveriam ser preservados em cada propriedade. No restante o desmate é permitido, com autorização. Mas ninguém leva em conta. Segundo o Serviço Florestal Brasileiro, 94% da lenha é ilegal, cortada e queimada sem qualquer tipo de controle.
Numa região onde o sol esturrica o solo, o risco é a desertificação. O Nordeste possui hoje quatro núcleos de desertificação, onde a terra, explorada sem qualquer preocupação em preservar alguma coisa, ficou quase estéril. São 18.432 km2 na região do Seridó (RN e PB), Irauçuba (CE), Gilbués (PI) e Cabrobó (PE). Pelo menos outros 98 mil km2 são considerados em situação muito grave pelo Programa de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos na América do Sul, o que equivale a 10% do semiárido.
Este ano, o Ibama já realizou várias operações para conter o desmatamento ilegal na caatinga. Na Paraíba, onde Cariri e Curimataú são as áreas mais degradadas, foram embargados 195,5 hectares em 23 propriedades. No Oeste da Bahia, foram apreendidos mourões, estacas e carvão vegetal ilegais. No sertão do Araripe, em Pernambuco, o embargo atingiu 547 hectares durante a Operação Borborema, em desmate ilegal nos municípios de Ouricuri, Granito e Arcoverde, onde a lenha abastece fornos de produção de gesso.
Falar em semiárido e caatinga é quase sobrepor mapas. A caatinga ocupa 850 mil km2 em nove estados – 11% do território brasileiro. Apenas 5%, ou 85 mil km2, são Áreas de Proteção Permanente, segundo dados do Serviço Florestal Brasileiro, ligado ao Ministério do Meio Ambiente.
Apesar de o bioma caatinga ser pouco estudado, sabe-se que reúne cerca de 930 espécies de plantas, 148 de mamíferos e 510 de aves. A região abriga 30 milhões de pessoas, recebendo o título de semiárido mais habitado do planeta.
Assim como os animais, as plantas são fortes. Se cortada a 30 centímetros do chão, mesmo com pouca chuva, a mata começa a rebrotar em nove meses. Mas, mesmo assim, para que a caatinga não vire deserto, seria necessário que o corte, numa mesma área, fosse feito a cada 15 anos. O drama do Serviço Florestal Brasileiro, responsável por disseminar o manejo na região, é que, além do desmate, as criações de gado, ovino e caprino também estão dizimando a flora. Os brotos, quando despontam, são comidos pelos animais.
- Todas as fazendas no sertão tem uma carga animal maior do que poderia ter – diz Frans Pareyn, da ONG Associação Plantas do Nordeste.
Para se ter uma ideia, para que a caatinga não fosse degradada, cada hectare de terra com mata nativa poderia comportar de 10 a 12 cabeças de gado. Se a caatinga já estiver raleada ou rebaixada (quando corta a árvore e mantém o toco, para que rebrote), esse número cai para algo entre dois e quatro.
Com a mudança climática mundial, a seca na caatinga só tende a piorar. Este ano, praticamente não choveu. Se há água de cisternas para beber, falta para os animais e para irrigação, o que perpetua a pobreza. Sem cultivo e sem animal, o sertanejo vende o que sobra. E, na maioria dos casos, o que sobra é a lenha. O preço, que na indústria chega a R$ 30 o metro cúbico, na propriedade não passa de R$ 10. O ganho fica no transporte.
A meta do governo é implantar o manejo florestal em uma área equivalente a 7% do bioma.
- A lenha da caatinga sobrevive à seca e, mesmo com atravessador, rende um bom dinheiro. É por isso que precisa ter o manejo – alerta Newton Barcellos, chefe da Unidade Regional Nordeste do Serviço Florestal Brasileiro.
Desde 2006, o Ministério do Meio Ambiente financia programas de manejo, mas a adesão ainda é baixa. Este ano, os recursos são maiores e somam R$ 8 milhões. O Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal (FNDF) e o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (FNMC) trabalham para implantar o manejo na região do Seridó, Médio Sertão e Cariri Ocidental, na Paraíba, e do Sertão do Apodi, no Rio Grande do Norte. Além de ensinar a técnica aos agricultores, é preciso incentivar e financiar indústrias na modernização de fornos para gerar o mesmo calor, com menos lenha.
EcoDebate, 24/07/2012
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Resíduos Sólidos de Fast Food, artigo de Antonio Silvio Hendges



Lixo de fast food despejado em rua de São Paulo. Foto de Jesiane Queiroz/vc repórter, no Portal Terra
Lixo de fast food despejado em rua de São Paulo. Foto de Jesiane Queiroz/vc repórter, no Portal Terra[EcoDebate] Alimentos são todas as substâncias ou misturas naturais ou processadas que ingeridas pelos organismos biológicos garantem a estes organismos a energia, a água, os micro e os macronutrientes necessários ao desenvolvimento dos processos indispensáveis à vida e reprodução. Uma das formas atuais dos seres humanos ingerirem alimentos é através da ingestão de pratos de preparo e consumo rápidos, ricos em sódio, gorduras e carboidratos servidos em locais exclusivos para este tipo de alimentação, seja em shoppings centers onde se concentram vários restaurantes que utilizam uma única área de alimentação, ou em lugares específicos distribuídos no espaço urbano de acordo com os diversos empreendimentos e/ou franquias específicas. Os maiores consumidores de fast food são as classes média e alta e este hábito de consumo aumenta com a melhoria do poder aquisitivo e da capacidade de consumo da população, mas mesmo em crises econômicas ainda mantém um mercado expressivo.
