“Deve haver outra coisa, na vida, além de lutar por uma simples cabeça de peixe.” (do livro “Fernão Capelo Gaivota” – Richard Bach) – Foto: Paramount Brasil
[EcoDebate] Tem tanta gente que sai da fase adolescente, repetindo, para o resto da vida, que quer liberdade. Não quer. O que deseja mesmo é permissão, concessão, qualquer coisa assim, que venha do outro. Se depende do outro, para ser livre, já não há mais espaço à liberdade.
Liberdade é amarga – amarga liberdade. Não é pra qualquer um, não. Nem adianta espernear, ou jogar-se no corredor do shopping. Liberdade, na minha insignificante, mas pensada, opinião, é essencialmente solitária. E isso a maioria não quer mesmo. O adolescente, depois chamado adulto, quer liberdade, para vestir o que bem entende, maquiar-se, pentear-se a seu modo, comer só o que mais gosta, sair a qualquer hora, com quem quiser, etc etc etc. Quem não quer?… Não. Definitivamente, isso não é liberdade.
Em algum tempo da nossa vida, ensinaram-nos – talvez, continuamos ensinando outros – que liberdade é isso, só isso: ter a permissão de alguém para viver o que deseja, mesmo momentaneamente. Se isso fosse mesmo liberdade, teria definição (poderia ser até minha frase anterior). Não. Liberdade – liberdade mesmo –, que nem sabemos ansiar, por desconhecermos, é indefinível, ilimitada, não cabe em palavras, nem mesmo nos textos poéticos e emocionantes.
Minha liberdade vai, até onde começa a do outro?… Então, não sou livre. Em todo tempo da minha vida, esbarro no outro, em muitos outros. Alguns dependem de mim. De outros, eu dependo. Sou menos livre ainda. De quanta gente dependemos: artistas, professores, babás, advogados, motoristas, cozinheiros, cientistas, padeiros, vendedores, empresários, catadores de lixo reciclável, mecânicos, técnicos, engenheiros, pilotos, policiais, pedreiros, médicos, camelôs, etc e tal.
Seguindo este meu raciocínio (dá licença?), acho que o que nos resta mesmo é parar de “tapar o sol com a peneira”, deixar de lado esses discursinhos bem decorados, abandonar os livrinhos de autoajuda, e assumir que, se liberdade existe mesmo, estamos longe dela, ou ela distante de nós. Definitivamente, o que ensaiamos parecer liberdade é justamente o que nos torna prisioneiros de conceitos e preconceitos. Liberdade não é pra ser explicada – só sentida.
…E ainda insistem em gritar: liberdade!… irônico isso, não acha?…
Nara França é jornalista gaúcha, tendo sempre trabalhado em redação de jornal, e hoje atuando em entidades sindicais e movimentos sociais, no sul do Brasil. Também, mantém o bloguehttp://ironia-cronica.blogspot.com.br/
EcoDebate, 06/07/2012