terça-feira, 24 de julho de 2012

Resíduos Sólidos de Fast Food, artigo de Antonio Silvio Hendges



Lixo de fast food despejado em rua de São Paulo. Foto de Jesiane Queiroz/vc repórter, no Portal Terra
Lixo de fast food despejado em rua de São Paulo. Foto de Jesiane Queiroz/vc repórter, no Portal Terra[EcoDebate] Alimentos são todas as substâncias ou misturas naturais ou processadas que ingeridas pelos organismos biológicos garantem a estes organismos a energia, a água, os micro e os macronutrientes necessários ao desenvolvimento dos processos indispensáveis à vida e reprodução. Uma das formas atuais dos seres humanos ingerirem alimentos é através da ingestão de pratos de preparo e consumo rápidos, ricos em sódio, gorduras e carboidratos servidos em locais exclusivos para este tipo de alimentação, seja em shoppings centers onde se concentram vários restaurantes que utilizam uma única área de alimentação, ou em lugares específicos distribuídos no espaço urbano de acordo com os diversos empreendimentos e/ou franquias específicas. Os maiores consumidores de fast food são as classes média e alta e este hábito de consumo aumenta com a melhoria do poder aquisitivo e da capacidade de consumo da população, mas mesmo em crises econômicas ainda mantém um mercado expressivo.
As atividades de recebimento de mercadorias, armazenamento, preparo e comercialização dos alimentos geram resíduos sólidos orgânicos e inorgânicos durante os processos necessários aos ciclos de consumo pelas empresas e clientes que utilizam seus produtos. Estes resíduos possuem características específicas que podem ser associadas ao consumo de alimentos rápidos, sendo necessário considerarem-se estas especificidades nas atividades de gerenciamento dos resíduos sólidos produzidos por estes empreendimentos, que de acordo com a Lei 12.305/2010, artigo 20, inciso II, b, é responsabilidade dos geradores, ou seja, das empresas que preparam e comercializam alimentos tipo fast food.
Os resíduos inorgânicos das praças de alimentação são compostos por embalagens de papelão, vidro, isopor ou poli estireno (PS), copos e garrafas descartáveis de poli tereftalato etileno (PET) e outros plásticos utilizados na conservação e embalagem dos alimentos como o polietileno (PE), propileno (PP), poli cloreto de vinila (PVC), papéis como toalhas e guardanapos. Dos plásticos, o PET representa a maior quantidade descartada. Os resíduos orgânicos originam-se durante os processos de preparação dos alimentos e nas sobras do consumo pelos clientes. Importante destacar que os estabelecimentos de fast food também produzem alimentos embalados para consumo longe das praças próprias, em viagens ou por consumidores que se deslocam nos espaços urbanos. Estes também produzem resíduos que geralmente são descartados em territórios amplos e nem sempre de modo adequado. O planejamento da gestão dos resíduos deve considerar esta característica específica destes produtos.
Em um estudo de caso realizado na cidade de São Paulo/SP em 2007 em uma franquia da McDonald’s foram identificadas as quantidades percentuais e a composição gravimétrica dos resíduos sólidos gerados nas atividades durante o período de uma semana.
MaterialTipoPeso (cozinha)Peso (salão)Peso (total)Peso
(%)
Caixas em geralPapelão-42 kg42 kg19 %
Embalagens, bandejasPapel misto8 kg50 kg58 kg26 %
Copos de refri, sucosPapel2 kg9 kg11 kg5 %
Latas de molhoPapel2 kg--1 %
Copos e canudosPlástico PP-2 kg2 kg1 %
Talheres e tampasPlástico PS1 kg4 kg5 kg3 %
Outros plásticosAparas, sacos de lixo3 kg8 kg11 Kg5%
Resíduos orgânicosRestos de alimentos49 kg38 kg87 kg40 %
Total65 kg154 kg219 kg
Tabela 1 – Porcentagem dos materiais coletados para análise gravimétrica,
McDonald’s, 2007 – São Paulo/SP.
Observa-se que os resíduos inorgânicos são gerados principalmente nas atividades de consumo dos alimentos na praça de alimentação, enquanto que os orgânicos têm como principal fonte de geração a cozinha onde são preparadas as refeições com uma expressiva contribuição das sobras de alimentos descartadas pelos clientes. Outro destaque é a diminuição dos resíduos orgânicos e aumento dos inorgânicos em relação à composição gravimétrica do conjunto dos resíduos produzidos no país que é de aproximadamente 51,4% de orgânicos, 31,9% de inorgânicos recicláveis e 16,7% com outras tipologias.
A gestão dos resíduos de fast food requer a capacitação dos trabalhadores para o aproveitamento máximo dos alimentos durante a preparação, planejando-se inclusive a diminuição dos excessos que serão descartados pelos consumidores. Neste sentido, estes podem ser informados sobre as políticas de responsabilidade ambiental e social da empresa através de programas de educação ambiental direcionados, sendo incentivados a colaborarem com o destino ambiental correto dos restos de alimentos e embalagens. A disponibilidade de locais adequados e identificados para a disposição dos resíduos também é essencial para que os consumidores colaborem, inclusive retornando as embalagens e outros itens que são levados para consumo fora dos estabelecimentos principais.
As parcerias com cooperativas legais, dentro das normas e padrões ambientais pode ser uma solução interessante para a gestão dos resíduos destas atividades. A racionalização, redução, reutilização e reciclagem (4 Rs) é uma metodologia que aplicada nas atividades de fast food permite uma melhoria na lucratividade dos empreendimentos e nas relações sociais com seus consumidores e comunidade em geral.
Referências:
- Perfil do Gerenciamento de Resíduos Alimentares dos Fast Food do Shopping da Cidade de Dourados/MS Josiane Barbosa Dutra Vidmantas, Cleide Adriane Signor Tirlone, Perla Loureiro, Regina Aparecida do Nascimento. III Simpósio Brasil-Japão em Sustentabilidade. 08-12/10/2010, Campo Grande/MS.
- Processo de Gestão de Resíduos nas Embalagens de Pós-Consumo: Estudo de Caso McDonald’s Estudantes das Universidades Castelo Branco e Paulista, São Paulo, Brasil. 3º International Workshop Advances in Cleaner Production. 18-20/05/2011, São Paulo/SP.
Antonio Silvio Hendges, Articulista do Portal EcoDebate, é Professor de biologia, assessoria em resíduos sólidos, educação ambiental e tendências ambientais. Emails:as.hendges@gmail.com e cenatecltda@hotmail.com.
EcoDebate, 24/07/2012

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