As atividades de recebimento de mercadorias, armazenamento, preparo e comercialização dos alimentos geram resíduos sólidos orgânicos e inorgânicos durante os processos necessários aos ciclos de consumo pelas empresas e clientes que utilizam seus produtos. Estes resíduos possuem características específicas que podem ser associadas ao consumo de alimentos rápidos, sendo necessário considerarem-se estas especificidades nas atividades de gerenciamento dos resíduos sólidos produzidos por estes empreendimentos, que de acordo com a Lei 12.305/2010, artigo 20, inciso II, b, é responsabilidade dos geradores, ou seja, das empresas que preparam e comercializam alimentos tipo fast food.
Os resíduos inorgânicos das praças de alimentação são compostos por embalagens de papelão, vidro, isopor ou poli estireno (PS), copos e garrafas descartáveis de poli tereftalato etileno (PET) e outros plásticos utilizados na conservação e embalagem dos alimentos como o polietileno (PE), propileno (PP), poli cloreto de vinila (PVC), papéis como toalhas e guardanapos. Dos plásticos, o PET representa a maior quantidade descartada. Os resíduos orgânicos originam-se durante os processos de preparação dos alimentos e nas sobras do consumo pelos clientes. Importante destacar que os estabelecimentos de fast food também produzem alimentos embalados para consumo longe das praças próprias, em viagens ou por consumidores que se deslocam nos espaços urbanos. Estes também produzem resíduos que geralmente são descartados em territórios amplos e nem sempre de modo adequado. O planejamento da gestão dos resíduos deve considerar esta característica específica destes produtos.
Em um estudo de caso realizado na cidade de São Paulo/SP em 2007 em uma franquia da McDonald’s foram identificadas as quantidades percentuais e a composição gravimétrica dos resíduos sólidos gerados nas atividades durante o período de uma semana.
MaterialTipoPeso (cozinha)Peso (salão)Peso (total)Peso
(%)
Caixas em geralPapelão-42 kg42 kg19 %
Embalagens, bandejasPapel misto8 kg50 kg58 kg26 %
Copos de refri, sucosPapel2 kg9 kg11 kg5 %
Latas de molhoPapel2 kg--1 %
Copos e canudosPlástico PP-2 kg2 kg1 %
Talheres e tampasPlástico PS1 kg4 kg5 kg3 %
Outros plásticosAparas, sacos de lixo3 kg8 kg11 Kg5%
Resíduos orgânicosRestos de alimentos49 kg38 kg87 kg40 %
Total65 kg154 kg219 kg
Tabela 1 – Porcentagem dos materiais coletados para análise gravimétrica,
McDonald’s, 2007 – São Paulo/SP.
Observa-se que os resíduos inorgânicos são gerados principalmente nas atividades de consumo dos alimentos na praça de alimentação, enquanto que os orgânicos têm como principal fonte de geração a cozinha onde são preparadas as refeições com uma expressiva contribuição das sobras de alimentos descartadas pelos clientes. Outro destaque é a diminuição dos resíduos orgânicos e aumento dos inorgânicos em relação à composição gravimétrica do conjunto dos resíduos produzidos no país que é de aproximadamente 51,4% de orgânicos, 31,9% de inorgânicos recicláveis e 16,7% com outras tipologias.
A gestão dos resíduos de fast food requer a capacitação dos trabalhadores para o aproveitamento máximo dos alimentos durante a preparação, planejando-se inclusive a diminuição dos excessos que serão descartados pelos consumidores. Neste sentido, estes podem ser informados sobre as políticas de responsabilidade ambiental e social da empresa através de programas de educação ambiental direcionados, sendo incentivados a colaborarem com o destino ambiental correto dos restos de alimentos e embalagens. A disponibilidade de locais adequados e identificados para a disposição dos resíduos também é essencial para que os consumidores colaborem, inclusive retornando as embalagens e outros itens que são levados para consumo fora dos estabelecimentos principais.
As parcerias com cooperativas legais, dentro das normas e padrões ambientais pode ser uma solução interessante para a gestão dos resíduos destas atividades. A racionalização, redução, reutilização e reciclagem (4 Rs) é uma metodologia que aplicada nas atividades de fast food permite uma melhoria na lucratividade dos empreendimentos e nas relações sociais com seus consumidores e comunidade em geral.
Referências:
- Perfil do Gerenciamento de Resíduos Alimentares dos Fast Food do Shopping da Cidade de Dourados/MS Josiane Barbosa Dutra Vidmantas, Cleide Adriane Signor Tirlone, Perla Loureiro, Regina Aparecida do Nascimento. III Simpósio Brasil-Japão em Sustentabilidade. 08-12/10/2010, Campo Grande/MS.
- Processo de Gestão de Resíduos nas Embalagens de Pós-Consumo: Estudo de Caso McDonald’s Estudantes das Universidades Castelo Branco e Paulista, São Paulo, Brasil. 3º International Workshop Advances in Cleaner Production. 18-20/05/2011, São Paulo/SP.
Antonio Silvio Hendges, Articulista do Portal EcoDebate, é Professor de biologia, assessoria em resíduos sólidos, educação ambiental e tendências ambientais. Emails:as.hendges@gmail.com e cenatecltda@hotmail.com.
EcoDebate, 24/07/2012
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