Os fabricantes mundiais de equipamentos solares, que passam por maus momentos nos EUA, na Europa e até na China, depositam suas esperanças no mercado brasileiro, onde os investimentos em energia solar deverão quadruplicar neste ano.
Por ser até três vezes mais cara que as energias eólica e hidráulica, a geração solar não decolou no País até hoje. No entanto, os incentivos concedidos pela Agência Nacional de Energia (Aneel), além da queda de 70% nos preços dos painéis ao longo dos últimos anos, viabilizam o investimento em novos projetos. Matéria no Valor Econômico, socializada peloJornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4542.
O setor contará ainda com uma poderosa vitrine, a Copa Mundo de 2014. Entre os estádios que terão painéis solares estão o Maracanã (RJ), Mané Garrincha (DF), Arena Pernambuco (PE) e Itaquerão (SP), cujos contratos começam a ser disputados pelos fornecedores.
Com os novos investimentos, o Brasil deve chegar até o fim de 2012 com uma capacidade de geração solar de 20 a 30 MW, prevê Alexandre Borin, gerente da subsidiária brasileira do grupo LG, que importa painéis da Coreia. Hoje, o Brasil possui só 7 MW instalados desse tipo de energia. Mas o grande salto deve ocorrer em 2013, quando os sistemas das distribuidoras e as licitações dos estádios estiverem concluídos, diz Borin.
A Bioenergy, que possui parques eólicos no Rio Grande Norte, testará o mercado no dia 7 de agosto, quando fará o primeiro leilão do País de energia solar no mercado livre. A energia será vendida por R$ 250 por MWh, um dos mais baixos preços já oferecidos. Nos últimos leilões do governo, porém, a energia eólica foi comercializada em torno de R$ 100 o MWh. “Muitas companhias dizem que são verdes, mas se recusam a pagar um centavo a mais por uma energia mais limpa”, diz Sérgio Marques, presidente da Bioenergy. Segundo ele, a energia solar não deveria ser comparada à eólica e hidráulica, mas à térmica a diesel, que chega a custar R$ 600 o MWh.
Um dos grandes atrativos para o leilão da Bioenergy foi o desconto concedido pela Aneel de 80% na tarifa cobrada pelo uso do sistema de distribuição (Tusd) para a energia solar. Com esse incentivo, a energia sairá para os consumidores por R$ 480 ou R$ 500 o MWh, preço semelhante ao da energia convencional, diz Marques.
O custo normal da Tusd varia de R$ 120 a R$ 70 o MWh e depende de cada distribuidora. A resolução da Aneel foi publicada há cerca de 60 dias e não é válida para a energia eólica, diz Marques. A energia vendida no leilão virá de um parque solar que está sendo construído pela Bioenergy na Bahia e que ficará pronto em 2013. A capacidade de geração do parque, que foi projetado em lotes de 0,5 MW, vai depender da demanda no leilão, diz Marques, mas a expectativa do executivo é vender entre 1 e 3 MW.
O “boom” da energia solar está atraindo novos fornecedores para o País, como a belga Windeo, que faturou 50 milhões de euros no ano passado. A empresa fornece sistemas de pequeno porte de geração de energia solar e prevê um forte crescimento na demanda por parte de hotéis, resorts, restaurantes, shoppings e lojas, afirma Alexandre Bretzner, diretor operacional da Windeo no Brasil.
O preço dos painéis solares, contudo, ainda são proibitivos para um consumidor comum. O kit de 1 KW da Windeo custa R$ 15 mil. Ainda assim, diz Bretzner, o preço é “altamente competitivo”. “O Brasil ainda não oferece linhas de crédito acessíveis para a instalação de sistemas solares. E financiamento será crucial”, diz o executivo.
Apesar dos obstáculos que ainda existem para a massificação da energia solar, as resoluções publicadas neste ano pela Aneel são consideradas um avanço. “O desenvolvimento de energias renováveis dependem de um tripé: marco regulatório, incentivos fiscais/subsídios e financiamento”, afirma o consultor da Ernst & Young, Luiz Claudio Campos. Segundo um estudo da E&Y, a energia solar será a bola da vez no Brasil, enquanto a energia eólica terá desafios pela frente.
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), os painéis solares fotovoltaicos custavam 4,2 euros por watt-pico (Wp), unidade que mede a potência de equipamentos, no ano 2000. Esse preço caiu para 1,2 euros o Wp no ano passado. No Brasil, o custo da instalação do painel é de R$ 15/Wp. “O custo dos painéis deve cair entre 10% e 15% este ano e entre 30% e 40% nos próximos anos. Além da redução do custo, a eficiência está aumentando. O painel tem hoje cerca de 15% de eficiência, mas, na Alemanha, já há registros da ordem de 40%”, afirma Carlos Faria Café, diretor da Metasolar, integradora de sistemas fotovoltaicos.
A empresa inicia nesta semana a instalação de painéis solares no teto da Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro. O projeto, contratado pela Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro e a Light, contará com R$ 550 milhões provenientes da lei de incentivo à cultura e do programa de eficiência energética da distribuidora fluminense. Os painéis serão fornecidos pela LG.
EcoDebate, 19/07/2012